A princípio o documentário aborda a fé do povo paraense em nossa senhora de Nazaré, Nazinha. Com belas imagens e destacando aqueles que enfrentam intempéries em busca de acolhimento, luz e misericórdia.
Massa prisional
Em seguida, vemos este mesmo povo carregando para todos os lugares sua prática com ainda mais fervor em momentos de desolação e sofrimento. Consequentemente, qual a responsabilidade da religião no apoio emocional à estas pessoas em condições tão duras por motivos bastante diversos.
Falo aqui da massa prisional brasileira, que com essa nomenclatura não permite saber seus nomes, histórias, cores e classe social. Os dados não mentem. E Nazinha conseguiu mostrar muito bem.
À margem
Em outras palavras, o sistema judiciário brasileiro acarreta exclusão social e tem foco nas minorias frágeis, sem posição social ou política de relevância, que acabam por perder sua vida e sua dignidade nas mãos falhas e tendenciosas da seletividade que os marginaliza antes mesmo de acessar o cárcere.
Palavras difíceis que explicam de que forma o sistema trata essas pessoas, sejam elas culpadas ou não, abusadamente punidas após pouca averiguação ou nenhum julgamento.
Ao que parece, retira-se da sociedade segundo propósitos bastante claros, atentando por vezes contra sua condição humana.
Veja o trailer:
O Círio e a ressocialização
Certamente Nazinha é um filme forte, com diversos gatilhos. O caminhar peregrino da santa auxilia e ampara os mais angustiados e traz paralelamente o protagonismo das vidas narradas e das críticas merecidas e expostas sobre o funcionamento da força policial, acesso a defesa, condição prisional e julgamentos viciados em forma e conteúdo.
Repito novamente, uma sentença dada antes mesmo de que cometam um crime.
Portanto, quem se há de culpar pelos anos vividos em exclusão em casos errôneos não raros, quem há de resgatar laços, emprego e a saúde perdida em condições sub-humanas comparáveis à tortura?
Segundo, a ressocialização é possível, mas com tanta dor infligida, mais natural seria um sentimento puro e justo de raiva.
O sistema tem “sorte” de que quem entra nele logo percebe o motivo de ter ido parar lá e caso saia, entende que o melhor é tentar esquecer e agradecer por ter parte de sua vida de volta.
Em suma, nem a melhor gaiola do mundo teria qualquer capacidade de desenvolver e recuperar pessoas, e por isso creio fielmente na falência do sistema prisional e no seu uso exclusivo na manutenção de uma clivagem violenta e progressiva, fruto da desigualdade de condições e oportunidades.