Enola Holmes, o lançamento que está no topo da lista de filmes mais vistos da Netflix, é um filme de mistério e aventura que se passa na Londres do século XIX e acompanha a busca da jovem Enola por sua mãe, que desapareceu no dia do seu 16º aniversário.
Estrelado por Millie Bobby Brown, a película trata sobre a independência feminina mostrando um recorte de uma jovem mulher do século XIX que enfrenta seus tutores masculinos, representados pelos seus irmãos Sherlock Holmes e Mycroft, e a sociedade em que vive. Aliás, Mycroft a vê como uma “mulher selvagem” e tenta, a todo custo, colocá-la num internato para que ela aprenda a ser uma dama –lê-se ser uma boa mãe, esposa e bordadeira.
O elenco conta ainda com Henry Cavill, Sam Claflin e Helena Bonham Carter.
Jovem emancipada
Enola começa sua história nos apresentando um “top 5 de coisas sobre mim”. Dentre os tópicos, está um anagrama com seu nome, que também forma a palavra alone (sozinha). A princípio, interpretamos como o destino de Enola ser o de uma pessoa solitária. Mas conforme embarcamos juntas em sua procura pela mãe, notamos que o “sozinha” significa tomar suas próprias decisões, ser dona do seu próprio destino, como Enola enaltece: “Minha vida é só minha.”
A emancipação da jovem de 16 anos é bem construída ao longo do filme, mostrando sua mãe, Eudora Holmes, ensinando-a ciências, literatura e artes marciais –vivências que eram limitadas aos homens naquele período. Por conta da dedicação de sua mãe, Enola cresce e torna-se uma jovem confiante, determinada, inteligente e atrevida. São essas características que a ajudam a lidar com todas as adversidades em seu caminho de maneira quase impecável.
Militância e sufrágio
A história ambienta-se no contexto da Primeira onda do feminismo, que teve o sufrágio como seu carro-chefe. À época, mulheres e homens denominados sufragistas lutavam por direitos sociais, econômicos e políticos femininos e, principalmente, o direito ao voto feminino.
No longa, Eudora Holmes faz parte do que parece ser um coletivo sufragista. Primeiramente, vemos Eudora, misteriosa, com um grupo de mulheres em sua casa, todas com uma fita vermelha na roupa. Porém, conforme Enola vai mostrando os interesses de leitura de sua mãe e adentra num galpão contendo substâncias químicas, artigos de guerra e um panfleto intitulado: “Reunião Pública Pelo Voto Feminino –Levante sua voz”, fica claro que Eudora era uma militante ativa.
Somado a isso, há referências literárias feministas, como o importante livro Sujeição das Mulheres, de John Stuart Mill. O filósofo defende e aponta os benefícios de uma sociedade mais igualitária na qual mulheres deveriam ter direitos sobre a propriedade, sobre o voto e até exercer carreira política ou qualquer outra carreira profissional de seu interesse.
No século XIX, Londres também contava com periódicos feministas que subvertiam a imprensa da época, como o Enlish Woman’s Journal e o Woman’s Union Journal. No filme, há citações aos jornais Revista da Mulher Moderna e Reforma da Moda, que podem ser ficcionais, pois não figuram na lista de imprensa londrina do século em questão.
A heroína e o mocinho
Personagens femininas frágeis e sem iniciativa é uma fórmula já consagrada na história do cinema. Há milhares de filmes em que a figura masculina é o herói, detentor do poder e que salva a mocinha no fim do dia, com direito a um beijo apaixonado como recompensa.
Porém, em Enola encontramos uma muito bem-vinda inversão de papéis! Assim, vemos a corajosa protagonista salvando o frágil e inocente Lorde Tewksburry de uma perseguição quase fatal. A saber, é graças à astucia da jovem detetive que o Lorde se livra de vários empecilhos ao longo filme,
Vela destacar que a relação dos dois pauta-se na amizade, sem romance bobo servindo como distrator para a real missão de Enola.
Briga na justiça
Antes mesmo do lançamento do longa no streaming, a Conan Doyle Station, família de Conan Doyle, processou a Netflix. A família detém os direitos de suas histórias que datam de 1923 a 1927 e que não são de domínio público.
A saber, o célebre detetive Sherlock Holmes não tem uma irmã na história oficial escrita pelo autor, portanto Enola não existe na ficção originária. A personagem foi uma criação da escritora americana Nancy Springer e protagoniza a série Os Mistérios de Enola Holmes. O filme baseia-se no primeiro volume da série, intitulado Enola Holmes: O Caso do Marquês Desaparecido, de 2006.
O motivo do processo foi a família de Doyle argumentar que há traços emocionais modificados no personagem de Sherlock, tornando o detetive mais afetuoso e que esta mudança consta nas obras protegidas por direitos autorais. Ainda de acordo com a família, Doyle incorporou esses traços mais humanos em Holmes após perder seu filho e seu irmão.
Além da Netflix, a Conan Doyle Station processou a escritora Nancy Springer, a editora Penguin Landon House e a produtora Legendary Pictures.
Por fim, a nova aposta da Netflix tem mistério, conflitos familiares, militância e empoderamento feminino ao longo de suas 2h de duração. As cenas de ação não empolgam. A protagonista é tão preparada pra tudo que seus apuros não causam aflição, pois sabemos que ela vai se safar. Contudo, é um filme motivador, que impulsona garotas (e por que não, mulheres) a preservarem sua liberdade e serem donas de seu próprio destino.
Afinal, veja o trailer abaixo:
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