Com o roteiro construído a partir de uma tese de doutorado que sugeria que poderia haver nazistas no interior de Mato Grosso, O anel de Eva traz uma história original com um desenvolvimento instigante.
Duflair Barradas, diretor do longa, começou o projeto anos atrás, a partir de muita pesquisa histórica e geográfica. Segundo ele, “há várias histórias de alemães que fugiam após a Segunda Guerra e se escondiam em fazendas no interior do Brasil. Uma delas foi fruto de uma pesquisa, que resultou em uma foto de um “velho alemão” que morava numa pequena cidade e mantinha um relacionamento com uma senhora negra local. Partindo dessa premissa, surge a busca pela identidade de Eva e seu passado ligado a um desses fugitivos.” A partir do argumento, Eduardo Ribeiro e Pedro Reinato desenvolveram o roteiro que, segundo Suzana Pires e Odilon Wagner, foi o principal para aceitarem participar do projeto.
Sinopse
Após assistir ao filme, posso dizer que concordo com os atores. Contudo, vamos primeiro conhecer melhor a história do longa.
A sinopse oficial diz o seguinte: Após a morte de seu pai adotivo, Eva Vogler é surpreendida ao receber um relicário acompanhado de um bilhete: “abra-o somente se achar necessário”. Ao revelar o conteúdo da pequena caixa, Eva depara-se com objetos incomuns que remetem às suas origens: um anel com um brasão nazista com a inscrição “Eva, 1945” e fotos que podem ser de sua mãe biológica – uma mulher negra cercada por crianças brancas no alpendre de uma fazenda. Eva está diante do quebra-cabeças de sua identidade. Com a ajuda de sua sobrinha Aurora e de seu ex-namorado Pedro, a protagonista terá que se desarmar de seus preconceitos e convicções para trilhar um périplo de autoconhecimento e desvendar o mistério de sua origem.”
Não há como negar que é uma história original. Apesar de haver inúmeras produções que retratam nazistas, não é um tema tão comumente narrado no audiovisual brasileiro. E, quando feito, o enredo é completamente diferente do contado em O anel de Eva.
Mato Grosso
A principal diferença é ser ambientado no Mato Grosso. Apesar de, obviamente, o estado ter uma cena cultural e de produção audiovisual intensa, raramente chega às outras partes do Brasil. isso porque, sabemos, o mercado é dominado pelas produções de Rio e São Paulo e, volta e meia, de algum estado do Nordeste. Então é mais do que bem-vinda uma produção que mostra a vida no Mato Grosso, e, mais ainda, em seu interior. É importante termos diversidades de produções para que possamos ver todos os brasileiros retratados nas telas de cinema.
Porém, além disso, é um roteiro, como dito anteriormente, muito bem-construído. O anel de Eva pode ser considerado, mais do que tudo, além de um drama, um suspense. E a forma com que os roteiristas e Duflair conduzem a história instigam o espectador a querer descobrir a origem enigmática do anel e, com isso, de Eva.
Personagens
Desde o início, quem assiste ao filme se vê hipnotizado por Eva. Isso porque Suzana Pires faz um trabalho ótimo em demonstrar cada pedaço da personagem. Apesar de quieta e na dela, Suzana não tem dificuldade nenhuma em expor todas as nuances da mulher, que fica curiosa com seu passado e não tem medo de enfrentar nada. Sua performance está realmente espetacular.
O interessante é que há espaço também para as outras personagens, o suficiente para o enredo seguir bem. O foco dessa história é mesmo Eva, portanto, cada ação das pessoas à sua volta giram em torno dela. Contudo, como poderia acabar acontecendo em outro contexto, esse fato não deixa os outros personagens menos interessantes ou enfraquecem a história. Muito pelo contrário, só enaltecem quem realmente interessa: Eva.
Só um adendo: a personagem mais interessante, além de Eva, é Aurora, sua sobrinha. Com uma intérprete original do Mato Grosso, assim como todo o elenco além de Suzana e Odilon, Aurora é a epítome da jovem moderna e interessada. Laize Câmara, atriz que a interpreta, brilha.
Fotografia exuberante
Em coletiva com a imprensa, o diretor afirmou que tanto o som quanto a fotografia do filme foram milimetricamente pensados para o espectador ter a melhor experiência possível no cinema. A fotografia é realmente exuberante. Além disso, há ausência de luz nos momentos ideais, entrando um clima de suspense durante o filme inteiro. Aumentando, assim, a expectativa do espectador em relação ao mistério que ronda a história de Eva.
É um filme muito original, que conta uma história muito bem estudada e que estava faltando na cinematografia brasileira. O anel de Eva entrou nas salas de cinema brasileiras no dia 13 de junho.
Por fim, fique com o trailer:
Ficha Técnica
O ANEL DE EVA
Brasil | 2022 | 90min. | Drama, Suspense
Direção: Duflair Barradas
Roteiro: Eduardo Ribeiro, Pedro Reinato
Elenco: Suzana Pires, Odilon Wagner, Laize Câmara, Sandro Lucose, Regina Sampaio, Lis Luciddi, Luciano Bortoluzzi, Rafael Golombek, Amauri Tangará
Produção: Latitude Filmes e Audiovisual
Distribuição: Elo Studios
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