Prática musical? É sabido por muitos que viver de música ou de qualquer tipo de arte é um “sacerdócio”. O tempo consumido por aqueles que se dedicam a esse segmento podem ser insuficientes dentro de um dia de apenas 24 horas. As demandas vão desde a prática do instrumento, composição, aulas, construção e manutenção de repertório. Além disso de produção de shows que envolve muitos outros tópicos como: mídias sociais, construção de vídeos, divulgação e outras coisas. Na minha trajetória, ouvi e aprendi de muitos mestres que para uma música ser completamente apropriada e aprendida pelo performer é necessário que a execute por, no mínimo, 10 mil vezes!
– Oras, mas lá pela trigésima vez eu já não aguento mais ouvir, tocar/cantar a música.
Pois é, difícil vencer o tédio da repetição, e mais ainda, manter a disciplina da prática diária e o mesmo brilho e entusiasmo de execução como se fossem as primeiras vezes…
O músico/cantor precisa de treino diário para se manter em boa forma, caso contrário a garganta começa a “afrouxar”, as mãos começam a colapsar…
– E como fazer se eu não estou num bom dia? Afinal, o processo artístico não vem de uma imposição, e sim de uma liberdade de expressão.
Ter esse equilíbrio do contato diário com o instrumento e a vontade da “alma” de se expressar, percebo que é um grande conflito entre artistas, principalmente os brasileiros. Tendemos a nos entediar fácil com as práticas, a não ser que se tenha um show programado ou uma data a cumprir. Daí, quando do nada surge uma oportunidade, o artista que estava fora de prática não está em boa forma para dar conta da nova possibilidade. Entendo que por mais que a música também seja uma profissão, ela jamais pode se engessar e perder o frescor, e é papel do profissional dessa área, sempre buscar estímulos, caso contrário, torna-se um trabalhador “batedor de ponto”, igual qualquer outra área, e não podemos perder de vista que a arte é uma ferramenta poderosa de comunicação e transformação.
É necessário respeitar os próprios limites e capacidades, sem se “impôr” um produto, afinal, a indústria musical nos cobra toda hora um produto novo, nos deixando completamente descompensados. Portanto, o almejado equilíbrio se faz necessário nesse
processo e sempre buscar uma conexão com aquilo que lhe moveu a escolher esse caminho pode ser uma solução.
Entender que a prática diária é um processo mais mecânico. Ou seja, igual o atleta que vai diariamente à academia para fortalecer seu corpo. O processo artístico se dá no momento que a arte escolhe se manifestar através de nós, canais abertos para a transmissão.
Humildade e Propósito
Forçar o processo artístico só causa frustração e dor. Cada um tem seu tempo e quem não entende essa sutileza, muitas vezes, acaba por abandonar a carreira artística, como vi vários e eu mesma já me vi, em muitos momentos, nessa “sinuca de bico”. Mas eu diria que o músico precisa persistir e vencer as próprias limitações. Assim, pode desenvolver essas percepções mais ampliadas e se entender no meio desse mar revolto de incertezas que é o universo artístico. O qual, inclusive, oscila muito; tem momentos que é incrível e, em outros, nem tanto…
É escolher servir com humildade a um propósito maior e se manter sempre disposto aos momentos que a música decidir se manifestar em profundo contato com quem você é. Como uma grande artista, cantora, uma vez me disse:
Defina e refine quem você é, pois ninguém no mundo será igual a você, e é dessa forma que você encontrará a sua forma de fazer a sua própria música.
Que maturidade musical revela esse texto da Helô Tenório! Parabéns!