Quando se fala em Brasil para um estrangeiro, provavelmente ele vai lembrar diretamente do Rio de Janeiro. A Cidade Maravilhosa foi feita de cartão postal no exterior e ajudou a criar o estereótipo de que tudo é lindo no Brasil. Naturalmente, não é bem assim. O Rio de Janeiro sofre com problemas de violência e hierarquias alternativas desde a época dos bicheiros. Atualmente, as milícias exercem essa função. Esse é o pano de fundo de Um Dia Qualquer, de Pedro Von Krüger.
O longa retrata o aparente cotidiano de um bairro carioca dominado pela milícia capitaneada por Quirino (Augusto Madeira). Quando o filho de Penha (Mariana Nunes) desaparece, ela procura por respostas. A partir disso, várias histórias se encontram para dar desfecho ao mistério.
Roteiro
Em um primeiro momento, Um Dia Qualquer parece querer contar muitas histórias ao mesmo tempo, apresentando logo em seus primeiros minutos tramas de bate-bola, igreja evangélica e adultério, amarrando todas sob o guarda chuva da milícia. O roteiro não se apresenta de maneira clara no início do longa, mas a partir da segunda metade se encontra e liga as narrativas de forma satisfatória.
É interessante ver como o desfecho do longa explícita a temática que é presente durante o filme: o que vai volta, quase como um karma. Toda a trajetória dos personagens leva a esse pensamento e se encerra interligando tudo no melhor estilo tragédia grega.
Direção
A direção de Pedro Vön Kruger preza pelo “mostre, não conte”, o que dá um dinamismo interessante para o ritmo do longa, porém algumas vezes atrapalha a execução do roteiro. O filme se realça demais na interpretação do espectador e gera perguntas desnecessárias que interferem na imersão do público.
A fotografia se destaca também. De maneira bem sutil, o filme alterna a paleta de cores conforme a necessidade da narrativa e frequentemente cria ambientes claustrofóbicos a partir de alto contraste entre pontos claros e bordas escuras. Um trabalho de extremo bom gosto.
Um Dia Qualquer apresenta algumas complicações, mas que se mantém firme no geral. Com uma narrativa de final sólido, o filme traz uma visão interessante de um cotidiano, muitas vezes, invisível para o grande público.
Enfim, o longa estreia no circuito brasileiro no dia 23 de junho.
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Excelente comentário !