Crítica
‘O Admirável Sertão de Zé Ramalho’ brilha no Teatro Prudential
Publicado
2 meses atrásem

“O Admirável Sertão de Zé Ramalho” é um bom musical que oferece uma bela parcela de diversão e, ao mesmo tempo, pincela a história de um magistral artista, refletindo um pouco da essência de algumas de suas principais criações. Durante as quase duas horas de espetáculo, essa imersão na vida e obra de Zé Ramalho acontece de forma tão envolvente que nem percebemos o tempo passar. Notei isso assim que terminou e lembrei de olhar o relógio. Foi um susto ver quanto tempo havia passado e logo senti uma alegria pela capacidade que o espetáculo teve.
Uma das primeiras impressões quando a cortina abre é a ausência de cenografia, o que inicialmente pode surpreender. No entanto, essa escolha pode ter sido feita para destacar ainda mais os músicos e instrumentistas, que mostram grande habilidade e paixão pela música de Zé Ramalho. Especialmente Muato brilha sempre que aparece. Porém, é impossível não mencionar a luminescência da sanfoneira Ceiça Moreno, que estreia aos 76 anos de idade no teatro encantando a plateia com sua interpretação apaixonada e voz acolhedora. Ela é uma ótima tradução de “Avôhai” e inicia o espetáculo de forma genial.
A elegância poética de Adriana Lessa
Se não vemos um cenário tão cheio de nordestinidade e cor, temos um figurino deslumbrante concebido por Wanderley Gomes, que enche o espetáculo de brasilidade. No elenco, a participação de Adriana Lessa adiciona elegância e poesia à narrativa, especialmente quando encena a história por trás da música “Chão de Giz”, em uma cena cheia de beleza poética, onde podemos apreciar a capacidade cativante dessa grande artista em falar muito com poucos gestos e expressões. Isso já vale o ingresso. É o momento em que ela empresta seu talento para dar vida a Gisa, um dos grandes amores de Zé Ramalho, que inspirou a emblemática canção, uma das minhas preferidas do músico.
Desafios de “O Admirável Sertão de Zé Ramalho”
O repertório de Zé Ramalho é tão vasto que é bastante desafiador condensá-lo em apenas duas horas de espetáculo, mas a peça procura seguir uma cronologia coerente. O texto de Pedro Kosovsky busca pintar um quadro geral da vida de Zé Ramalho, destacando algumas nuances, como suas incursões na psicodelia e na sociedade alternativa. Ademais, logicamente, o espetáculo também faz incursões na crítica política, uma característica marcante das composições desse gênio que escolheu ir contra o fluxo das massas.
Um dos pontos mais interessantes da peça é a forma como tenta equilibrar a narrativa da vida de Zé Ramalho com a história por trás de algumas de suas músicas. Isso reflete a própria complexidade do artista, que mistura elementos da cultura nordestina com influências do rock, como os Beatles. Há inclusive uma cena, que usa bem a imponente e lindíssima estrutura do Teatro Prudential, onde parece que vemos Beatles brasileiros.
Além disso, outro destaque é a interação com o público. Essa conexão cria laços emocionais e exacerba a vitalidade do espetáculo.
Em resumo, pude ver a peça a convite da crítica teatral Paty Lopes, e devo dizer que ” O Admirável Sertão de Zé Ramalho” é uma celebração da rica trajetória musical e pessoal de um dos maiores artista brasileiros. Uma experiência que faz mergulhar na complexa e fascinante jornada de Zé Ramalho.
Serviço:
Teatro Prudential
Rua do Russel 804, Glória.
De 28 de setembro a 29 de outubro
De quinta a sábado, às 20h. Domingo, 18h.
Obs: 05 de outubro não haverá apresentação
Dias 28, 29, 30 de setembro e 01 de outubro [Estreia com preços promocionais]
R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia)
A partir de 06 de outubro [Ingressos com preços normais]
Quinta e sexta – R$ 90,00 (inteira) / R$ 45,00 (meia)
Sábado e domingo – R$ 100,00 (inteira) / R$ 50,00 (meia)
*Obs.: 05 de outubro não haverá apresentação
Classificação: 12 anos
Duração: 105 MINUTOS
INGRESSOS:
- APP ou Site da Sympla: https://www.sympla.com.br (com taxa de conveniência)
- Bilheteria física (sem taxa de conveniência)
Atendimento Presencial: De terça à sábado de 12h às 20h, Domingos e feriados de 12h às 19h. Em dias de espetáculos, a bilheteria permanece aberta até o início da apresentação.
Autoatendimento: A bilheteria do Teatro Prudential possui um totem de autoatendimento para compras de ingressos.
Ficha técnica:
Texto: Pedro Kosovski
Direção: Marco André Nunes
Idealização e produção artística: Eduardo Barata
Direção musical: Plínio Profeta e Muato
Direção de movimento: Caroline Monlleo
Elenco: Adriana Lessa, Ceiça Moreno, Cesar Werneck, Duda Barata, Marcello Melo, Muato, Nizaj, Pássaro, Tiago Herz e Genilda Maria (atriz stand-in)
Cenário: Marco André Nunes e Uirá
Figurinos: Wanderley Gomes
Iluminação: Dani Sanchez
Desenho de som: Júnior Brasil
Visagismo: Fernando Ocazione
Assistente de direção: Diego Ávila
Programação visual: Felipe Braga
Fotos: Cristina Granato
Assessoria de imprensa: Barata Comunicação e Dobbs Scarpa
Direção de produção: Elaine Moreira
Produção executiva: Tom Pires
Produção: Barata Produções
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Jornalista especializado em Jornalismo Cultural pela UERJ.

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Publicado
1 hora atrásem
1 de dezembro de 2023Por
Livia Brazil
O desafio de Marguerite foi destaque na primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Biarritz. Além disso, foi apresentado na Sessão Especial do Festival de Cannes de 2023, onde venceu o prêmio do júri técnico CST Young Film Technician Award, pela direção de arte assinada por Anne-Sophie Delseries. O longa de Anna Novion estreia no Brasil no dia 07 de dezembro, com distribuição da Synapse Distribution.
O filme conta a história de Marguerite Hoffmann, uma estudante de 25 anos que está prestes a apresentar sua tese de doutorado. Mas, quando um erro técnico acaba com sua teoria, ela decide sair da universidade e aplicar o que aprendeu na vida real. A personagem foi inspirada em uma experiência pessoal da diretora e na trajetória de Ariane Mézard, uma das grandes matemáticas francesas da atualidade. “Ela foi a primeira pessoa que conversou comigo sobre matemática de uma forma artística e imaginativa, o que me interessa muito como cineasta”, diz Anna Novion.
A diretora conta também que, quando tinha cerca de 20 anos, ficou doente e precisou se afastar do convívio social por seis meses. Ao retornar, sentiu uma lacuna entre ela e as pessoas da mesma idade, como se não pertencessem ao mesmo lugar. Essa experiência de desconexão com o mundo e com as outras pessoas, aliada aos ensinamentos de Ariane, tornaram O Desafio de Marguerite possível de acontecer.
Para exemplificar, fique com o trailer:
Originalidade
O ponto alto do filme é, sem dúvida, sua temática diferenciada. A diretora se utiliza da matemática e do fato de Marguerite não ter outra vivência senão o estudo da ciência para mostrar como as pessoas arranjam artifícios dos mais variados para esconder suas fragilidades e se esconderem do mundo. É uma forma bastante criativa de tratar do assunto, principalmente por ser uma mulher. Temos muitos filmes retratando cientistas e estudiosos de áreas das Exatas homens, porém poucos que mostram mulheres cientistas.
O motivo disso aparece em O desafio de Marguerite e está no fato de se relacionar sempre mulheres a sentimentos e associar isso a algo negativo. Como o orientador de Marguerite diz, “matemáticos não podem ter sentimentos”, e a sociedade acredita que só mulheres os têm. E , além disso, que essa característica as resume. O filme mostra que não. E que é possível utilizar esses sentimentos ditos negativos no mundo científico para benefício próprio. E, também, como a mulher é desvalorizada no mundo acadêmico, principalmente em um tão masculino como o da matemática.

É muito original, também, a forma como os conflitos de Marguerite são resolvidos. Os caminhos que ela vai tomando a partir de sua saída da universidade. É um roteiro que não segue o óbvio. Ele te surpreende a cada passo tomado, e isso é muito surpreendente. Principalmente em um mundo tomado de obras audiovisuais previsíveis.
Ritmo diferente
Contudo, exatamente por não ser uma produção genérica e mais do mesmo, há um burilamento no roteiro, ele tem um ritmo diferente do que se vê por aí hoje em dia. Portanto, o espectador acostumado a um ritmo mais acelerado vai estranhar. Pode, inclusive, achar um pouco chato. É um filme cheio de silêncios, principalmente por causa da natureza contida de Marguerite. Ele te obriga a observar o tempo inteiro, assim como precisa fazer um matemático tentando provar uma hipótese. Isso não significa que é um filme chato ou lento demais. Por causa do ritmo, você entra aos poucos na vida e na cabeça de Marguerite, e esse tempo ajuda a compreender melhor a personagem.
Ella Rumpf brilha no papel de Marguerite, essa mulher que faz de tudo para se esconder do mundo e das pessoas. E que só sabe enxergar seu potencial no mundo acadêmico, mas não tem ideia de como enfrentar o mundo real. É bonito de ver como a atriz se entregou ao papel e a forma como ela retrata a personagens aos poucos se entregando e entendendo como o mundo funciona fora dos portões da universidade.
“Quando conheci Ella Rumpf, conversamos muito e eu simplesmente soube. Tive a sensação de que poderia haver uma conexão fascinante entre Ella e a personagem, e que daria à luz uma encantadora Marguerite. Ela exalava uma intensidade e um comprometimento que eu queria filmar”, disse Anna Novion.
É um filme encantador, que mostra a potência da mulher. Em qualquer área que escolha viver.

Ficha técnica
O DESAFIO DE MARGUERITE
Le Théorème de Marguerite | 2023 | França | 1h52 | Drama
Direção: Anna Novion
Roteiro: Anna Novion e Mathieu Robin
Elenco: Ella Rumpf, Jean-Pierre Darroussin, Clotilde Courau
Produção: TS Productions
Distribuição: Synapse Distribution
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