“Faz de Conta que NY é uma Cidade” tem direção de Martin Scorsese. A princípio, adianto que ele está certamente entre os meus diretores favoritos. Além de renovar o cinema na década de 70 com clássicos absolutos, o diretor passeou por diversas formas de narrativa. Além de Taxi Driver e os monumentais filmes de máfia, Scorsese é um genial documentarista, e esse é um fato que talvez nem todos saibam.
A minissérie “Faz de Conta que NY é uma Cidade” traz Martin Scorsese conversando com sua amiga Fran Lebowitz. Poderia ser um filme, mas é uma série documental de 7 episódios de 30 minutos em média cada. É um formato bem interessante, pois cria possibilidade do diretor explorar uma duração maior para o produto final, algo que Marty adora, mas nem sempre é comercialmente viável em documentários.
Netflix
A colaboração de Scorsese com a Netflix já rendeu algumas jóias. “Rolling Thunder Revue: A Bob Dylan Story” é mais um genial documentário onde Marty cria uma narrativa sobre Dylan. E essa não foi a primeira vez, pois já existia o totalmente genial “No direction home” documentário de incríveis 240 minutos sobre o início da carreira do bardo premiado com o Nobel de Literatura em 2016.
Teve também outro diamante da carreira do diretor, seu último longa de ficção, “O Irlandês”, obra genial que utiliza o plano de fundo de gangsters e máfia, tão comuns na obra de Marty, para tratar de assuntos muito mais profundos, como família e principalmente o envelhecimento. Scorsese que durante muitos anos foi tratado como o “jovem diretor” viu-se de repente em uma idade avançada, da mesma forma que a constelação de atores que fazem parte dessa obra de arte maravilhosa que é “O Irlandês”.
Para juntar-se à esse hall maravilhoso de obras tardias, e de certa forma mais livre de Scorsese, chega agora “Faz de Conta que NY é uma Cidade” (Pretendo it’s a city), série documental em um clima totalmente descontraído com Fran Lebowitz, amiga pessoal do diretor que compartilha a cidade de Nova York, que foi palco de quase toda obra de Marty.
Fran Lobowitz
Para ser sincero eu não conhecia a escritora. Mas não demora para criar empatia. Ela cai perfeitamente como uma personagem típica de um filme de Scorsese, além disso é o estereótipo da moradora de Nova York. Cheia de manias, completamente apaixonada por cultura e pela cidade, Fran aparece andando e falando sem parar. Consequentemente levando Scorsese a gargalhadas frequentes. O diretor está presente em quase todas as cenas e suas gargalhadas são ininterruptas.
Fran discorre sem parar sobre suas manias, seu amor pela cultura, suas lembranças da cidade nos longínquos anos 70. A escritora fala das mudanças que as décadas trouxeram, fala de sua relação com tecnologia, sua relação com outras pessoas e com a cidade em si, o que torna Nova York uma protagonista ao seu lado. É muito fácil gostar de Fran, a medida que as conversas acontecem, e risadas correm, o espectador se vê curioso para conhecê-la melhor, pois acredito que não são todos que a conheciam, visto que ela nunca foi traduzida para o português.
Marty & Fran
Além de ser uma ótima oportunidade de conhecer uma escritora super interessante, a minissérie é super divertida e uma ótima forma de conhecer o trabalho documental de Scorsese. O diretor faz documentários com a mesma genialidade de seus longas ficcionais. São acessíveis, com montagens impecáveis e Marty consegue criar narrativas maravilhosas a partir do seu ponto de vista.
Como tudo de Scorsese, “Faz de Conta que NY é uma Cidade” é uma aula de cinema. A série é uma grande homenagem à cidade de Nova York e também uma homenagem a sua amiga Fran. Ao final da série fica a sensação de que se quer mais! A sensação incrível de querer adentrar o fantástico cinema de Marty e a Nova York que ele cria em suas obras. São três horas e meia de risadas inteligentes na companhia de duas personagens sensacionais: Marty e Fran!