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Crítica | Uma Mulher Alta

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Dylda Uma Mulher Alta é o filme russo que corre para lutar pelo Oscar. Crítica no Vivente Andante.

Uma Mulher Alta, com lançamento previsto para 12 de dezembro de 2019, se passa na fria e acromática cidade de Leningrado (Rússia). Mais especificamente, no primeiro outono do ano de 1945, logo após o fim da Segunda Grande Guerra. O diretor, Kantemir Balagov, ganhou o prêmio de melhor direção na categoria Un Certain Regard no Festival de Cannes pela película. Ademais, será a representante da Rússia no Oscar 2020 na categoria de Melhor Filme Internacional. O longa é inspirado no livro “A guerra não tem rosto de mulher”, de Svetlana Aleksiévitch, escritora e jornalista bielorrussa vencedora do Nobel de Literatura de 2015. O livro em questão foi lançado em 1985 e é baseado em entrevistas de mais de duzentas mulheres que participaram da Segunda Guerra Mundial.

A história gira em torno de Iya (Viktoria Miroshnichenko), enfermeira no hospital da cidade, também conhecida como “grandona”. Iya é uma mulher doce e ingênua que foi profundamente afetada pelo conflito armado, de maneira a desenvolver uma espécie de paralisia que pontualmente a acomete. Nesse estado ela não ouve nada do que acontece ao seu redor, tampouco consegue se mover. Aliás, essa última característica é fundamental para o desenrolar da trama. Durante os anos no front, Iya fez amizade com Masha (Vasilisa Perelygina), uma mulher intensa, astuta e manipuladora que sofreu muito com a guerra e que traz no corpo as cicatrizes disso. Um de seus maiores desejos é ser mãe e fará de tudo para conseguir o que deseja.

Aspectos Técnicos

Um dos aspectos técnicos que mais chama a atenção no longa é o uso do close como recurso fotográfico. Essa opção faz com que o espectador se sinta muito mais próximo dos personagens e da história como um todo, o que deixa o filme ainda mais íntimo e envolvente. Além disso, o uso das cores também merece atenção. Considerando que a trama se passa na União Soviética, comunista, onde todos vestem as mesmas roupas, os mesmos sapatos e os mesmos casacos, os personagens em geral são vistos usando uniformes militares ou roupas de algodão cru, sem detalhes.

Entretanto, existe um ponto de virada na trama no qual as personagens vão se subjetivando e se enxergando como indivíduos, o que transparece nas roupas que usam. Iya passa então a estar quase sempre vestindo peças de cor verde, enquanto Masha tem uma ligação com o vermelho. Mas isso vai se alterando com o desenrolar da história, o que parece indicar uma transformação na relação entre as duas. Uma confusão de essências, amor, talvez.

Uma Mulher Alta é, enfim, um filme notável. Não apenas pela direção brilhante de Kantemir Balagov, mas também pela trama em si, que fomenta a reflexão sobre a essência humana, os sonhos, os desejos, os medos e os anseios. Inclusive, também é uma ode ao feminino, à coragem, à bravura e à resiliência de tantas e tantas mulheres que tiveram suas vidas e destinos alterados para sempre pela guerra.

Título original: Dylda

Distribuição: Supo Mungam Films

Data de estreia: quinta, 12/12/19

País: Rússia

Gênero: drama

Ano de produção: 2019

Duração: 130 minutos

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Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas, com Cida Bento e Daniel Munduruku | Assista aqui

Veja o filme que aborda ações afirmativas e o racismo na ciência num diálogo contundente

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Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku

Na última quinta-feira (23), fomos convidados para o evento de lançamento do curta-metragem Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku. Aconteceu no Museu da República, no Rio de Janeiro.

Após a exibição um relevante debate ocorreu. Com mediação de Thales Vieira, estiveram presentes Raika Moisés, gestora de divulgação científica do Instituto Serrapilheira; Luiz Augusto Campos, professor de Sociologia da UERJ e Carol Canegal, coordenadora de pesquisas no Observatório da Branquitude. Ynaê Lopes dos Santos e outros que estavam na plateia também acrescentaram reflexões sobre epistemicídio.

Futura série?

O filme é belo e necessário e mereceria virar uma série. A direção de Fábio Gregório é sensível, cria uma aura de terror, utilizando o cenário, e ao mesmo tempo de força, pelos personagens que se encontram e são iluminados como verdadeiros baluartes de um saber ancestral. Além disso, a direção de fotografia de Yago Nauan favorece a imponência daqueles sábios.

O roteiro de Aline Vieira, com argumento de Thales Vieira, é o fio condutor para os protagonistas brilharem. Cida Bento e Daniel Munduruku, uma mulher negra e um homem indígena, dialogam sobre o não-pertencimento naquele lugar, o prédio da São Francisco, Faculdade de Direito da USP. Um lugar opressor para negros, pobres e indígenas.

Jacinta

As falas de ambos são cheias de sabedoria e realidade, e é tudo verdade. Jacinta Maria de Santana, mulher negra que teve seu corpo embalsamado, exposto como curiosidade científica e usado em trotes estudantis no Largo São Francisco, é um dos exemplos citados. Obra de Amâncio de Carvalho, responsável por colocar o corpo ali e que é nome de rua e de uma sala na USP.

Aliás, esse filme vem de uma nova geração de conteúdo audiovisual voltado para um combate antirracista. É o tipo de trabalho para ser mostrado em escolas, como, por exemplo, o filme Rio, Negro.

Por fim, a parceria entre Alma Preta e o Observatório da Branquitude resultaram em uma obra pontual para o entendimento e a mudança da cultura brasileira.

Em seguida, assista Nenhum saber para trás:

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