“Bombshell“, traduzido para “O Escândalo” no Brasil, é um filme incômodo. Primeiramente, o público já é avisado sobre a veracidade dos fatos que serão abordados na trama. A obra é a dramatização de fatos reais, tendo como centro o escândalo, que dá nome ao filme. Causado pelas diversas denúncias de assédio sexual feitas contra o antigo CEO da Fox News, Roger Ailes.
Inicialmente, é apresentado no filme, o conflito ocorrido entre a âncora Megyn Kelly (Charlize Theron) e o então candidado à presidência, Donald Trump. Em uma entrevista, a jornalista traz à tona a denúncia de estupro feita pela ex mulher de Trump. O que se desenrola em uma verdadeira perseguição virtual e presencial, tanto de Trump quanto de seus seguidores, contra Megyn.
Em seguida a enxurrada de comentários machistas e feitos por Trump e seus fiéis seguidores, surge uma denúncia de assédio contra Roger Ailes (John Lithgow), o então CEO da Fox News e figura de destaque na empresa ao longo de décadas. A denúncia parte de Gretchen Carlson (Nicole Kidman), que fora demitida sem explicações após anos de trabalho na empresa, e diversos assédios sofridos.
Embora Gretchen tenha ficado insatisfeita com a situação, seu instinto de jornalista a levou a prever o que estaria por vir. Ao longo dos anos, a jornalista havia coletado nomes de possíveis vítimas do mesmo criminoso e evidências sobre os assédios sofridos por elas, com isso preparou advogados para dar início ao processo, não apenas pelos danos financeiros sofridos, mas principalmente em busca de uma retratação pública e exposição da verdadeira figura de Roger Ailes.
O filme, dirigido por Jay Roach, não explora visualmente possibilidades novas do ponto de vista técnico. Entretanto, consegue expressar com clareza sensações em cenas de enquadramento fechado, dando foco para a interpretações do elenco.
A normalização do assédio na sociedade
A obra conta com interpretações dramáticas profundas, que conseguem causar no espectador empatia pelo desconforto causado em casos de assédio. Margot Robbie, no papel da personagem fictícia Kayla Pospsil, leva às telas o retrato de jovens que são expostas as diversas formas de assédio sexual que existem em empresas. A interpretação de Margot no filme garantiu a ela a indicação ao Globo de Ouro de 2020 na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante.
“O Escândalo” traz aos holofotes diferentes formas de assédio que acontecem nos bastidores jrnalísticos.Não somente o ato sexual em si, mas também a exigência de exposição excessiva do corpo como artifício para atrair o público masculino são maneiras de assediar mulheres. No filme, é apresentado o fato de âncoras serem obrigadas a usarem vestidos ou saias, com o intuito de expor as penas para a câmera.
O argumento de Roger Ailes, de que ele contrata mulheres bonitas “porque o público gosta”, diminuindo a capacidade das jornalistas, pode ser também visto em outros setores da sociedade. A objetificação da mulher é um problema real, que fora muito bem retratado no filme. Os personagens masculinos que respresentam o machismo podem também ser enxergados em figuras comuns ao dia-a-dia das mulheres, com frases indiscretas e investidas que geram desconforto, não só em ambiente de trabalho mas também no círculo social.
Assistir “O Escândalo” como jornalista, e como mulher, pode ser uma tarefa difícil, por enxergar projetado na tela diversas cenas vividas. Entretanto, é uma obra que merece seu destaque, exatamente por conseguir expressar nos planos fechados a expressão de tensão e desconforto sentida pelas mulheres que sofrem com esse crime. A sensação de tensão causada no espectador chega a se aproximar do sentimento de aflição ao saber de um novo caso de assédio.