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A Lição de Moremi | Filme aborda a cultura do estupro em meio universitário

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cultura do estupro

A Lição de Moremi (Citation) é um drama nigeriano baseado em história verídica e trata sobre a cultura do estupro. A trama versa sobre a jornada da universitária Moremi que, após sofrer violência sexual, decide denunciar seu agressor Lucien N’Dyare, renomado professor da faculdade em que estuda. Kunle Afolayan assume a direção do longa.

A princípio, tudo começa com uma universitária ao celular sendo chantageada pelo seu professor. Ele quer sexo em troca de nota. Ela aceita e, junto a seu namorado e amigos, faz uma armadilha para o tal professor. Porém, o plano acaba mal e os alunos são expulsos.

Em seguida, dois anos depois, o foco é Moremi. Jovem, muito inteligente e articulada, ela inicia no programa de mestrado e se destaca entre os alunos, chamando a atenção do renomado professor Lucien N’Dyare. Dessa forma, o diretor explora, numa ordem não cronológica, o desenvolvimento da relação entre aluna e professor, desde o primeiro contato fora da sala de aula até o ato de abuso. Posteriormente e durante todo o fio de enredo de Moremi, que começa já pela denúncia e a audiência com o tal abusador, acompanhamos a solidão da vítima em busca de justiça.

Cultura do estupro presente no cotidiano

A cultura do estupro – comportamentos que silenciam ou relativizam a violência sexual contra a mulher – é sinalizada em situações banais vividas pela protagonista, a partir do momento em que ela fez a denúncia. Os olhares de julgamento dos colegas pelos corredores da universidade, a falta de sororidade da amiga, o namorado ciumento jogando a culpa nela, a falta de uma rede de apoio e por aí vai. Afinal, até sua advogada age com distância emocional. O único que demonstra empatia pela causa é seu amigo Kwesi. Infelizmente, não é só na ficção que isso acontece. Atualmente, há o caso Mariana Ferrer.

Além disso, o longa traz a atenção também para a superexposição da vítima. Por conta da denúncia, Moremi vira garota propaganda de uma campanha em prol do não silenciamento de vítimas de violência sexual. Contudo, ver seu rosto num panfleto não era o que ela queria durante o processo contra o professor. Já não bastasse o desgaste emocional da violência e as audiências, Moremi ainda tinha de lidar com o uso de sua imagem. Com isso, fica a reflexão ao fato de tantas vítimas serem expostas nas mídias sociais de maneira predatória e não responsável enquanto que o agressor, por vezes, não tem seu nome divulgado ou não se torna o centro do debate.

Aliás, veja o trailer e siga lendo a análise:

Não temer a hierarquia

Fortemente trabalhada no filme, a relação de hierarquia entre Moremi e Lucien N’Dyare complica a  jornada da jovem por justiça. Lucien é um professor referência na universidade, tendo ocupado cadeira em universidades estrangeiras e trabalhado até na ONU. Com uma reputação em jogo, o professor, com um histórico de abusos, chantageava as vítimas em troca de silêncio. Podre é o mínimo.

De personalidade empática e charmosa, o professor tinha um comportamento invasivo com Moremi e estava sempre cercando a jovem. É agoniante sua  fixação por ela. Na audiência instaurada por conta da denúncia, a todo momento, N’Dyare faz sua influência de escudo das acusações. Dá vários nervosos ouvi-lo falar tanta mentira e ver Moremi ter de ouvir tudo calada.

Junto a isso, vale ressaltar que acontecem várias audiências até o veredito. Exaustivo, né? A saber, elas são compostas por um comitê de professores e reitor da universidade, juntamente com advogados, vítima e agressor. Essa estrutura intimidadora nos faz entender porque a jovem do início do filme decide fazer justiça com as próprias mãos ao invés de denunciar.

Pontos negativos

Toda a história poderia se passar facilmente em 1h30. O filme é longo e cansativo, com um roteiro superficial e clichê e com atuações que não nos aproximam dos personagens. Moremi, por exemplo, é quase inexpressiva para tudo.

Somado a isso, há uma panfletagem turística tão forte que às vezes se esquece que a temática do filme é cultura do estupro. Há diversas tomadas com o litoral de Cabo Verde e Dakar, no Senegal, mais fazendo parecer uma colônia de férias que um filme denúncia. Fora os suspenses previsíveis na trama, como quando a testemunha chave contra o agressor aparece. Sofrido. E não estranhe o tom novelesco e quase amador do longa. É uma característica identitária do cinema nigeriano.

Não se cale!

Por fim, o que torna A Lição de Moremi relevante é sua mensagem de encorajamento para que a vítima de violência sexual denuncie seu agressor. Moremi lutou praticamente sozinha por justiça, indo até o fim, mesmo tendo menos poder que N’Dyare. Sua coragem e determinação lhe renderam um desfecho positivo, incentivando outras mulheres a lutarem pela causa.

A saber, caso precise de ajuda ou conheça alguém que precise, não hesite em falar. Ligue para 180, Centro de Atendimento à Mulher. Aliás, a ligação é gratuita e disponível 24h, 07 dias por semana.

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2 Comentários

2 Comments

  1. Julia

    11 de novembro de 2020 at 00:23

    Achei essa crítica péssima! Olhar totalmente ocidentalizado em relação a aspectos do cinema nigeriano.

  2. Alice

    22 de novembro de 2020 at 14:50

    Filme desnecessariamente longo. A Moremi estava confusa e apaixonada, não ouviu os alertas do namorado e continuou o relacionamento com o professor mesmo sendo assediada e galanteada verbalmente de modo constante, ao final foi a uma festa na casa do professor e esperou todos convidados irem embora ficando só ela e ele. Mesmo com tudo isso um homem que insiste em forçar a barra quando ouve NÂO é um tarado. Um homem de verdade entende que NÃO é NÃO e ponto final.

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Critica | A Primeira Comunhão

Filme do diretor espanhol Victor Garcia tem distribuição da Paris Filmes e está nos cinemas

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critica a primeira comunhão

O terror que entrega mais atuação do que enredo

A Primeira Comunhão, filme do diretor espanhol Victor Garcia, conhecido pelo premiado filme De Volta a Casa Da Colina (2007), traz a história de Sara, uma adolescente simples e com dificuldades para fazer amizades na nova cidade. Após mudar com sua familia para o interior da Espanha, Sara conhece Rebeca, uma adolescente rebelde e mal falada na cidade que em determinada noite leva Sara para uma balada um pouco distante de sua casa.

Porém, na volta, as duas se arriscam ao pedir carona para o traficante da cidade. No trajeto Sara avista uma menina vestida de branco com uma boneca de primeira comunhão na mão. Após Chivo parar o carro assustado, Sara desce a procura da menina, Rebe a repreende e pede para que volte para o carro e em seguida a personagem principal encontra a fatídica boneca. Rebeca e Chivo, que já conheciam sobre uma antiga lenda da cidade acerca da garota e da boneca, a chamam de volta para o carro, mas Sara leva a boneca consigo. Dessa forma, a partir daquele momento, todo o grupo é amaldiçoado pela boneca e por Marisol (a dona da boneca).

Pontos positivos

Um dos maiores pontos positivos do filme é a capacidade do elenco de entregar ótimas atuações, dando ênfase a Aina Quiñones, que interpreta Rebeca. Em seu show particular, Aina entrega tudo que se espera de um filme como esse: medo e aflição. Uma das cenas que envolve o pai de Rebeca é digna de prêmios, um pai que só maltrata a filha e a trata do modo visto no filme, ao ver a filha em possessão se desespera ao ponto de arrombar uma porta e trazer emoção pura a cena.

Já o ponto alto se mostra já pelo final, em uma cena em um poço. A atuação de Carla Campra é simples, mas no momento dessa sequência se faz importante e mostra como a simplicidade pode agregar muito a uma obra. Vale ressaltar sobre a atuação de Carla no momento do acidente de Chivo, onde a mesma entrega emoção e desespero, um momento que com certeza é marcante ao mostrá-la como indefesa diante de toda situação.

Aliás, veja o trailer de A Primeira Comunhão, e siga lendo:

Afinal, A Primeira Comunhão traz um terror genérico, mas com boas atuações e cenas de suspense. Sente-se a falta da trilha que leva o publico a estar mais concentrado no filme e até mesmo a se sentir mais imerso naquela realidade. A obra aborda temas que a indústria espanhola vem utilizando cada dia mais como a amizade e o romance adolescente. Um ponto que pode incomodar aos românticos de plantão é o fato de Sara e Pedro não se aprofundarem em sua relação e nem mesmo terem tantas cenas românticas do único casal abordado no filme.

No geral o filme é bastante conveniente para aqueles que curtem um terror básico, mas que ainda sim entregue o suspense digno de filmes do segmento. Algumas cenas como o terror familiar de Rebeca podem vir a gerar gatilhos a quem passa ou já passou por situações parecidas. mas sem dúvidas é um tema importante a ser abordado.

A Primeira Comunhão (The Communion Girl), com distribuição da A Paris Filmes, está nos cinemas brasileiros.

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