A sambista capixaba Anastácia acaba de lançar o seu primeiro disco, um trabalho autointitulado. A saber, o álbum traz oito faixas que mesclam a tradição do samba com pitadas de modernidade. Portanto, o material já pode ser conferido em todas as plataformas digitais.
Aliás, a artista vive no Rio de Janeiro há quase uma década e circula entre os maiores nomes do samba carioca. Além disso, ela já teve a honra de gravar uma letra do icônico compositor Arlindo Cruz, a faixa ‘Não penso em mais nada’, parceria com Júnior Dom.
Sendo assim, convidamos a Anastácia para uma conversa em que falamos sobre o novo trabalho, carreira, parcerias e claro, de samba. Então, acompanhe o nosso bate papo:
VIVENTE ANDANTE: Anastácia, em que momento descobriu a paixão pelo samba e a partir de quando ele se torna seu grande ofício?
ANASTÁCIA: Acredito que o samba se apaixonou por mim antes mesmo que fosse o contrário. O samba parece uma grande mãe que sai acolhendo todo mundo. O meu repertório inicial, tocando na noite, era de música brasileira sim, mas não se aprofundava no samba. Desse modo, alguns sambistas aqui da grande Vitória me viam cantando e começaram a me chamar para fazer o que a gente chama de “passadinha”, que é quando o artista convidado vai à roda para cantar/tocar por um set. Logo, percebi que eu era muito crua no assunto, tive que estudar repertório, história e assim me apaixonei… quanto mais entendia, mas participava da emoção e grandiosidade que é essa manifestação.
Falando nisso, sendo capixaba, quais foram os maiores desafios para adentrar no berço sambista carioca?
Meu maior desafio foi chegar no Rio sem conhecer ninguém, nem a cidade e praticamente sem dinheiro. Porém, eu era mais jovem, cheia de disposição, chegava em qualquer roda e pedia para cantar na cara de pau e não me abalava com os “nãos”. Assim, acredito que a partir daí a dificuldade mesmo foi aprender a me locomover para chegar nessas rodas, descobrir a dinâmica dos transportes públicos.
Portanto, depois de uns meses no Rio, fui abraçada pelo Samba da Amendoeira, de Niterói. Abraçada como artista e como pessoa. Logo depois comecei a gravar para muita gente, sambas, sambas enredo e fui fazendo amizades. Nesse sentido, minha sorte é a facilidade para me comunicar e tratar todo mundo com carinho, sempre recebo isso de volta. Me sinto muito acolhida pelo samba e pelos sambistas que admiro.
Aliás, você teve a benção do Arlindo Cruz para a gravação de uma de suas músicas. Como foi que recebeu a notícia que daria voz a uma letra dele?
Eu já tinha um projeto onde cantava só músicas do Arlindo e seus parceiros, e foi dentro desse contexto que nos conhecemos. Assim, quando nos vimos, na quadra da Mangueira, ele já sabia que eu estava interpretando suas canções. Falei que a ‘Não Penso em Mais Nada’ era a mais aclamada pelo meu público e perguntei se eu tinha a benção para gravá-la e também para continuar com o projeto. Ele não exitou! Disse que já estava abençoada. Óbvio que fiquei “me achando”, não é todo dia que uma magia dessas acontece.
A saber, neste mês lançou o seu primeiro disco, um trabalho autointitulado. Sendo assim, qual foi a inspiração para este projeto?
Quando me inscrevi no edital para gravar um álbum, não acreditava que seria aprovada, uma vez que já havia me inscrito em dezenas de outros, sem respostas positivas. Contudo, quando este foi aprovado, fiquei perdida, pois o projeto que enviei já estava ultrapassado dentro dos meus desejos enquanto artista. Logo, pedi ao Rafael dos Anjos (produtor e arranjador) que entrasse em contato com os compositores para eu fazer a seleção do repertório. Pedi que fosse uma galera mais híbrida, eu tinha essa vertente da MPB do início da minha carreira e que ainda fazia parte do meu repertório no Rio.
Essa foi a grande confusão, não me entendia e ainda não me entendo como sambista, no mais genuíno do termo, justamente porque conheço a minha história e sei identificar quem são essas figuras, mas ao mesmo tempo estava inserida neste contexto. Com isso, a inspiração foi justamente descobrir quem era a Anastácia.
É verdade que escutou cerca de 200 canções até fechar o repertório? Portanto, como foi o processo de seleção?
É verdade sim. Aliás, foi um processo longo e doloroso, já que não conseguia montar um conceito, uma história. A maioria das músicas eu não queria gravar, por mais interessante e bonita que fosse a canção. Eu chorava muito por não conseguir enxergar essa identidade e foi quando Júlio Macabu e Waltis Zacarias me obrigaram a compor. Disseram que eu não escolhia nenhuma música porque o repertório teria que vir de dentro para fora, não o contrário. Dessa forma, surgiu mais um processo doloroso, o de acreditar que eu seria capaz de compor, já que até então eu me via apenas como intérprete.
Nesse dia fizemos ‘Ai de Mim’, depois pedi para o Júlio compor a ‘Eu Não’, para o Thiago Miranda pedi ‘Sou Dessas’, então leio como minhas também, já que dei o mote [risos]. Fiz a melodia de ‘Cazuá’ para o Waltis e ele veio com essa letra linda e o restante foi compondo a história toda.
O samba é visto como um estilo tradicional, porém, em suas músicas você também flerta com uma sonoridade moderna. Desse modo, como consegue conciliar estas duas vertentes?
Acho que respondi essa em todas as outras perguntas. Era justamente onde eu queria chegar, mas o trabalho maior foi do Rafael dos Anjos, eu só dei o desafio. Quando comecei na música não foi através do samba, eu cantava muito Nação Zumbi, Jorge Ben ‘lado b’, Gal Costa, entre outros. Além disso, tenho referências da minha terra, música regional como congo e forró pé de serra e ainda quero mostrar isso em trabalhos futuros.
Para finalizar, conte quais são os músicos que ainda deseja fazer uma parceria musical?
Nossa, muita gente! Fica até difícil citar. Mas, vou de compositores mais interioranos e desconhecidos até nomes do pop nacional e internacional. Porém, vou me ater a três figuras aqui, mas com o coração na mão: Mestrinho, Luedji Luna e Morenna.
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