Mesmo sendo uma crônica na vida da classe média alta brasileira, “Won’t You Come Out to Play” é fascinante em como lida com o trauma, o perdão e a transfobia. Obra da diretora Julia Katharine (primeira diretora trans a ter seu trabalho exposto no circuito comercial nacional) o filme acessa a realidade da elite sob uma perspectiva profundamente humana com problemas reais e relevantes.
Lidar com a diferença é questão de vida ou morte, independente de status. “Won’t You Come Out to Play” mostra uma visão meio “esquerda cirandeira” de mundo enquanto trata de uma mazela social normalmente relegada a filmes mais estereotipados.
O mais inovador é o ponto de vista invertido, onde uma pessoa cisgênero conta a história do trauma instalado numa família através de um ato de violência transfóbico.
Mesmo com a cena kitsch do ex-parceiro cantando Beatles, “Won’t You Come Out to Play” é um belo filme com um ótimo exemplo de como ser um bom aliado à causa LGBT. Uma família se destruiu em nome do ódio, e agora tudo que sobra é a saudade e arrependimento de não se ter pedido perdão antes. Até o final o curta é confuso e meio irritante, mas a mensagem final encaixa todas as informações e atropela o espectador com uma súbita compreensão do que aconteceu.
8.8/10
Perdas, aceitação e a entrada na vida adulta. Sonolentamente, esses assuntos existenciais aparecem no curta dirigido por Anna Carolina Moura Mol de Freitas. Os problemas da vida de três jovens moças brancas surgem ao longo de uma viagem de carro pelo interior de Minas Gerais. Sem grandes dramas. Tristemente, a falta de profundidade no roteiro e química entre as atrizes são o que enfraquecem “Por Outras Primaveras”.
Visualmente, esse filme é minimamente interessante. Entretanto, a montagem previsível junto de uma paleta de cores corriqueiras cria um ar de comédia da Globo, coisa que a trilha sonora e abertura upbeat não ajudam a mitigar. Mesmo sem esses problemas estilísticos, “Por Outras Primaveras” foca em experiências íntimas e pessoais que são absolutamente comuns; esse tipo de exposição das vidas banais de pessoas em situação de certo privilégio social não cria nenhuma discussão interessante em torno de assunto nenhum.
Enfim, “Por Outras Primaveras” serve mostra como um grupo de pessoas comuns pode ser tedioso quando observado de fora.
2/10