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Erê
CríticaCulturaEspetáculos

Espetáculo Infantil – Erê | Crítica teatral com Paty Lopes

Por
paty2606
Última Atualização 4 de agosto de 2023
13 Min Leitura
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foto: Juliane Rocha
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E o que é Erê? “É por meio do Erê que o Orixá expressa sua vontade, que o noviço aprende as coisas fundamentais do candomblé, como as danças e os ritos específicos de seu Orixá. A palavra erê vem do iorubá, erê, que significa “brincar”. Daí a expressão siré que significa “fazer brincadeiras”   .

Faz um tempo que a banda Cidade Negra, com a voz do imenso Tony Garrido, ganhou o Brasil inteiro com uma canção, de melodia gostosa, através do gênero musical jamaicano, o reggae, influenciado fortemente pela música tradicional africana. A canção chama-se Erê!  

A Jamaica se converteu num dos maiores centros do tráfico negreiro para a América do Sul, por isso os batimentos africanos são fortes na América Central! “Pra entender o erê Tem que tá moleque Uh! Erê, êê Tem que conquistar alguém Que a consciência leve”. 

Sesc Tijuca

No espetáculo que está em temporada no Sesc Tijuca, o Erê quer ir ao encontro da avó Benta, que está lá no Orum. Orum, no candomblé, se refere ao mundo dos espíritos. Isso eu aprendi faz muito pouco tempo. Ao assistir ao espetáculo pensei: como estamos mudando! Tenho quase cinquenta anos e cheguei a ter aula de religião na escola que estudei. Na verdade, essa aula deveria ser chamada de cristianismo, porque só era ensinado a vida de cristo, como se não houvessem outras religiões a serem ensinadas, como budismo, induísmo e tantas outras que existem por aí. Daí entende-se a intolerância religiosa!   Ao abrir as cortinas a indumentária encontra-se com a iluminação do espetáculo, o que chama muito a atenção do público, um tom quente, que prende nossos olhos.  

No primeiro ato, Júnior/personagem parece nascer para o mundo, esse nascimento me levou até o filme Macunaíma, reconhecido como um dos 100 melhores filmes brasileiros, interpretado pelo ator Grande Otelo, que já carrega no nome sua imensidão.   Junior Dantas abraça esses movimentos, e para nós admiradores das artes, já nos emocionamos com essa referência.   Em seguida, uma trilha musical é trazida, impossível não mencionar a trilha sonora, tanto a instrumental, quanto as composições letradas. São lindas e bem definidas para o público infantil. Essas concebidas por Lucas dos Prazeres e João Loroza. Lucas dos Prazeres, é um furacão musical, sou fã número um dele!  

O Pequeno Herói Negro

Junior Dantas é um excelente artista de teatro, seu monólogo infantil “O Pequeno Herói Preto“, é um deslumbre de obra, viajou longe, foi até sua origem, a África. Merecidamente! A obra é linda, artesanal, e fala a todos, crianças e adultos. Retrata com exatidão a vida do povo preto, uma realidade dura, mas com um olhar poético, tão bem executado que passamos a ver o mundo mais leve!  

O Pequeno Herói Preto
O Pequeno Herói Preto (divulgação)

Agora volta ao palco na caminhada para o Orum, com seu novo personagem que conta com a ajuda dos animais para  chegar aonde se almeja ir. Bom que saibam que a força da natureza é que comanda as religiões de matriz africana. O passarinho vem representado por um drone, as crianças adoram, ficam ouriçadas com a novidade, até mesmo a gente mais velhinho. A tartaruga, é uma mochila toda caracterizada, ela vagarosamente vai ao encontro do menino, para ajudá-lo a chegar no Orum, essa é toda desenhada por Ele! Essa letra maiúscula tem um motivo de ser.

Temos um gato, que mediante uma máscara divinamente desenhada por Ele, desalinha as crianças no palco, principalmente quando o ator convida o seu público a emitir a onomatopeia de um gato, os miados chegam com força, é miado para todo lado. Uma galinha D’Angola. A galinha é oriunda da África, mais que isso, tem mistificação ao redor dela.  

“Segundo a lenda, a galinha d’Angola, ganhou como ornamento, os pingos de chuva que foram resvalando em suas penas, transformando-a, como fora prometido, em uma das aves mais lindas de toda a África.”  

E como Ele trouxe essa galinha D’Angola ao palco? É de embasbacar qualquer um! Ele só não é um mito, porque mito não é uma realidade, e Ele existe! Uma saia com pintinhas brancas (botões), que ficam em evidência com a luz negra. Um desbunde!  

Guerreiro africano

O artista/personagem/menino encarna um guerreio africano para chegar no Orum, mais uma vez, Ele constrói um figurino lindíssimo, artesanal, com tanta riqueza de detalhes que eu não consigo se quer passar as informações.   Para terem ideia, Ele traz uma barra, que fica a cintura do artista com a textura de um tapete, é algo que fica difícil desenhar com palavras.   Ele se chama Wanderley Gomes, um homem humilde, que mesmo diante de tanta grandeza profissional, premiadíssimo, é humilde, tem suas escutas abertas para todos. Esse figurinista é excelso de dentro para fora, tudo nele é bem definido, um SER HUMANO! Eu me sinto literalmente acolhida ao lado dele!  

Gostaria de abrir um parênteses aqui, a importância da galinha D’Angola para os africanos. Elas falam sobre dos valores importantes, como o culto à tradição, a difusão da memória cultural entre descendentes e a importância que o africano dá em pertencer ao grupo (algo típico dos Griôs também), não vivendo solitariamente. Quem já viu esses animais percebe como fazem tudo juntas.  

Em Porto de Galinhas, no estado do Pernambuco, as encontramos de plástico, de madeira, de tecido, são comercializadas de todas as formas. Quando proibida a escravidão na Europa, Porto de Galinhas era o principal ponto de comércio de escravos ilegais no nordeste brasileiro. Por isso, os escravos vinham em situações lamentáveis em navios cargueiros, geralmente escondidos embaixo de engradados de galinhas d’Angola. O espetáculo é carregado de brasilidade, o que aplaudo de pé, porque o Brasil é isso, essa mistura de etnias, de raça. E assim devemos REAPRENDER quem somos!  

Cenografia

Reinaldo Patrícia foi o cenógrafo, o que falar? Primeiro, o personagem estava indo para Orum, que não é qualquer lugar! Os céus são lugares que nos levam a uma percepção diferenciada. Algo mais aparatoso, nada simplório ou ingênuo. Reinaldo, trouxe espelhos, que nos davam reflexos do artista no palco, onde quer que ele estivesse. E com os espelhos deu a esse Orum imponência, a ideia de um lugar ostentoso, afinal era o céu, lugar de deuses e deusas.   E quando esses espelhos se casam com a iluminação de Adriana Ortiz, ficamos perplexos, pois assistimos ao espetáculo com direito a efeitos. Efeitos de ondas do mar, por exemplo, na plateia, fantástico e inesquecível!  A iluminação é trabalhada todo tempo no espetáculo, se encontra com a galinha D’Angola, trazendo mais efeitos. É um trabalho muito bem-vindo da profissional, uma concepção artística belíssima, um show de luz.   Sai um pouco em dúvida quanto a conversa do personagem com um papagaio, pois não consegui ouvir o áudio de um bate-papo entre eles, o que foi uma pena.  

Quanto ao texto, tive dificuldades em entender algumas partes, às vezes muito filosófico, eu queria ter entendido mais. Ao menos entendi que o artista/personagem estava indo ao encontro da sua avó Benta, lá no céu dos orixás, no entanto, faltaram alguns detalhes que me chamaram a atenção, mas sem esclarecimento.  Enfim, isso não desmerece a obra, eu confesso que não leio a sinopse antes de assistir ao espetáculo. Gosto de ter meu olhar, de receber a mensagem genuinamente.  

É possível sentir o cheirinho de alecrim no final da apresentação, no mesmo momento que o ator vem a plateia, o que considerei  um ponto alto, porque o artista nos alcança e queremos ele perto.   Junior tem um excelente tom de voz, e movimento corporal, uma simpatia artística que o consagra. Penso que ele está preparado para tudo, seu préstimo ao teatro é de significância, seu corpo doado para cada cena, são legítimas e nunca desafiam o espectador quanto as dúvidas do seu fazer teatro. Ele é realmente bom no que faz, as obras infantis que apresentam encaixam muito bem nele.   Com a força dele, o aroma do alecrim enche o teatro. O alecrim é uma planta medicinal nativa da região do mediterrâneo entre a Ásia e o norte da África e cultivada pelo mundo inteiro.   Na umbanda, a planta tem propriedades de descarrego e de proteção, expulsando a inveja, o mau-olhado, as energias negativas e as ameaças ao campo energético de uma pessoa.    

“Milhões de anos-luz podem durar
O que alguns segundos na vida
Podem representar
O erê é a criança
Sincera convicção
Fazendo a vida como o sol nos traz Você sabe
Que o sentimento não trai
Um bom sentimento não trai”

A criança teve notícias da avó, exatamente como canta a canção, porque um bom sentimento não trai, mas para você entender o Erê tem que estar moleque…  

Ficha Técnica

Texto: Jaciana Melquiades e Leandro Melquiades

Direção: Luiza Loroza

Diretora Assistente: Estela Silva

Elenco: Junior DantasCenografia: Reinaldo Patrício

Figurinista: Wanderley Gomes

Iluminação: Adriana Ortiz

Direção Musical e Trilha Sonora: Lucas dos Prazeres e João Loroza

Programação Visual: Josué RibeiroProdução: Eliano Lettieri, Júlio Luz e Leandro Melquiades

Assessoria de Imprensa: Júlio Luz – 21 981279366

Realização: Lamparina Produções Culturais

Idealização: Era uma vez o mundo 

Sinopse: O infantil ERÊ! Inspirado no livro homônimo de Jaciana Melquiades e Leandro Melquiades, o espetáculo traz à vida as experiências de um protagonista curioso e inventivo, que se conecta com sua ancestralidade negra através da arte das pinturas corporalmente africanas. Com direção de Luiza Loroza e atuação de Júnior Dantas.

Serviço

Teatro I – Sesc Tijuca – R. Barão de Mesquita, 539 – Tijuca

Informações: (21) 4020-2101

Temporada: 29 de julho a 13 de agosto de 2023.

Sábados e domingo, 11h e 16h

Duração: 50 minutos

Ingressos: R$ 10,00 / R$ 5,00 / R$ 2,00 (credencial plena)

Classificação etária: livre (criança a partir 02 anos)

Capacidade: 228 lugares

*Esta critica é uma parceria do Portal Eu, Rio! Que inclusive dá acessibilidade para sua leitura.

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Cine África | Em setembro estreia nova temporada do festival de filmes africanos
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Tags:critica erêjunior dantaso que é erepequeno heroi pretoteatro erê
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Porpaty2606
Sou apenas uma crítica teatral, entendendo o quanto o teatro educa e move montanha em nós...
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