“Dançarina Imperfeita” (Work It) é o novo filme de dança queridinho da Netflix. Inclusive, fez bastante barulho chegando a ficar no top 10 nas últimas semanas. Foi dirigido por Lauren Terruso e produzido por Alicia Keys (essa mesmo, a cantora). O filme conta a história de uma garota nerd cuja melhor amiga é dançarina na escola. Porém, para passar na faculdade que quer, a protagonista mente e diz que é dançarina também. Em seguida, pede ajuda para a amiga e começa uma jornada para aprender a dançar e se apresentar.
Aliás, é um filme até engraçado, mas com uma junção de estereótipos bem clara e que pode sim ser problemática. Claro que falamos de um filme adolescente feito apenas para ser cômico, mas isso formaliza um pensamento nas pessoas, que dançarinos são arrogantes, que não precisam estudar, que vivem dando “jeitinhos” como a da sala de dança e etc.
Problemáticas e “solucionáticas”
O longa-metragem consegue divertir e seria bom para uma “Sessão da Tarde”. A princípio, um filme de dança comum aos olhos do público acostumado com esse estilo norte-americano. Mas é daí que quero partir para as problemáticas. Isso não é um problema desse filme, mas de quase todos os filmes de dança que vi durante a vida. Filmes com dança são quase sempre estereotipados, sendo alguém que precisa aprender a dançar por algum motivo, um casal onde a garota dança balé e o garoto hip hop (são vários títulos com essa premissa), ou algum drama familiar – e sempre com uma competição de dança.
Você deve se perguntar qual o problema com isso, né? O problema é que a vida de um dançarino não gira em torno disso. Pode ser, claro, que alguns tenham passado por algo parecido sim, mas não é regra. Logicamente que há competições, dar aulas também, a rotina de treino exaustiva, audições… Às vezes viajar o mundo e conhecer vários países ou ir morar fora dançando. Temos infinitas histórias de sucesso e superação no meio.
Fred Astaire
Antigamente tínhamos Fred Astaire sapateando incrivelmente em tela. Contudo, ele podia ser qualquer personagem, que usava a dança como ferramenta. Isso se perdeu. Desde John Travolta não temos um filme COM DANÇA, e sim filmes DE DANÇA. Isso empobrece a narrativa e faz com que a dança fique estereotipada com apenas meia dúzia de ideias.
No fim, se quiser ver para se entreter, veja sim “Dançarina Imperfeita“, ou “Se Ela Dança Eu Danço 3”, por exemplo. Entretanto, se desejar filmes um pouco mais reais de hip hop, veja “Boty – Battle Of The Year” e “You Got Served”. Agora se quer ver a dança sendo usada como ferramenta, veja “Cisne Negro” e “Suspiria”.
O que importa mesmo é ver a dança ocupando mais locais – e não apenas na caixinha onde a indústria acha que cabe.