A Rússia tem uma tradição de animações desde a época do cinema soviético. Passando pelas animações infantis da década de 1950, as animações artesanais de Alexander Petrov e a série “o lobo pateta”.
“O Reino Gelado: A Terra dos Espelhos” é o quarto filme de uma saga cujos filmes anteriores são “O Reino Gelado” (2012), “O Reino Gelado 2” (2014) e “O Reino Gelado: Fogo e Gelo” (2016). Embora, seja importante ver os filmes anteriores para compreensão deste quarto filme, não é muito difícil assistir a este quarto episódio sem assistir os anteriores, visto que muitas informações parecem ao longo da história.
A magia está ultrapassada?
Porém alguns motivos para os acontecimentos deste filme acabam ficando “frouxos” ou “no ar” para quem não viu os filmes anteriores. O que não chega a comprometer muito a fruição do filme, em especial pelo público infantil.
Gerda é a protagonista do filme. Ela pertence a uma família de mágicos, porém é a única que não possui poderes mágicos. O que a faz sentir-se frustrada e desapontada. Sua família possui uma loja de produtos mágicos, mas que não recebe mais atenção do público. A magia é vista como algo ultrapassada.
Há um quê de “A invenção de Hugo Cabret” ao apresentar a magia como algo ultrapassado e sem propósito em oposição a racionalidade da ciência. O rei Harald é um grande entusiasta da ciência e inicia o filme querendo banir todos os mágicos do reino. Os motivos tem explicações melhores assistindo aos episódios anteriores.
Ciência X Religião
Há toda esse embate entre ciência e magia que norteia o filme. Tudo no castelo do rei e na sua guarda apresenta uma tecnologia bastante avançada. Como o veículo submarino que aparece no início, que lembra o submarino do Capitão Nemo e outros como dirigíveis e um robô a la “Transformers”.
Esse duelo é na verdade uma metáfora do embate entre ciência e religião. O filme mostra que é necessário um equilíbrio entre razão e espiritualidade. A vida é feita de equilíbrios, assim como o universo.
Poucas semelhanças com “Frozen”
A família de Gerda está entre aqueles que foram expulsos pelo rei para o reino dos espelhos, onde se encontra presa a Rainha da Neve, que aparentemente foi vilã em filmes anteriores e sofreu uma derrota pela protagonista “normal”.
Embora possa pensar-se em uma semelhança com “Frozen”, por sua ambientação e fontes de inspiração, o filme tem sua própria magia ao utilizar de diversos aspectos da cultura russa, além da etnia nas feições dos próprios personagens.
Bela animação
O filme deve cumprir sua função de entreter o público infantil sem aborrecer os adultos que forem acompanhar seus filhos durante a sessão do filme, embora alguns lapsos de linearidade da história possam incomodar. Além disso o filme é curto e dinâmico, o que ajuda a passar rápido.
A qualidade da animação é bastante boa, no nível de produções de Hollywood, embora não na mesma perfeição de grifes como Pixar. A sensação no final é de que a trama do filme poderia ser melhor trabalhada, assim como alguns personagens e subtramas. O final inclusive parece meio abrupto.
Os cenários também são bem detalhistas e impressionantes por apresentar de forma bem caprichosa os diversos mundos de fantasia que aparecem na trama.
Um filme edificante
A protagonista é dublada por Larissa Manoela, que faz um ótimo trabalho de dublagem. O que ajuda a dar uma incrementada no apelo comercial do filme e no carisma da personagem.
Enfim, o filme, apresenta boas sacadas em relação a altruísmo, dedicação, família, perdão, auto-aceitação, amizade, arrependimento e reconciliação. Tudo apresentado de uma forma bem simples e envolvente para os pequenos. Um bom filme para se divertir e ao mesmo tempo edificante para as crianças.
A saber, o filme está em cartaz no Festival de Cinema Russo 2020, em cartaz de 10 a 30 de dezembro, na plataforma Spcine Play, com exibições gratuitas.