A obra da diretora japonesa mais premiada e importante da atualidade sempre foi marcada por retratar relações familiares e sociais, e em MÃES DE VERDADE não é diferente. O longa tem, ao centro, uma história de adoção, e suas consequências, anos depois. O roteiro, da própria Kawase (Esplendor, Sabor da Vida, O segredo das águas), se baseia num romance de Mizuki Tsujimura, de 2015. Porém, o filme é co-escrito por Izumi Takahashi e An Tôn Thât.
“Por conta do destino, uma vida que não era para existir chega à vida de um casal que não podia ter filhos. Essa é uma história sobre criar o próprio destino, como, se, depois da chuva, uma luz radiante purificasse o mundo”, é definição que a diretora dá ao seu filme mais recente. A saber, para contar essa trama, o longa foi filmado em várias locações diferentes no Japão: numa ilha, na floresta, na cidade e num centro histórico. “Fizemos esse filme como se fosse uma lembrança de viagem através das estações do ano e personagens de cada lugar.”
MÃES DE VERDADE teve seleção para o Festival de Cannes, que, mesmo após seu cancelamento, anunciou os filmes que exibiria, dividindo-os em seções. O longa está na The Faithful (Os fiéis, em tradução livre), que comporta obras de diretoras e diretores que já tiveram ao menos um trabalho no festival antes. Além disso, o filme também esteve nos Festivais de San Sebastian, Chicago e Toronto. No Brasil, estreia na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que acontece de forma on-line entre 22 de outubro e 4 de novembro.
Protagonismo feminino
Como na maioria dos filmes da cineasta, as personagens principais são femininas, e aqui duas mulheres têm seus destinos ligados por uma adoção: uma delas se resignou a um futuro sem filhos, por conta da infertilidade do marido, e outra ficou gravida inesperadamente, e ama o filho profundamente, mas não o pode criar. A produtora do longa, Yumiko Takebe, define-o como “sobre as escolhas que essas personagens fazem, que se tornam um segredo bem guardado. E isso me trouxe muitas dúvidas e até sentimentos próximos da raiva [quando li o livro]. Essa história tem uma mensagem importante que fala ao mundo de hoje. Por isso acredito que esse era o momento de fazer o filme.”
Aliás, Kawase, por sua vez, conta que quando faz um longa, sempre há um momento no qual é a levada às lágrimas. “É quando o elenco habita completamente a vida dos personagens, e expressa emoções que vão para além do roteiro. Percebi que isso é algo precioso e raro. O elenco nesse filme está incrível – os personagens são pessoas completamente reais.”
Afinal, Ryan Lattanzio, da IndieWire, em sua crítica afirma que “Kawase junta todas as pontas de maneira bela no final.” Já Peter Bradshaw, do jornal inglês The Guardian, escreveu que admira “a estética feminina do filme e a interpretação profundamente comprometida da atriz principal”.