Poesia…
Da vida que se inicia todos os dias, os passos são a esperança.
O tato arenoso trazia o conforto no solo fofo, as pegadas iam ficando para trás sem ressentimentos por serem esquecidas. O vento trazia gotículas salgadas e o perfume no ar era familiar, o cheiro lhe encontrava onde estivesse. Perto ou longe. O suave barulho de espumas ao vento, uma brisa gelada e mais passos a caminho de destino específico.
Ali, de frente para ele, a serenidade invadiu e a paz se prontificou. Na mão direita carregava uma xícara de café quente, lentamente se sentou em posição de lótus na areia nua. As primeiras horas do domingo traziam um assento gelado e o frescor de temperaturas baixas de outono tocavam a pele do rosto recém desperto.
Vivacidade
A cada inspirar uma dose de vivacidade necessária para alimentar a si, os pés descalços na areia úmida, a maresia assentando no corpo, os fios de cabelo, desprendidos do coque, em liberdade tremulavam na nuca descoberta e a calmaria era quase palpável.
O céu com seu tom de azul claro muito mais quinze para as seis da tarde do que oito da manhã dizia tantas coisas e também não dizia nada. Os coqueiros atrás de si assobiavam fraco junto aos pássaros que voavam num horizonte muito perto. Um gole no líquido preto, o calor da bebida, fechar os olhos e sorrir.
No segundo silencioso, sem fazer alarde, uma pequena onda lhe tocou a pele descoberta. Tão perto do mar mas distante no pensar. O susto fez rir, gargalhou de olhos fechados com a sensação de além-mar. E assim ficou, contemplando a imensidão dos tons de azul que lhe rodeavam, dando afeto a companhia natureza que lhe era amiga.
E assim sorria para o dia.
* Crônica da série “Noutro tempo, memórias”, uma coletânea sobre experiências felizes para serem revividas e compartilhadas em tempos de isolamento social. A poesia foi postada primeiramente no Medium de Kelly Lima.