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Sede, poesia de Paula Albuquerque. Boletim de Ocorrência
Literatura e HQ

Sede de Paula Albuquerque | Poesia

Por
Paula Albuquerque
Última Atualização 20 de março de 2023
2 Min Leitura
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Foto de Alvaro Tallarico
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Sede
Era setembro de 2008 e me tranquei naquele pequeno depósito que tínhamos em casa, com uma garrafa, um livro de poemas e as lágrimas que me devoravam. Toda minha extensão soluçava por entre inércias da existência enquanto você batia na porta do outro lado do mundo.

O depósito era meu ventre secreto, e a sede uma onda sem oceano. Exagerei nesse dia a ponto de você esconder todas as chaves. Eu lembro que você reclamava que eu vivia fechada, e por não gostar na verdade das portas, você suspendeu todo vestígio dos trincos. Daí abri as janelas contemplei a rua. As buzinas dos carros. Não ouvia coisa alguma lá fora, apenas olhava. E enquanto você falava, não te via, mas te escutava. Eu só queria uma pausa na loucura dessas horas, sempre tão cambiantes e fugidias.

O que meu corpo poderia fazer diante da angústia de existir, a não ser deixar-se morrer por entre goles e marés? O que você entenderia do meu inferno? Do alucinado espanto que me consumia e me exasperava a lucidez? Eu era ao menos mil anos mais velha em um desespero devastador que meus braços não sabiam alcançar – tampouco reter, mesmo sendo parte de mim. Lembra que eu inventei um nome para o meu desespero? Uma onomatopeia para deixar transparente o inominável do meu sofrimento. Mas de tanto buscar achei a cesura dos trincos: a porta do mundo tinha um trinco embutido. Não falei, desculpe-me: eu precisava de um estilhaço.

Ademais de sede, leia mais:

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Aliás, conheça Hugo Mello | “Um Los Hermanos sem guitarra”
Asfixia | Poesia
Tags:literaturamulher poetapaula albuquerquepoemapoemaspoesiapoesiaspoeta do rio de janeiropoeta paula albuquerquesedesede de paula albuquerquevivente andante
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PorPaula Albuquerque
Paula Albuquerque escreve entre passos e janelas, busca na educação, na arte, na cultura, nas ciências e no pensamento crítico, caminhos de transformação das diferentes realidades do país, assim como busca desenvolver tais habilidades em si, aprendendo sempre que possível. Cursou bacharelado e licenciatura em Letras, Mestrado em Letras - Ciência da Literatura e atualmente lê a bibliografia das disciplinas do Doutorado, na mesma área, em casa por causa do coronavírus.
2 Comentários
  • Poeta Xandu's avatar Poeta Xandu disse:
    19 de abril de 2020 às 03:26

    aquelas trancas e chaves e portas e a verdade gritando lá fora

    Responder
    • Alvaro Tallarico's avatar Alvaro Tallarico disse:
      19 de abril de 2020 às 11:22

      Belo verso, não? E a cara desse momento de coronavírus e pandemia mundial.

      Responder

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