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Sussurros do Coração | Crítica

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Sussurros do Coração. Crítica.

Nos últimos meses a gigante do streaming Netflix disponibilizou o catálogo de filmes do lendário Estúdio Ghibli para o mundo assistir. A fama do estúdio é normalmente associada a magnum opus do diretor Hayao Miyazaki, A Viagem de Chihiro de 2001; mas desde 1984 eles vem lançando vez após outra filmes magníficos de animação que inexplicavelmente passaram direto pelos radares da grande maioria dos espectadores. Hoje quero falar sobre o magnífico Sussurros do Coração (Whisper of the Heart , 1995) do diretor Yoshifumi Kondō.

Sussurros do Coração segue uma linha menos fantasiosa do que a maior parte das outras animações do Estúdio Ghibli mas definitivamente não é menos emocionante. A história se baseia na vida da jovem Shizuku Tsukishima enquanto ela termina o ensino fundamental e luta com suas emoções para encontrar sua razão de existir. Existe um subplot das suas amizades e amores no colégio que lentamente se embrenha e entrelaça com a história principal criando um final relaxante.

Simples e meditativa

O longa é uma experiência diferente do que as audiências ocidentais estão acostumadas. De um lado temos as produções hollywoodianas super produzidas e lançadas aos borbotões, do outro, encontramos uma história deliberadamente simples e meditativa que leva o espectador para dentro da história. Podemos observar um cuidado extremo, não só com a ambientação e animação, mas também com a caracterização dos personagens, seus trejeitos e idiossincrasias.

imagem: Estúdio Ghibli

A narrativa mais intimista e pessoal que o filme adota é a forma mais eficiente de criar uma aura de calma e domesticidade que quase nenhuma outra obra de arte, salvo algumas pinturas de Monet ou Pissarro, é capaz de criar. Esse estilo narrativo contemplativo pode vir de tradições zen budistas ou do fato que a sociedade japonesa é fundamentalmente diferente da ocidental e suas ansiedades, mas seja o que for, essa diferença é responsável por um filme memorável.

Detalhista

A atenção aos detalhes que os animadores e a direção tiveram é absurda. Cada frame tem um background impecável, me fazendo prestar atenção nas lombadas dos livros, na louça sobre a pia e em qualquer outro objeto visível. A cena no antiquário é um deleite sublime que genuinamente tira o fôlego e leva a um estado de torpor que eu consideraria quase religioso. A maneira como Shizuku segura a saia quando senta no chão para que ninguém veja a sua roupa íntima é tão intuitiva e natural que foge completamente a percepção de quem assiste; um detalhe tão mínimo, mas tão meticuloso é impossível de ignorar ao mesmo tempo que passa despercebido. O amor da produção pela sua obra é tornado visível em cada cenário, cada movimento, cada objeto inserido da forma mais natural nessa Tóquio de tinta e acetato.

É possível dizer que esse é um dos melhores filmes já lançados pelo Estúdio Ghibli, mesmo que seja ofuscado por obras de fantasia. Nesses momentos de quarentena e incerteza é difícil manter a cabeça relaxada, mas Sussurros do Coração ajuda com isso. O longa nos transporta a uma outra realidade onde nossos problemas são mais triviais e podem ser resolvidos com pouco esforço. Sente, assista e tire a cabeça dos seu problemas com essa obra magnífica e pouco explorada.

Afinal, veja o trailer:

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Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas, com Cida Bento e Daniel Munduruku | Assista aqui

Veja o filme que aborda ações afirmativas e o racismo na ciência num diálogo contundente

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Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku

Na última quinta-feira (23), fomos convidados para o evento de lançamento do curta-metragem Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku. Aconteceu no Museu da República, no Rio de Janeiro.

Após a exibição um relevante debate ocorreu. Com mediação de Thales Vieira, estiveram presentes Raika Moisés, gestora de divulgação científica do Instituto Serrapilheira; Luiz Augusto Campos, professor de Sociologia da UERJ e Carol Canegal, coordenadora de pesquisas no Observatório da Branquitude. Ynaê Lopes dos Santos e outros que estavam na plateia também acrescentaram reflexões sobre epistemicídio.

Futura série?

O filme é belo e necessário e mereceria virar uma série. A direção de Fábio Gregório é sensível, cria uma aura de terror, utilizando o cenário, e ao mesmo tempo de força, pelos personagens que se encontram e são iluminados como verdadeiros baluartes de um saber ancestral. Além disso, a direção de fotografia de Yago Nauan favorece a imponência daqueles sábios.

O roteiro de Aline Vieira, com argumento de Thales Vieira, é o fio condutor para os protagonistas brilharem. Cida Bento e Daniel Munduruku, uma mulher negra e um homem indígena, dialogam sobre o não-pertencimento naquele lugar, o prédio da São Francisco, Faculdade de Direito da USP. Um lugar opressor para negros, pobres e indígenas.

Jacinta

As falas de ambos são cheias de sabedoria e realidade, e é tudo verdade. Jacinta Maria de Santana, mulher negra que teve seu corpo embalsamado, exposto como curiosidade científica e usado em trotes estudantis no Largo São Francisco, é um dos exemplos citados. Obra de Amâncio de Carvalho, responsável por colocar o corpo ali e que é nome de rua e de uma sala na USP.

Aliás, esse filme vem de uma nova geração de conteúdo audiovisual voltado para um combate antirracista. É o tipo de trabalho para ser mostrado em escolas, como, por exemplo, o filme Rio, Negro.

Por fim, a parceria entre Alma Preta e o Observatório da Branquitude resultaram em uma obra pontual para o entendimento e a mudança da cultura brasileira.

Em seguida, assista Nenhum saber para trás:

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