King Kong en Assunción, o novo longa do diretor Camilo Cavalcante apresenta alguns dias (os últimos?) na vida de um matador brasileiro foragido no interior da Bolívia. Entre uma execução final e uma redenção, o velho matador viaja até o Paraguai, reencontrando dois amigos no caminho, sendo pago pelo seu último serviço e se embebedando violentamente. Nesse interim a sua história é narrada pela morte, em um musical e sonoro Guarani que agoura e acompanha o Velho matador como uma amiga antiga.
Similaridades
O enredo de King Kong en Assunción parece se basear em ser mais um simulacro latino de Nomadland do que em criar uma estética e história próprias. Infelizmente, a sua tentativa, na sequência da poesia-cassino-prostíbulo, o filme acaba se perdendo. A inconsistência visual e temática logo na reta final do longa quebra muito da aura calma, ponderada e reflexiva que o filme carregou até então. Foi como cair no meio de Se Beber, Não Case!, mas em Assunção do Paraguai ao invés de Las Vegas. O impacto visual dessa quebra de protocolo foi tamanha, que a narração, bela mais difícil de acompanhar, se perdeu totalmente na confusão de pecados.
Ainda que o filme seja inspirado em Nomadland, não falta originalidade no roteiro. Existe um fio condutor inovador, mesmo que por vezes inconsistente. Toda a narração e contextualização fica por conta da Morte, uma voz feminina apenas identificada nos créditos finais. Essa narração explica, filosofa e acompanha o Velho matador, personagem esse que nunca recebe um nome.
Fotografia e temática
A beleza natural das locações auxilia demais na ambientação desse longa. Sem os desertos, planícies e descampados do começo, King Kong en Assunción teria uma vibe urbana muito forte. Essa ambientação ajudou o diretor e seus parceiros conseguiram criar um roteiro que eleva lentamente o nível de civilização na telona.
Começando num deserto de sal, o protagonista caminha lentamente na direção do seu objetivo final um subúrbio na capital Paraguaia. Depois disso ele retornavagarozamente para o seu exílio. Essa peregrinação parece seguir a lógica do ambiente a sua volta, como se estivesse escalando do nível do mar até o pico de uma montanha. Essa escalada constante de distrações e pessoas ajuda a reforçar a distância física e emocional do Velho contra as outras pessoas. Ele é diferente não só no seu modo de vida, mas também etnicamente, um fugitivo “branco” num mar de “nativos” pacíficos alheios a esse estrangeiro.
No fundo, King Kong en Assunción parece ser um filme sobre redenção. Essa redenção não é exatamente sobre receber desculpas ou perdão sobre os seus pecados, mas sobre ter paz consigo mesmo. O mais interessante é o foco narrativo do roteiro no processo e não no resultado. Seguimos o Velho durante a sua peregrinação, e vemos a sua penitência, a sua esbórnia e o seu livramento.
Conclusão
Felizmente, o final de King Kong en Assunción salva o resto do filme que tem uma queda de qualidade e consistência entre o meio e o final. O final é aberto o suficiente para justificar a jornada de um homem que cometeu erros e crimes. Se ele foi realmente perdoado ou não pouco importa; o que importa é que ele procurou uma redenção primeiro junto a Deus, no meio do deserto, e depois junto a aqueles que ele feriu. Ainda que o final seja quase melodramático, só se pode observar um homem com um calvário e uma consciência, seja ela limpa ou não.
Enfim, o trailer:
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