Dirigido por Marcus Alqueres, Warden apresenta-se como mocumentário que busca oferecer um novo olhar sobre o gênero de super-heróis, mas acaba soando familiar demais.
Adaptações cinematográficas baseadas em quadrinhos são parte essencial do cinema contemporâneo. Com quase 20 anos de MCU (Marvel Cinematic Universe) e a recente consolidação do DCU (DC Cinematic Universe), a produção de filmes de super-heróis deve se manter recorrente por, pelo menos, mais algumas décadas. Entretanto, há um espaço crescente para obras que não seguem a cartilha tradicional, mas optam por satirizar, subverter ou refletir criticamente sobre o gênero, de Hancock (2008, Peter Berg) à Megamente (2010, Tom McGrath), passando por The Boys (2019, Eric Kripke) e O Doutrinador (2018, Gustavo Bonafé). É neste terreno que Warden busca se inserir.
A proposta é instigante: um super-herói brasileiro que vive em um mundo sem supervilões, mas repleto de corrupção e injustiça. Acompanhamos sua trajetória por meio de entrevistas e registros que, inicialmente, o mostram como cidadão exemplar e guardião da ordem. No entanto, conforme a narrativa avança, ele se transforma em uma figura autoritária, em um carcereiro de sua própria sociedade, explorando o duplo sentido de seu nome de herói.

Cena de Warden- Divulgação CineFantasy
Apesar do formato inovador, a história não entrega nenhum frescor real. Nos primeiros dez minutos já se antevê o desfecho, pois a jornada de um herói que se corrompe pelo poder tem sido repetidamente explorada em diversas mídias, de The Boys aos quadrinhos clássicos como Watchmen (1986, Alan Moore), Batman: GCPD (1996, Chuck Dixon) e O Reino do Amanhã (1996, Mark Waid).
No contexto brasileiro, as comparações são inevitáveis. O Doutrinador (2018), por exemplo, também parte da corrupção política como motor narrativo, mas adota uma estética de ação direta. Já Warden prefere a via reflexiva, embora sem alcançar o mesmo impacto cultural, ou lugar lúdico de um Cidade Invisível (2021, Carlos Saldanha), por exemplo, que demonstrou como é possível usar elementos mágicos para renovar o gênero fantástico e refletir sobre a sociedade atual, algo que Warden destaca ao retratar as mazelas da burocracia nacional, e da mídia perseguidora, porém, é tão perto de nosso dia a dia que não atrai nada de novo.
Tecnicamente, o filme se mantém dentro do padrão esperado de um mocumentário: edição simples, fotografia crua e entrevistas que, por vezes, parecem revelar informações que os personagens não teriam como saber naquele momento. Os efeitos especiais surpreendem positivamente ao retratar os poderes do herói, mas a atuação de Giovanni de Lorenzi falha em sustentar os momentos mais dramáticos, enfraquecendo a produção.

Giovanni de Lorenzi e Alli Willow em cena de Warden- Divulgação Oficial CineFantasy
Em última análise, Warden funciona melhor como um exercício de estilo e um presente para o público mais nerd, recheado de referências, ainda que tropece em deslizes, como confundir Central City, lar do Flash, com o universo do Lanterna Verde. Para quem não tem familiaridade com esse repertório, o resultado pode soar cansativo, se tornando uma produção que dialoga com a tradição de obras que desconstroem o super-herói, tanto no Brasil quanto fora dele, mas não oferece originalidade que sua proposta inicial prometia.
Warden foi o filme de abertura do 16º Festival CineFantasy, o evento ocorre entre os dias 02 e 14 de Setembro, no CCSP, Centro Cultural São Paulo, e a programação completa pode ser encontrada no site oficial.
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