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Cultura

Festival Rock The Mountain faz evento memorável em Itaipava

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Festival RTM em Itaipava

O Festival Rock The Mountain aconteceu neste sábado, 07 de dezembro, em Itaipava, região serrana do Rio de Janeiro. E confesso que precisei desses dias de imersão nos meus próprios pensamentos para conseguir digerir e definir um pouco do que foi a experiência incrível que vivi durante as 16 horas de festival.

Ficou difícil eleger o melhor momento, a apresentação mais marcante ou o quesito em que a organização mais mandou bem, porém, inegavelmente, todos que passaram por ali voltaram para casa de alma lavada. Pra lembrar com aquela nostalgia gostosa e registrar esse dia para a posteridade, contamos um pouquinho do que rolou por lá. Se liga:

Esquenta nacional de qualidade

Os cariocas da banda Biltre foram um dos primeiros do dia e, mesmo acostumados a se apresentarem a noite, cercados de muita decoração de LED, entregaram um show completo e de alto nível para um público fiel, que sabia de cor todas as letras. Além de muito entrosados e com uma ótima relação com os fãs, os meninos deram à apresentação um tom de encontro entre amigos e animaram o festival com “Piranha” e “Nosso amor foi um GIF”.

Do mesmo modo, outra grata surpresa foi assistir ao show do Gilsons, trio formado pelo filho e netos do grande Gilberto Gil, e ao intenso rock psicodélico dos goianos do Boogarins, que deram tudo de si entregando diversos hits como “Sombra ou Dúvida”, “Doce” e “Benzin”.

Biltre no Rock The Mountain
Biltre no palco AME – Foto: Ricardo Braga
Emicida é dono do Festival

Sou fã do Leandro desde 2009, na sua estreia com “Pra quem já mordeu um cachorro por comida até que eu cheguei longe” e de lá pra cá, já tive o prazer de assistir alguns de seus shows (e por acaso até fazer um TCC com uma de suas músicas). Contudo, confesso que a energia transmitida neste sábado agiu como uma sessão de descarrego, no qual magicamente deixei pra trás todos os problemas e perrengues desse ano apocalíptico.

Emicida uniu os clássicos “Zica Vai Lá”, “Hoje Cedo” e “Levanta e Anda” à músicas de seu novo trabalho como “AmarElo” e “Pequenas Alegrias da Vida Adulta”, amarrando o show para agradar desde a galera das antigas até os recém-chegados.

Sorrisos, gratidão e até lágrimas foram reações unânimes entre as pessoas que estavam ali naquele imponente pôr-do-sol no palco Budweiser. Destaque para “Principia”, do seu novo álbum AmarElo, que gerou uma verdadeira catarse após o rapper ver um grupo de amigos se abraçando e pedir para que todos fizessem o mesmo, espalhando uma onda de muito amor, empatia e respeito.

Usando as próprias palavras do mestre, o show foi “latente, potente, preto, poesia”. Sem dúvidas é uma apresentação que fica pra história.

Emicida no Rock The Mountain
Emicida no Palco Budweiser – Foto: Mari Liberato
Um pedacinho do Nordeste em Itaipava

O clima em Itaipava surpreendeu até as mais confiáveis previsões meteorológicas – e não só porque um céu azul e limpinho se abriu, mas porque as atrações do festival incendiaram a galera e botaram todo mundo pra dançar como se não houvesse amanhã.

O recifense Johnny Hooker não economizou na energia e lançou um hit atrás do outro, como “Chega de Lágrimas”, “Alma Sebosa”, “Caetano Veloso” e “Corpo Fechado”. Subiu na cadeira, dominou o palco, beijou o guitarrista e não perdeu a oportunidade de manifestar sua oposição ao atual governo e defender todo tipo de amor.

Logo mais tarde, a também recifense Duda Beat trouxe um show mais calmo, porém, com muita qualidade. A rainha do pop sofrência é dona de um carisma enorme, contudo fez uma apresentação parada que talvez funcionasse melhor fora de um festival. O single “Bixinho” foi cantado em coro, mas o resto da setlist deixou um pouquinho a desejar.

Por fim, os fortes sobreviventes que aguentaram até de madrugada, com certeza não tiveram motivos para reclamar: os baianos do ATTOXXÁ fizeram um dos melhores shows da noite, com direito a muito passinho, rodas e uma mistura contagiante de axé, pop, brega e funk. Os meninos transformaram o palco AME num pedacinho do carnaval de Salvador e fizeram até quem não curte muito o ritmo, se divertir e se entregar àquela experiência única.

Duda beat no Rock The Mountain
Duda Beat no Palco AME – Foto: Mari Liberato
Organização, atrações radicais e todos os ritmos

O Rock The Mountain conseguiu realizar com maestria um feito que poucos festivais brasileiros já conseguiram: unir todas as tribos, oferecer outras opções de diversão e principalmente gerir tudo de maneira muito bem estruturada. E, de fato, desde a logística do transfer, até o sistema de descontos pelo app do AME, que ofereceu preços justos nas bebidas e rapidez nas filas, o evento prometeu ser o mais simples e confortável possível – e cumpriu!

A questão da preocupação ambiental, explícita principalmente no incentivo do uso dos copos reutilizáveis e no plantio de árvores em parceria com o Do Bem Recicla, remeteu muito o falecido SWU, que acontecia em Itu, interior de São Paulo. Assim como o Rock The Mountain, o festival tinha como mote a importância da cultura e sustentabilidade, sobretudo em um momento tão crítico no Brasil.

Os palco MD (Magic Disco) e Bud Basement, agregaram o melhor do eletrônico, rock e hip hop, servindo como parada estratégica entre um show e outro. Do mesmo modo, o voo de balão, bungee jump e a tirolesa garantiram mais um diferencial para os amantes de adrenalina. E eu, claro, não fiquei de fora dessa!

Tirolesa no Rock The Mountain
Claro que aproveitei, né? – Foto: Marcella Vianna
Edição 2020 já foi anunciada!

O anuncio da próxima edição do Rock The Mountain, antes mesmo de me recuperar desta, sem dúvidas foi a cereja do bolo que todo mundo pediu – e quem sabe, não é aquele empurrãozinho que faltava pra você também? O evento será dia 05 de dezembro de 2020, primeiro sábado do mês, e já tem uma banda confirmadíssima: Baiana System!

Por fim, a pré-venda dos ingressos já está acontecendo e você pode garantir o seu lugar nesse rolê incrível através do Sympla.

E ai, nos vemos ano que vem?

Jornalista cultural, cinegrafista de guerrilha e afogada nas possibilidades das relações humanas que nos afetam. Me surpreender com as coincidências da vida é meu maior deleite, afinal, não estamos aqui por acaso. Ou estamos?

Crítica

Benjamin, o palhaço negro | Uma homenagem ao primeiro palhaço negro do Brasil

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Parece até piada que notícias como a do racismo sofrido pelo jogador de futebol Vini Jr. ou um aplicativo que simula a escravidão tenham saído enquanto “Benjamin, o palhaço negro” está em cartaz. Infelizmente não é. Assim como não é piada e nunca deveria ser considerada como uma as coisas que um certo “humorista” disse no vídeo que, com razão, foi obrigado a ser retirado do ar. Infelizmente, a luta contra o racismo continua, desde a época em que Benjamin de Oliveira viveu, de 1870 a1954. Cem anos e as atitudes dos racistas continuam iguais! É um absurdo!

Mas sabe o que mudou? O combate. Como fica bem óbvio no texto do musical, agora não se sofre mais calado. Agora há luta. Agora há regras, há leis, os racistas não vão fazer o que querem e ficar por isso. As pessoas pretas vão exigir o seu lugar de direito e o respeito de todos. Já está mais do que na hora, né?

Mas estou me adiantando para o final da peça. Vamos voltar ao começo.

Quem foi Benjamin de Oliveira?

Benjamin de Oliveira foi o primeiro palhaço negro do Brasil, em uma época em que pessoas pretas não eram aceitas ou bem-recebidas no mundo do entretenimento (e no mundo como um todo, sejamos sinceros). Além disso, ele foi o idealizador e criador do primeiro circo-teatro. Mas por que, então, não conhecemos a história dele?

Por que vocês acham?

Como os atores dizem no início do musical idealizado por Isaac Belfort, a história do circo foi embranquecida, assim como todas as histórias que aprendemos. A peça vem, portanto, para contar a história verdadeira e colocar luz em cima de quem deveria, desde sempre, ter ganhado os louros de sua invenção. Em um espetáculo intenso, sensível e moderno, o público aprende sobre quem foi Benjamin e, também, a valorizar os artistas negros atuais e da nossa história. Mostrando, assim, pra quem tinha dúvidas, quanta gente preta de talento existe e sempre existiu. Só falta, como disse Viola Davis, oportunidade.

O espetáculo

No palco, cinco atores. Eles se revezam para interpretar Benjamin, uma sacada ótima. Uma sacada que faz todo mundo querer se colocar no lugar daquele personagem. Uma sacada que faz qualquer um não conseguir não se colocar no lugar daquele personagem. E sentir todas as dores que ele sentiu. Para pessoas brancas, como a jornalista que vos fala, que nunca vão saber o que é sofrer o racismo na pele, é um toque certeiro pra empatia. Mesmo que forçada, aos que até hoje tentam ignorar esse mal da nossa sociedade. É necessário.

Outra sacada ótima foram os toques de modernidade ao longo de todo o roteiro, muito bem escrito. Colocar personagens da época de Benjamin agindo como os jovens tiktokeiros e twitteiros de hoje foi primordial pra facilitar a identificação. Mesmo para quem não conseguiria fazer a paridade entre a época outrora e os tempos atuais, o roteiro faz questão de não deixar dúvidas. E fica impossível não reconhecer algumas das personagens mostradas no palco. O espectador vai, na hora, conseguir lembrar de alguém que já conheceu ou viu passar pela internet. Ou vai pensar em si mesmo. E é aí que mora a chave do sucesso da peça: porque o reconhecimento traz a mudança (ou assim se espera).

Um elenco de se tirar o chapéu

Os cinco atores – Caio Nery, Elis Loureiro, Igor Barros, Isaac Belfort e Sara Chaves – sabem muito bem o que estão fazendo. Dão show em cima do palco. Cantam, atuam e se movimentam de forma emocionante. A cenografia ajuda, claro. Assim como a iluminação. E a coreografia. O espetáculo é apresentado em um espaço pequeno, que ajuda ao espectador se sentir dentro da peça. E a força com que cada elemento está em cena – atuação, música, iluminação, cenário – torna difícil não sentir cada cena como se estivesse acontecendo com si mesmo.

Preciso, porém, destacar dois dos atores: Caio Nery e Sara Chaves. Todos em cena estão visivelmente entregando tudo e fazem um espetáculo lindo de se ver. Mas Caio e Sara sobressaem. Destacam-se por ser possível enxergar a emoção por trás dos personagens, e deixarem a peça ainda mais forte e bonita. São dois jovens atores de 20 e poucos anos que, com certeza, ainda vão longe!

Curtíssima temporada

Se você se interessou em assistir “Benjamin, o palhaço negro”, corre! O espetáculo ficará em cartaz somente até o dia 28 de maio, esse domingo. Como mencionado anteriormente, o espaço é pequeno, portanto os ingressos esgotam rápido. Essa não é a primeira vez que o musical fica em cartaz no Rio de Janeiro. Ano passado teve sessão única em novembro e uma curta estadia em São Paulo. Isso porque é uma peça independente. O que resta ao público, além de assistir às sessões do final de semana, é torcer para conseguirem mais patrocínio para seguirem com essa peça tão importante por mais tempo.

Serviço

Benjamin, o palhaço negro

Onde: Espaço Tápias (Av. Armando Lombardi, 175 – 2º andar – Barra da Tijuca).

Quando: 27 e 28 de maio (sábado e domingo), às 20h.

Idealização e produção: Isaac Belfort

Direção geral e músicas: Tauã Delmiro

Direção musical e músicas: Peterson Ferreira

Coreografia: Marcelo Vittória

Design de luz: JP Meirelles

Design de som: Breno Lobo

Direção residente: Manu Hashimoto

Direção de produção: Sami Fellipe

Coprodução: Produtora Alada

Realização: Belfort Produções e Teçá – Arte e Cultura

Crédito da foto: Paulo Henrique Aragon

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