Uma Mulher Só. Trancada em sua casa pelo marido, uma mulher se alegra com a chegada de uma nova vizinha, de quem se torna amiga e confidente. A princípio, é a partir desse mote que se desenvolve o monólogo, que estreia no próximo dia 11 de setembro, às 20 horas, pelo Zoom (com acesso e ingressos pelo Sympla). Martha Meola dá vida à essa mulher encarcerada sob a direção de Marco Antônio Pâmio.
Uma Mulher Só já ganhou montagens com Denise Stoklos e Marília Pêra interpretando o papel desempenhado por Martha agora. A saber, esse é o primeiro de uma coletânea de textos sobre a condição feminina, escritos e encenados em 1977 pelo casal Dario Fo e Franca Rame. Aliás, Marco Antônio Pâmio tem vontade de, assim que os teatros voltarem, produzir uma série com todos esses textos e incluir essa montagem online que estreia agora, numa versão para palco.
Martha diz que a ideia para estrear o espetáculo surgiu da necessidade de produzir durante a pandemia. “Quando a quarentena chegou, não queria ser engolida pela inércia. Conversei com o Pâmio e, depois de algumas ideias, chegamos a esse texto”. Inclusive, essa é a quarta parceria da dupla. Pâmio e Martha já dividiram a cena uma vez como atores e essa é terceira vez que os dois estão em um projeto como atriz e diretor.
Comédia em cima de tema pesado
Primeiramente, a dupla buscou um texto que não fosse tão denso. Assim, Uma Mulher Sótraz um tema pesado mas o apresenta por meio da comédia. “Falamos sobre machismo, objetificação e violência contra a mulher, liberdade sexual, mas tudo por meio da comédia. O riso ainda é um dos melhores caminhos para se chegar à consciência”, comenta Martha. Sobretudo, em cena, sua personagem vê a possibilidade de experimentar um amor sem as amarras do machismo, com liberdade sexual, mas briga com preconceitos enraizados.
“Com todo o retrocesso que vivemos atualmente, vemos que o tema abordado ainda é muito atual e extremamente urgente. Estamos na quarentena, em uma época de isolamento social e ficar em casa é, de certa forma, estar em um refúgio de segurança. Porém, para muitas mulheres, o que deveria ser um abrigo e um lugar de conforto, é exatamente o seu maior risco”, afirma Pâmio. E Martha completa: “É função dos artistas jogar luz em cima desses temas e fazer as pessoas pensarem sobre eles”.
Na sala de casa
Martha acredita que o modelo do teatro digital veio para ficar: “Se tem uma vantagem nele é ver nosso trabalho chegando em lugares que nem um teatro tem. É possível ampliar o alcance e acredito que mesmo quando os teatros voltarem, iremos continuar a produzir para esse híbrido entre o teatro, televisão e o cinema. Tenho levado arte direto da sala da minha casa”.
Acostumada ao audiovisual, Martha acredita que a experiência nessa linguagem ajuda para Uma Mulher Só. “Olho para a luz verde da câmara e a encaro como se fosse a plateia. O fato da personagem conversar o tempo inteiro com a vizinha na janela, me coloca numa posição de conversa e interação com a tela também”, conta. Pâmio reforça: “Ter a vizinha na carpintaria dramatúrgica de Dario Fo e Franca Rame nos dá uma possibilidade muito boa de manter um contato próximo com o público e interagir a todo momento”.
Linguagem Híbrida
“Para mim, esse modelo digital é uma linguagem muito híbrida e nova ainda. Na minha visão, não é teatro, não é TV e não é cinema. Porém, dirigir a Martha em meio a todos esses desafios foi algo muito fácil. Já tínhamos uma sintonia e conhecia os recursos dela como atriz – e são muitos. E desde o início, tinha muito claro na cabeça que queria um resultado próximo do teatro, mesmo apresentando em uma tela”, explica Pâmio.
Enfim, seu trabalho foi desenvolvido em conjunto com a direção de movimento de Marco Aurélio Nunes. “Depois que trabalhamos muito o texto para cortar e chegar nos 40 minutos de peça, focamos na questão de movimento corporal que é algo muito forte nesse espetáculo. Foi com esse elemento que conseguimos achar o equilíbrio para a cena: afinal, não podíamos partir para uma movimentação nem muito exagerada, nem muito minimalista”, comenta o diretor.