“Proibido Nascer No Paraíso”. Em sua primeira visita a Fernando de Noronha, a documentarista Joana Nin ouviu uma frase que a intrigou: “Aqui é proibido nascer.” Ao investigar isso, descobriu que as grávidas têm que ir para Recife 12 semanas antes dos seus partos. Mas, por que?
A princípio, na ilha até existe hospital, mas que não realiza procedimentos obstetrícios há quase 20 anos. “Conversando com pessoas da comunidade, entendi que quem vive lá há muitos anos acredita que os nascimentos foram suspensos para evitar que estes bebês reivindiquem direitos no futuro. Como as terras são públicas, os terrenos não podem ser oficialmente vendidos. Eles são concedidos por meio de um Termo de Permissão de Uso – TPU, um documento muitíssimo cobiçado. E nativos tem direito a solicitar a inclusão de seu nome numa lista do programa de habitação local, em busca do mesmo espaço disputado por empresários do turismo.”, diz Joana.
Dessa forma, foi de uma indignação da própria diretora que nasceu o filme, com filmagens entre 2017 e 2019. Acompanha três gestantes de famílias tradicionais da ilha, cujo desejo é dar à luz no local onde moram, perto de seus familiares.
Luta
“O número de gestantes é pequeno para a abertura de uma maternidade, e nem todas as grávidas querem ficar. Mas não seria possível manter uma sala de parto – como existiu até 2004 – com atendimento obstétrico e uma emergência geral melhor aparelhada?”, questiona a diretora.
O longa acompanha o dia-a-dia de Ione, Harlene e Babalu, três gestantes cujas famílias vivem em Noronha há décadas, mas tem a obrigação de se deslocar para o continente para realizarem seus partos. Joana conta que o tema é de interesse de todos os moradores e moradoras locais, e, por isso, todo mundo a ajudou muito trazendo-lhe informações. Para realizar o filme, ela também explica que foi preciso conhecer a ilha, suas peculiaridades administrativas.
“Fernando de Noronha, um lugar dentro do Brasil com uma lógica própria. Não é um município, é um distrito estadual de Pernambuco, o administrador é um cargo nomeado pelo governador, assim como todo pessoal de apoio. A única instância local com eleição democrática é o Conselho Distrital, que não tem função legislativa. A ilha até hoje funciona, de certa forma, como um presídio ou um quartel, a população é tutelada. Tudo tem o controle do “Palácio”, como os moradores chamam a sede da administração na ilha. E assim é com a política habitacional, moradores permanentes – com mais de 10 anos de ilha – podem por o nome em uma lista e esperar pelo recebimento de um terreno, ou uma casa, já que oficialmente não há compra e venda de imóveis.”, afirma Joana Nin.
Precariedade
As condições precárias do hospital local, o São Lucas, afetam não apenas as gestantes, mas também os turistas, pois a instituição não tem preparo para qualquer intervenção que dependa de um centro cirúrgico, anestesista, banco de sangue, UTI ou qualquer outro tipo de atendimento para além do básico.
Desde maio de 2020, a produtora Sambaqui Cultural realiza sessões online com públicos estratégicos. Ou seja, com conexão direta ao tema gravidez e parto, ou ao direito da mulher. E sempre, em seguida, debate com a diretora e equipe. Até o momento foram 12 parceiros que se mobilizaram, como OAB Mulher, Grupo Curumim, Rehuna, Instituto Aurora, CLAM (Centro Latino Americano em Sexualidade e Direitos Humanos) entre outros
Este trabalho tem foco na construção de um relacionamento empático com ativistas e pessoas engajadas com as causas do filme, antes de chegar às salas de cinema, o que ajuda na mobilização social para a ampliar o alcance da campanha de lançamento. Para saber como foi esse trabalho, acompanhe as redes sociais do filme listadas em https://linktr.ee/proibidonascernoparaiso.
O longa-metragem é uma produção da Sambaqui Cultural e ganha lançamento no Brasil através da Boulevard Filmes. Enfim, veja o trailer: