A revista serrote chega às livrarias na primeira quinzena de novembro em dose dupla. Depois de a edição impressa de julho ser substituída por uma edição digital gratuita, a nova publicação reúne os números 35 e 36 em um volume de 336 páginas. A revista apresenta os ensaios vencedores do 3º Concurso de Ensaísmo serrote.
A saber, o lançamento da revista acontece no dia 17 de novembro (terça-feira), às 18h, e reunirá para uma conversa os três ganhadores do prêmio. O evento é gratuito e acontece no canal do IMS no YouTube.
Maria Lucas (1989), também conhecida como Ma.Ma. Horn, reflete no ensaio “Próteses de proteção” sobre o lugar dos corpos trans na sociedade a partir de suas experiências durante a pandemia de covid-19. Para esses corpos, desde sempre em isolamento social, escreve a autora, as máscaras se tornaram um escudo a mais contra as múltiplas agressões da cisgeneridade tóxica. Lucas é multiartista, pesquisadora no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio). Além disso, mestra em artes da cena (ECO-UFRJ) e graduada em artes cênicas (PUC-RJ).
Orfeu
No ensaio “Orfeu enfrenta o genocídio negro”, Evandro Cruz Silva (1992) aproxima o filme Orfeu negro, de Marcel Camus, e o livro clássico de Abdias Nascimento, “O genocídio do negro brasileiro”. Ou seja, busca uma releitura original que aponta futuros possíveis de um Brasil para além do racismo que o estrutura. Doutorando em ciências sociais pela Unicamp, escritor e educador popular, Silva pesquisa relações entre segurança, violência e desigualdades no Brasil urbano.
“Baltimore, ainda”, ensaio de Raphael Grazziano (1988), investiga o modelo de revitalização das cidades, desigual e excludente, que foi engendrado nos EUA dos anos 1970 e nas décadas seguintes ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Formado em arquitetura e filosofia pela USP, na qual também realizou seu doutorado, Grazziano é pesquisador em teoria da arquitetura e do urbanismo contemporâneos.
Afropessimismo
A serrote antecipa com exclusividade um trecho de Afropessimismo, novo livro do escritor, cineasta e ativista Frank. B. Wilderson III (1976), que sai no Brasil em 2021 pela Todavia. Nasceu nos EUA, viveu na África do Sul, onde foi deputado pelo Congresso Nacional Africano, partido de Nelson Mandela, e hoje é professor na Universidade da Califórnia. Mesclando ensaio pessoal e teoria crítica, Wilderson argumenta que uma agenda negra radical apavora a maior parte da esquerda porque emana de um sofrimento para o qual não há reparação ou redenção imagináveis.
Depois do assassinato de George Floyd pela polícia na cidade de Minneapolis (EUA), em maio, a poeta americana Elizabeth Alexander (1962) publicou na New Yorker o ensaio “Geração Trayvon”, agora traduzido pela serrote. O texto é dedicado aos jovens negros que, como os filhos dela, cresceram em meio à repetição massacrante de cenas e relatos de violência policial contra pessoas negras. Para Alexander, esses jovens se dão conta do que seus corpos representam e do quanto são vulneráveis ao ódio na sucessão de crimes raciais cometidos pela polícia americana. Professora na Universidade Columbia, Alexander recitou na posse de Barack Obama, em 2009, o poema “Praise Song for the Day”, que escreveu especialmente para a ocasião.
É impossível entender e combater o racismo nos EUA sem examinar o persistente sistema hierárquico que o sustenta, diz a jornalista Isabel Wilkerson (1961) em seu novo livro, o “Casta: a origem de nossos males”, que sai no Brasil pela Zahar em 2021. A serrote traz com exclusividade um trecho da obra, em que a autora compara a opressão contra as pessoas negras em seu país com o tratamento dado às castas inferiores na Índia.
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O pulso ainda pulsa
“A vida pulsante das periferias”, da escritora e pesquisadora Juliana Borges (1982) defende que o clichê de “senzala” não cola mais em quilombos urbanos que, sem pedir permissão, afirmam modos próprios de viver, ver, sentir, encarar desafios e construir soluções originais e potentes. Cria da periferia de São Paulo, Borges é autora dos livros Encarceramento em massa e Prisões: espelhos de nós.
No ensaio “Contra o cristofascismo”, o teólogo, ativista e escritor Ronilso Pacheco (1976) discute a presença de evangélicos na política brasileira. Além disso, desmonta a tese da “cristofobia” aventada por líderes conservadores. Ele é autor de “Ocupar, resistir, subverter: igreja e teologia em tempos de violência, racismo e opressão” (Novos Diálogos). Defende que a Teologia Negra pode ajudar a dissociar os evangélicos do retrocesso com que são identificados pelas alianças de parte de seus líderes com a extrema direita. Nasceu em São Gonçalo (RJ) e é pastor auxiliar na Comunidade Batista da cidade. Pacheco é pesquisador e mestrando no Union Theological Seminary da Columbia University, em Nova York, e fellow da Ford Foundation Global Fellowship.
E muito mais.
A serrote #35-36 apresenta ainda dois ensaios visuais dos artistas Mulambo?, que também assina a capa da revista, e Rivane Neuenschwander. A publicação também tem obras de Maíra Barillo, Abdias Nascimento, Bianca Leite, Rebeca Ramos, Lynette Yiadom-Boakye, Titus Kaphar, Le Corbusier, Cecily Brown e Celia Paul, Daniel Trench, Matheus Jadejishi, Gerty Saruê e Loredano.
Serviço
Lançamento serrote #35-36 | edição dupla
Conversa com os vencedores do Concurso de Ensaísmo serrote,
com Maria Lucas, Evandro Cruz Silva e Raphael Grazziano
Mediação: Paulo Roberto Pires e Guilherme Freitas
17 de novembro, terça-feira, às 18h
ao vivo pelo canal do IMS no YouTube | www.youtube.com/imoreirasalles
Grátis
serrote #35-36
336 páginas
R$ 48,50