Se eu te pedisse para mencionar o nome de uma droga, talvez você mencionasse a maconha mesmo conhecendo as discussões relacionadas às suas propriedades terapêuticas. Aliás, muitos filmes e séries possuem alguma referência sobre o uso como droga de abuso, mostrando que mesmo ilegal o seu consumo é muito popular. No entanto, o uso para fins medicinais parece ser mais
polêmico do que a legalização do uso recreativo.
Cannabis sativa
Cannabis sativa é o nome científico da planta com quase 500 compostos naturais cuja imagem é famosa. Os compostos mais populares: THC (tetrahidrocanabidiol) e CBD (canabidiol) são objetos de pesquisa científica para o desenvolvimento de novos medicamentos e também para a discussão de entusiastas.
A princípio, os protestos em prol da legalização ganharam força nos anos 80, contando com um grupo de apoiadores formados por adeptos, pacientes, comunidade médico-científica e até mesmo políticos (já que também há impactos socioeconômicos significativos atrelados a este assunto).
Uma erva natural não pode te prejudicar?
O consumo dessa erva provoca efeitos psicológicos (com ligação ao prazer ou pânico) e efeitos físicos (taquicardia, olhos vermelhos, redução de reflexos entre outros), que podem ser veneno ou remédio. Veja que o uso de plantas com propriedades medicinais não é nenhuma novidade, porém, se o uso delas pode provocar o efeito desejado, também pode provocar um efeito colateral. Além da dose, é preciso avaliar as condições do paciente e as interações com outros medicamentos.
Também tem ‘Maconha Medicinal: Cura ou crime’?
Um exemplo clássico é o uso da erva-de-são-joão (Hypericum perforatum) como calmante, esta planta pode causar reações adversas. Por exemplo, reações fotossensibilizantes, e podem interagir com um tipo de anticoagulante reduzindo a eficácia do medicamento o que pode causar hemorragias e até mesmo a morte. Ou seja, vale a pena checar as bulas e não esquecer de avisar seu médico sobre o que você usa, ok?
Além disso, o estudo das propriedades da planta e de seus ativos permite que se obtenha dados suficientes para se estabelecer a dose, a frequência, os cuidados que se deve ter ao usar uma planta ou derivados até mesmo quando não utilizar. Isso é aplicado para as plantas medicinais e também se estende à Cannabis.
O bem; o mal
Em materiais relacionados à toxicologia há dados que demonstram que o consumo da Cannabis pode gerar sintomas que precisam de atenção médica. Inclusive há protocolos para tratamento em caso de intoxicações agudas que podem levar à hospitalização de emergência e há protocolos de reabilitação para os dependentes. Ao mesmo tempo, os avanços científicos permitiram o desenvolvimento de medicamentos a base desta erva tão polêmica.
A Anvisa concedeu o registro de um destes medicamentos no Brasil em 2017 e também permite a importação de outros medicamentos derivados da Cannabis conforme uma legislação específica. Recentemente, em março de 2020, a Anvisa concedeu o registro de um óleo de canabidiol. A saber, trata-se de um grande avanço porque permite à comunidade médica o acesso ao fitofármaco para prescrever aos pacientes que não possuem outra alternativa de tratamento, enquanto as pesquisas
ocorrer em paralelo. Fica a critério do médico realizar a pesquisa bibliográfica para estabelecer para que, para quem e quanto deve ser administrado.
Legalização
Histórias sobre o tráfico e o vício são amplamente apresentadas em notícias e dramaturgia. Além disso, as discussões em prol da legalização incluem discussões sobre os estabelecimentos destinados à produção e comercialização dos produtos relacionados à Cannabis como já existe nas cidades de Amsterdã e Los Angeles, por exemplo.
Uma nova série que fala de maconha: Flagrantes de Família (Altro Che Café)
Flagrantes em Família é uma série de comédia que fala sobre a possibilidade de novos estabelecimentos relacionados ao consumo de maconha legalizada na França, o que ainda não é uma realidade. Mas, já demonstra como a legalização pode impactar um país. Há também um reality show (sim, há um reality show) Cozinha da Boa, que mostra especialistas gourmet cozinhando com a Cannabis e seus derivados.
Cozinha da Boa (Cooked with Cannabis):
Ver chefs decidindo a quantidade de ativos para uma refeição não é coerente com a imagem de médicos prescrevendo medicamentos para pacientes com doenças graves.
Conforme os exemplos acima, logo se vê que a legalização da maconha é um tema de grande complexidade que deve ter a avaliação de profissionais de diversas áreas. Mas, precisamos reconhecer que a disponibilização de produtos à base de Cannabis é uma grande conquista, pois permitem que pacientes tenham uma nova alternativa de tratamento quando estiverem esgotadas outras opções terapêuticas.