Um dia, um cliente me perguntou: “Ricardo, você está há 17 anos na França, do que você sente mais falta quando pensa no Rio de Janeiro, sua cidade natal?”. Fui, imediatamente, invadido por uma profusão de sensações nos meus cinco sentidos. O gosto da pipoca que comia no Largo do Machado quando criança; o cheiro do perfume da Dona Manola, uma amiga de minha mãe; o vento no rosto ao descer de bicicleta do alto do Corcovado, após um banho de cachoeira; ou ainda o cheiro de maresia, de manhã, bem cedinho, na praia da Urca fotografando para a Elite Models.
Essa onda de sensações do Rio em plena Paris, me trouxe uma reflexão. O ambiente, o bairro, a cidade, o país onde nascemos, crescemos, ou até onde moramos, nos influenciam para sempre. Contudo, e no caso dos artistas, no meu caso, um fotógrafo profissional? Moro há muito na França, mas, qual a influência do meu ambiente atual e do ambiente onde nasci e fui criado no meu trabalho artístico?
Na minha primeira crônica vocês foram apresentados a uma fotografia em preto e branco com aves de rapina e o Pão de Açúcar ao fundo. Inclusive, volta lá para ver. Amigos perceberam uma dualidade franco-brasileira, representada pela paisagem estonteante com um céu dramático europeu. Interessante, não?
Um fotógrafo e seu Rio de Janeiro sempre lindo
Para mim, o Rio de Janeiro continua lindo com suas caras, cores, alegrias, sensualidade, emoções, a “maravilha mutante” como diz a cantora Fernanda Abreu. Aliás, amigos franceses dizem que minha maior característica é o sorriso aberto, bem carioca, e deduzo que é a influência da minha cidade natal no meu ser.
Talvez por saudades, comecei a pensar na pegada do Rio no meu trabalho. Quanto fica impresso na minha mente, logo, concretamente, nas minhas fotos, as experiências adquiridas, a profusão de sensações, a memória?
Em suma, tenho convicção de que o ambiente em que vivemos é um fator propulsor do resultado do trabalho artístico. Mas, como perceber a interferência do ambiente nas imagens produzidas? Tenho aqui algumas pistas de reflexão.
- Quando uma imagem saltar aos olhos, chamar sua atenção, quando da edição de um grupo de fotos, tem algo mais profundo acontecendo.
- Na ocorrência de uma imagem ficar obsessivamente em sua mente.
- Quando a imagem lembrar de uma experiência vivida previamente, sensorial, ou não.
- Naquela hora que disserem que a foto é a « sua cara ». O que compõe também sua assinatura artística.
Enfim, creio que a arte seja habitada de infância, sensações e lembranças do ambiente em que se vive ou tenha vivido. Ele nos transforma, nos torna indivíduos, nos faz escolher se as experiências terão uma influência positiva ou negativa no crescimento enquanto ser humano, se vamos aceitá-las, validá-las e transformá-las em arte.
Afinal, e aí? Seu “Rio de Janeiro”, continua lindo?