O Porto dos Gatos é um cat café. Ou seja, uma cafeteria, um restaurante, amigo dos animais, e, em especial, dos gatos. Além da decoração ter os felinos como suas estrelas, o local tem diversos gatos passeando livres, leves e soltos. Enquanto você saboreia um bom café, uma gata passa perto das suas pernas. A entrada principal parece de uma cafeteria comum. Contudo, nos fundos, uma porta separa a parte onde os gatos estão soltos. Há uma sala onde não se pode consumir nada, voltada para a convivência com os gatos, e uma área externa com mesas. Primeiramente adentrei essa sala quentinha onde vários gatos dormiam, tranquilos. Um casal fazia carinho em alguns deles. Aliás, o Porto dos Gatos já é um ponto turístico da cidade do Porto, mas não é só isso.
Posteriormente, fui para a área externa. Acima, uma rede e um toldo para impedir que os bichanos se arrisquem pelo mundo afora. Sentei, e por ali fiquei, observando os felinos indo e vindo em sua elegância tradicional. Algumas crianças ficavam maravilhadas vendo os saltos acrobáticos e duas gatas brincavam uma com a outra. Após certo tempo, um belo e grande gato branco foi chegando perto de mim, vagarosamente. Cheirou a bolsa da minha máquina fotográfica e foi vindo para o meu colo. Deitou – e dormiu. Acabei ficando sentado naquele banco muito mais tempo do que imaginava.
Associação Vida de Gato
Conversei um pouco com Fátima e Joana, as duas pessoas que dirigem a Associação Vida de Gato e o Porto dos Gatos. Elas dizem que tem grande amor pelos bichanos desde que nasceram. Fátima, entretanto, trabalhava em uma clínica veterinária, onde sempre abandonavam animais. Enquanto Joana conheceu outras realidades, como uma senhora que ia cuidando de gatos abandonados e cuja casa ia ficando cada vez mais cheia. Ambas faziam seus voluntariados sozinhas em locais diferentes, porém, uniram-se para criar esses projetos.
Sobre a importância do veganismo e a opção do restaurante ser vegano, Fátima comenta: “Vegano tinha que ser. Não poderíamos imaginar comprar coisas de origem animal se é uma coisa que nós repugnamos. Nós somos ativistas, não extremistas. Mas vamos em manifestações anti-touradas. Tentamos minimizar os disparates humanos no planeta. E pronto. Tentamos fazer o que nossa consciência dita em relação ao bem-estar dos animais. Para nós não faz sentido salvar gatos e estar a comer vacas e porcos.”
Joana traz outro lado: “Somos muito criticadas por pessoas próximas que dizem que não podemos vender só comida vegetariana. Isso está fora de hipótese. É isso que nós queremos. Quem come carne consegue vir cá comer. Nós é que não conseguimos ir comer a outro sítio que só tenha aquilo, não é? Não interessa se vamos atingir mais público dessa forma. Se tivéssemos carne, se calhar, havia mais clientes. Há pessoas que não comem vegetariano por preconceito. Estamos a fazer uma coisa que nos identificamos e não para ficar ricas com o sacrifício de outros animais.”
Lisboa dos Gatos
Interessante porque o que não faltava lá era público. Uns clientes saíam e outros entravam. Foi até difícil conseguir conversar com Fátima e Joana, pois o movimento era grande. Alguns almoçavam, outros comiam doces. Inclusive, elas até tinham a ideia de expandir o Porto dos Gatos. No caso, a ideia de abrir uma filial em outra cidade, o Lisboa dos Gatos, porém, com a pandemia, a ideia arrefeceu.
Outra coisa importante e um dos motivos que me levou a visitar (novamente) o Porto dos Gatos, foi que é possível adotar felinos com eles ou ser lar temporário para outros que precisam. No meu caso, receberei em casa uma gatinha assustada que não está muito afim de conviver com outros gatos. Fátima e Joana recebem pedidos de ajuda o tempo todo, mas é impossível dar resposta a tudo.
“Todas as nossas divisões da casa estão ocupadas porque temos que os separar. Temos o abrigo que também está todo ocupado. Aqui (no Porto dos Gatos) não podemos, pois as coisas tem que ser muito controladas. Há muita falta de compreensão nesse momento. As pessoas acham que as associações tem obrigação de receber os animais todos. Não tem. Não há condições”, diz Fátima. Em seguida, Joana completa: “As instituições aqui não são financiadas pelo Estado, nem tem apoio de lado nenhum. Sobrevivem porque existem pessoas que disponibilizam dinheiro próprio, quando o tem, não é?”. Ainda há a situação das pessoas que não conseguem dizer não, acabam por virar acumuladores, vão acolhendo os animais em locais sem condições, criando riscos para os próprios animais.
Enfim, para os amantes dos felinos, ou simplesmente da boa comida, o Porto dos Gatos é uma ótima opção. E, se puder, entre em contato com eles e adote um gato.