A princípio, Pulsão apresenta uma concepção de Byung Chul-Han, filósofo sul-coreano, um estudioso e crítico da sociedade do hiperconsumismo na qual vivemos atualmente: “Os eleitores se comportam como consumidores no mundo digital”. O caminho do longa-metragem está demonstrado nessa frase. Em seguida, durante pouco mais de uma hora de filme, aprendemos mais sobre a falsa neutralidade das tecnologias que utilizamos no cotidiano de uma forma bem didática, como se víssemos uma aula. Assim, percorremos um pouco do que resultou no momento político e econômico atual do país.
Em seguida, as jornadas de junho de 2013, os enormes protestos que pareciam o início de uma revolução, afinal, o gigante “havia acordado”. Vemos imagens de época de protestos e cartazes como “Saímos do Facebook”. Pulsão procura trazer dados estatísticos e fazer uma análise desses novos tempos e do novo modo de fazer política. Busca provocar reflexões sobre os acontecimentos dos últimos anos – e consegue.
O fascínio pela tecnologia aumenta e os smartphones viram uma extensão do corpo. Agora nos expressamos através de emojis. Posteriormente, a explosão dos perfis fakes, os bots fazendo postagens específicas em prol de um ou outro candidato. A guerra virtual. O nascimento do MBL – Movimento Brasil Livre e seu uso estratégico e eficiente das redes sociais. As coisas vão levando ao Sérgio Moro sendo colocado como super-herói e o crescimento de Jair Bolsonaro, a partir da demonização do PT e uma nova luta contra o comunismo e o socialismo.
Quanto vale ou é por quilo?
Pulsão é pesado e senti um tom jornalístico de investigação e denúncia. Diferentemente de Democracia em Vertigem que traz um tom mais pessoal a partir da história de vida da diretora Petra Costa. Há uma grande quantidade de informações no desenho que o diretor Diego Florentino traça. Ele escreveu o roteiro e argumento com Sabrina Demozzi. Certamente, é difícil não refletir sobre tudo que vem acontecendo e a monitorada vida moderna, e a forma como as mudanças no cenário político ocorreram. Além disso, o documentário passa também pela Operação Lava-Jato e o impeachment de Dilma. E, claro, pela utilização do Whatsapp – tão amado pelos brasileiros – como principal ferramenta eleitoral dos últimos pleitos.
Em produção desde 2016, Pulsão era para ser somente um registro do Circo da Democracia, evento que reuniu em Curitiba diversas figuras políticas e acadêmicas para debater a conjuntura política da época. Porém, acabou por se tornar esse longa-metragem. No geral, o filme traz muito pesar e tristeza pelo país Brasil, pela polarização, pela manipulação e pelo crescimento da desinformação. Deixa propositadamente dúvidas se tudo que vem ocorrendo não tem a ver especificamente com a descoberta do pré-sal. Essa é uma das grandes sementes plantadas pelo diretor, assim como o eleitor como um consumidor, facilmente manipulável.
Enfim, por conta da pandemia de Covid-19, Pulsão terá seu lançamento online no dia 4 de setembro, às 19h. Inclusive, o filme ficará disponível gratuitamente por tempo indeterminado. É possível se inscrever no site do filme para ser informado do lançamento.