Márcia Rachid escreveu durante anos sobre situações que viveu no combate contra a AIDS no Brasil. Hoje, finalmente, esses escritos viraram o livro Sentença de Vida, recém-lançado pela editora Máquina de Livros. A médica infectologista cedeu entrevista para Alvaro Tallarico, aqui do Vivente Andante. A princípio, falou das complicações durante os anos 80, quando a doença surgiu. Cita os primeiros casos de AIDS, em 1981 nos EUA, e 1982, em São Paulo, Brasil. Contudo, explica como o vírus só foi descoberto em 1983. E, aliás, somente em 1985, o primeiro teste. “Poucas pessoas sabem a diferença de infecção pelo HIV e a doença propriamente dita”, afirma Márcia.
“Naquela época tudo era muito lento, a possibilidade e entender que doença que era aquela, que vírus causava e se era um vírus, como que era possível fazer o diagnóstico, como era possível confirmar… Então o medo provocava toda aquela reação que nós vimos, que gerava o preconceito”, declara a médica.
Pandemias
Ela explica como tudo isso criava muito medo, estigmas e discriminação. Posteriormente, traça um paralelo entre a COVID-19, o novo coronavírus, e a AIDS. Afinal, explica o que é uma pandemia, ou seja, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), quando há transmissão de pessoa a pessoa e acontece em múltiplos países e diversas regiões ao mesmo tempo. Por exemplo, ela cita a cólera, febre amarela, gripe espanhola, varíola, a própria AIDS e, atualmente, o novo coronavírus.
“Toda vez que surge uma nova doença, uma nova epidemia, percebemos que os comportamentos se repetem. Especialmente comportamentos que discriminam aqueles que se encontram em maior risco”, respondeu.
Além disso, Márcia explica como as pessoas acometidas pela doença são colocadas como culpadas pela existência dela – e acabam ficando isoladas. Ela fala sobre algumas das histórias presentes no livro, como “Mais Um Carnaval”, onde um paciente queria de qualquer forma ver o desfile das Escolas de Samba. Era uma noite de muita chuva e enchentes no Rio de Janeiro.
“Nenhuma pessoa o visitava, nenhuma pessoa frequentava a casa dele por ele ter o vírus da AIDS. Essas histórias incríveis aconteciam diariamente e posso dizer que, lamentavelmente, elas se repetem. Mesmo nos dias de hoje existem pessoas que ainda discriminam porque acreditam que é possível pegar HIV compartilhando objetos, ou algum tipo de situação de tomar uma água, um café, colocando a boca na mesma caneca, no mesmo copo”, explicou.
Com muita emoção, a doutora fala sobre a saudade e como os pacientes marcaram sua vida.
Por fim, ouça a entrevista completa com Márcia Rachid:
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