A Luta do Povo do diretor Renato Tapajós é um curta excepcional que já começa te dando um murro na cara. Primeiramente, conta a história do movimento operário paulista e brasileiro a partir do assassinato do operário Santo Dias da Silva pelas forças militares. Passando entre os anos de 1978 e 1980 vemos a evolução de pequenos mobilizações trabalhistas até as grandes greves lideradas pela CUT e o ex-presidente Lula nos seu tempos de luta sindical.
A Luta do Povo é o documentário mais documentário que já vi. Inclusive, com uma estética de reportagem de guerra. Ou seja, câmera tremendo, fixando em rostos sofridos, falas desajeitadas, mas cheias de alma, fuga da polícia, meio da multidão. Essa aura meio Globo-Repórter-em-zona-de-guerra é essencial para situar a audiência nesse momento primordial quanto aos direitos dos trabalhadores. Vemos a polícia descer o sarrafo, vemos helicóptero, vemos um militar pubescente checando sua pistola e imaginando quando a utilizará, vemos soldados arrastando um homem preso tal qual um cão. Toda a opressão brutal da qual muitos não lembram (e tantos outros negam ou glorificam) está gravada em película e disponível para nos horrorizar mais uma vez.
Política
A princípio, os breves 30 minutos de duração desse curta são o suficiente para apresentar personagens que são rechaçados por querer colocar comida na mesa. Homens e mulheres que procuram uma vida decente para a sua família e comunidade. Homens e mulheres que viajam milhares de quilômetros em busca de apoio, educação e edificação na luta contra o fascismo em todo o país.
Hoje mais do que nunca A Luta do Povo deve ser exibido em todo o país. O trabalho de Tapajós, por mais melodramático e cheio de frases feitas que seja, atiça o senso de justiça. Apenas com sangue nos olhos que vamos nos libertar desse despotismo verde e amarelo que voltou a nos afligir.
Nesse tenebroso ano de 2020 entramos em recessão, o PIB caiu 9,7% de uma vez, voltamos ao patamar de 2009, logo após uma crise econômica mundial. O preço dos alimentos está subindo diariamente como um foguete, o salário mínimo está estagnado, a inflação começando um galope alucinado. Ainda por cima, temos um presidente apoiado pelas forças armadas andando de jet-ski e de moto enquanto ignora as medidas sanitárias no meio da pior pandemia em um século.
Ontem e Hoje
Certamente, a exibição de um filme tão profundamente político hoje levanta inúmeros questionamentos sobre a direção que o Brasil tomou nos últimos 40 anos.
Por que ainda não nos levantamos e tomamos o controle da situação? Por que políticos corruptos tomaram a direção de um país rico e nos jogaram na lama, vergonha e pobreza? Qual a razão de termos crianças morrendo de fome? Por que Marielle está morta a mais de 900 dias sem reais responsáveis irem presos?
Afinal, questões como essas são difíceis demais para responder diretamente, mas valem ser perguntadas. O objetivo da arte é levantar um espelho para a sociedade e nos obrigar a encarar o que nos tornamos e para onde vamos. Por fim, A Luta do Povo é o espelho que precisamos hoje.
Enfim, este ótimo filme faz parte da 15ª CineOP. A saber, essa contundente mostra segue até 7 de setembro de 2020, gratuitamente. Basta acessar www.cineop.com.br.