Na primeira parte deste artigo vimos como a atividade turística tem se comportado nesse período de pandemia que vivemos há mais de um ano, sob a ótica, especialmente, do viajante. Afinal, a pandemia nos forçou a modificar diversos de nossos hábitos cotidianos, e com as viagens não poderia ser diferente.
A partir desta segunda parte veremos algumas tendências para o turismo no pós-pandemia no Brasil. Uma coisa parece certa e definitiva: a atividade turística como a conhecíamos não será a mesma, pelo menos para uma parcela dos viajantes.
(Re) Descoberta do Brasil
É necessário, a princípio, considerarmos três fatores para essa análise:
– A ainda incerteza quanto ao fim da pandemia;
– A possível insegurança para se realizar viagens de maior duração ou para destinos mais distantes. Isso apenas cessará quando estivermos em um estágio bem mais avançado de imunização da população, com o controle da disseminação do Covid-19;
– O desejo acumulado crescente por viajar, para muitos de nós (inclusive este que vos escreve).
Com base nesses fatores, em um primeiro momento, o turismo doméstico (dentro do território brasileiro) ganhará maior destaque. Ou seja, haverá a realização de viagens mais curtas e para destinos mais próximos. Essa tendência já ganha corpo desde o ano passado, e terá ainda mais destaque no decorrer deste e do próximo ano.
Se, no ano passado, muitos viajantes optavam por alugar habitações para essas viagens (como visto na primeira parte deste artigo), a curto e médio prazo veremos um retorno mais intenso às viagens a destinos tradicionais e hospedagens em meios mais convencionais (hotéis, pousadas, hostels e similares). Isso para que as viagens voltem a ser, essencialmente, uma conjunção entre relaxamento, lazer e entretenimento.
Viajante sem grana
Outro fator que contribuirá para isso é o financeiro, considerando as perdas que muitas famílias sofreram nesse período, com desemprego, reduções salariais, etc., o que exigirá maior prudência no planejamento de futuras viagens.
Com isso, poderemos começar a ver (e vivenciar) uma redescoberta do Brasil como destino turístico, deixando de ficar somente em segundo plano para muitos viajantes. Muitos de nós sabemos do enorme potencial existente em nosso país, com destinos que nos apresentam (ainda) ricos recursos naturais, cultura (em todos os seus aspectos) e história.
Porém, ao mesmo tempo, existem diversas carências relacionadas ao desenvolvimento social, urbano e econômico em muitos desses locais, o que muitas vezes afasta potenciais turistas. Faço um breve parêntese a seguir, apresentando alguns dados que demonstram isso.
Índice de Competitividade em Viagens e Turismo
Periodicamente é realizado um aprofundado estudo, pelo Fórum Econômico Mundial, sobre viagens e turismo mundial, denominado “Travel and Tourism Competitiveness Report and Index” (Índice de Competitividade em Viagens e Turismo).
Nesse estudo são apresentados rankings sobre diversos itens que possuem relação direta ou indireta com a atividade turística, o que permite realizarmos comparativos entre os países analisados.
Em 2019 foram analisados 140 países, e gostaria de destacar o desempenho do Brasil nesse estudo, em alguns desses itens (que possuem relação maior com este artigo):
Enquanto em matéria de recursos naturais o Brasil aparece na 2ª posição entre os 140 países (atrás apenas do México), e em recursos culturais na 9ª posição, em outros aspectos nosso país apresenta resultados bem aquém do desejado:
– Infraestrutura aeroportuária: 42ª posição;
– Infraestrutura de serviços turísticos: 59ª;
– Sustentabilidade ambiental: 67ª;
– Competitividade de preços: 72ª;
– Recursos humanos e mercado de trabalho: 88ª;
– Priorização de viagens e turismo: 106ª;
– Saúde e segurança: 124ª.
Esses números, no ranking geral elaborado, deixam o Brasil ocupando apenas a 32ª posição. Ou seja, existe um potencial enorme mal aproveitado em nosso país. Porém, as diversas carências estruturais impedem um maior crescimento da atividade turística.
Oportunidades para o viajante
Vimos que o Brasil possui um enorme potencial a ser explorado turisticamente, e o pós-pandemia poderá ser um período fundamental para que os brasileiros que estão ansiosos por voltar a realizar viagens comecem a usufruir mais desses recursos.
Espera-se, com isso, um reaquecimento da atividade, através da geração de oportunidades para a cadeia turística receptiva (tanto para os já existentes, como para possíveis novos empreendedores). Porém, é necessário que esse movimento e tendência permaneçam nos próximos anos, e não seja apenas uma onda passageira, para que o turismo brasileiro potencialize seu desenvolvimento.
Para isso, é fundamental que esses turistas vivenciem boas e marcantes experiências em suas viagens pelo Brasil, para que haja o desejo de retornar àquele destino e o de conhecer novos locais.
Há outros aspectos que pretendo abordar aqui, mas estes ficarão para a próxima parte. Até a próxima!