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Literatura

Confira a voz feminina representada em 7 HQs | Mulheres e Quadrinhos

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Mulheres e Quadrinhos no Vivente Andante.

Mulheres e quadrinhos. A princípio, sabemos que, ao longo da história, a representatividade feminina na cadeia produtiva editorial foi permeada por subjugamento e segregação. Com um mercado majoritariamente masculino, muitas quadrinistas e ilustradoras eram postas em cargos que não dialogavam diretamente com a criação. Contudo, aos poucos, as mulheres foram ocupando esses espaços e ressignificando o mercado, mostrando que mulher consome e produz este conteúdo.

Com isso, outras abordagens ganharam espaço, assim como temáticas voltadas para o universo feminino. Dessa forma, abrindo espaço para o diálogo e exposição de vivências, como a opressão do patriarcado, a emancipação e sexualidade feminina, a cultura do estupro, a luta política e social, lesbianidade, raça, maternidade e tantos outros temas que abarcam os movimentos feministas ao redor do mundo.

Certamente, há diversas produções femininas presentes no mercado mainstream e também no independente publicadas em blogs, sites e redes sociais. Afinal, listo aqui 5 HQ’s e 2 projetos de zines que abordam as temáticas supracitadas. Boa leitura!

Persépolis

Há 20 anos, Marjane Satrapi, quadrinista franco-iraniana, trouxe ao mundo a aclamada autobiografia Persépolis, na qual conhecemos criticamente a cultura iraniana sob o olhar da protagonista, seus conflitos com a religiosidade, as condutas machistas, o capitalismo e tantos outros dilemas presentes na vida de uma mulher iraniana. Posteriormente, A graphic novel ganhou uma adaptação em animação para os cinemas.

O Mundo de Aisha

Ugo Bertotti utilizou o fotodocumentário da jornalista Agnes Montanari para contar, em O Mundo de Aisha, a vida de algumas mulheres no Iêmen, atravessadas pelo silenciamento, a opressão familiar, religiosa e social, dentre outros. O niquab – o véu – ganha uma releitura, como uma alegoria da figura da mulher como um ser sem rosto, sem identidade e fantasmagórico na sociedade iemenita.

Desconstruindo Una

Carol Christo explora, de maneira muito sensível e com quadrinhos não lineares, a violência contra a mulher, a cultura do estupro e a misoginia. A história se ambienta num cenário real acontecido na Inglaterra, nos anos 70, quando Peter Sutcliffe, o Estripador de Yorkshire, matou 13 mulheres. As vítimas eram desacreditadas e subjugadas pela polícia inglesa pelo fato de serem mulheres marginalizadas. Una cresce nesse conturbado período, sofre abuso sexual, é diagnosticada com estresse pós-traumático e dialoga sobre seu trauma em meio aos seus remendos emocionais.

Mulheres e Quadrinhos. Desconstruindo Una.
Una fala sobre misoginia e abuso sexual

Aya de Yopougon

Marguerite Abouet, escritora costa-marfinense, traz em Aya de Yopougon uma adolescente africana com todos os dilemas comuns em meninas com sua idade, numa juventude bem fora do estereótipo de sofrimento e fome presentes no imaginário midiático em torno do continente africano. Acompanhamos a cultura de gostos e sabores marfinenses sob a ótica de Aya, além de suas aventuras juvenis. A desconstrução de uma negritude feminina perpassada pela dor é um ponto importante na obra de
Marguerite.

A Origem Do Mundo – Uma História Cultural Da Vagina Ou A Vulva Vs. O Patriarcado

A quadrinista sueca Liv Strömquist fez uma vasta pesquisa sobre como a vulva é e foi tratada pela sociedade, religião e comunidade científica ao longo dos anos. Através dessa pesquisa, escreveu a HQ, que é uma inspiração para mulheres se apropriarem de seus corpos e sua sexualidade. A vagina sempre foi estudada por um viés masculino e seu imaginário está envolto de tabus e repulsas. Não à toa, milhares de mulheres têm uma relação de vergonha, distanciamento e, muitas das vezes, de sofrimento com seu corpo feminino. Desconstruir uma leitura masculina sobre corpos femininos e conhecê-lo com uma linguagem mais afetuosa é o ponto forte da obra.

Mulheres e Quadrinhos. Confira sete HQS femininas.
A história da Vulva

QG Feminista

O coletivo QG Feminista possui em seu site zines para download gratuito, fortalecendo a democracia da informação com pautas de extrema relevância para o empoderamento feminino, com as zines Capitalismo e Feminismo, Indústria do Sexo, Maternidade, Raça, Direitos Reprodutivos, dentre outros. Destacamos a zine Lesbianidade, que traz um apanhado de textos que discutem a heterossexualidade, a lesbianidade como ato político, a importância da voz lésbica no feminismo, o determinismo biológico e etc.

Zine XXX

Este projeto foi idealizado pela artista Beatriz Lopes e conta com contribuições de quadrinistas mulheres Brasil afora com o intuito de fortalecer esta rede em expansão no país. São 5 zines de 24 páginas que tratam sobre sexo, lesbianidade, conflitos emocionais, patriarcado, dentre outros.

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35 Comentários

35 Comments

  1. Luana Trindade

    25 de julho de 2020 at 20:34

    Gostei muito. Já curtia a Satrapi, mas as outras autoras eu não conhecia ainda. Parabéns!

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Literatura

Confira a resenha do livro ‘Eu Protesto’, por Paty Lopes

Obra traz olhares significativos

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E sempre vamos protestar!

Eu protesto! E sempre vamos protestar!

“Mas Paty, já incluímos política na leitura infantil?” Sim! Seus filhos já protestam ao nascer, ao sair do útero quentinho e confortável por onde esteve 9 meses. Depois protesta pelo peito, pela fralda que deve ser trocada e consequentemente com o passar do tempo para não usar fralda. Logo, escolhem as roupas e protestam quando querem usar uma roupa que não interessa!

Protestam por espaços e devem entender que a escola, por exemplo, é um direito adquirido e deve-se ocupar e protestar o quanto for necessário por ela.

A democracia, o que deve ser ensinada desde sempre, é pertinente no livro, imprimir opiniões é um direito de TODOS, seja na rua ou em casa, principalmente em casa onde tudo começa. Onde as escutas são sagradas para os pais notarem comportamentos a serem corrigidos ou incentivados.

E protestamos para salvar florestas, espaços públicos, os teatros, museus, tudo que constrói uma sociedade mais sã, para isso que existe o protesto.

O livro amplia a ideia de vivermos com objetivos em comum, isso também é importante, não vivemos sozinhos, aprender a viver em sociedade tem grande importância.

Não vejo o livro “Eu Protesto” como uma leitura com vertente para direita ou para esquerda, aliás isso não chega a narrativa, mas as cores são voltadas para o vermelho, que nos levando ao partido dos trabalhadores, não serei leviana com os meus leitores.

A ilustração é mais madura, não vejo como um livro para crianças em aprendizado, elas não irão se conectar com facilidade, são ilustrações menos coloridas. Geralmente as cores chamam mais atenção do pequeno.

O livro tem um propósito que é politizar os pequenos, então o conteúdo dele aposta nas narrativas, desde a menor idade, ao começar com a figura de um carrinho de bebê.

Acho pertinente o livro, desde que saibamos se é indicado a idade e aceitação da criança. Penso que não temos como limitar cada pequeno. Um dia vi uma criança autista desenhando com as duas mãos, logo entendo que a capacidade intelectual e seja qualquer outra, independe.

O que acho bem interessante é o encontro de dois professores de estados diferentes e gêneros diferentes, escreverem um livro, isso contribui com olhares significativos, mais um motivo para inserirmos a leitura nas escolas também!

A história

Este livro nasceu do encontro da escritora Laura Erber com as ilustrações dos cartazes da Greve dos Professores de 2017, realizados pelo artista Frederico Ravioli. Naquele momento, Ravioli, envolvido com a luta dos professores em defesa da convenção coletiva das escolas particulares e contra a reforma trabalhista, que o então recém-empossado presidente Michel Temer havia proposto, produzia as imagens de divulgação dos protestos com desenhos feitos a mão, de maneira simples, direta e abrangente, para que todas as pessoas, de diferentes idades e contextos sociais, compreendessem rapidamente as mensagens deles. Assim, Laura entrou em contato com Frederico e propôs a realização de um livro para crianças e adolescentes que teria a característica de pensar imagens e textos relativos às diferentes formas de protesto que exercemos ao longo da vida e enquanto sociedade.

Nasceu, então, “Eu Protesto!”, apresentado pela primeira vez para a GLAC em julho de 2020.

Autores

Laura Erber é escritora, artista visual e professora. Sua prática artística se caracteriza pelo constante trânsito entre linguagens. Recebeu bolsas do Le Fresnoy (França) e Akademie Schloss Solitude (Alemanha). Em 2015, com o crítico Karl Erik Schøllhammer fundou a editora digital Zazie Edições, voltada para ensaios sobre arte, teoria e crítica. Vem publicando livros infantis e de crítica de arte e atualmente é Professora Visitante de Estudos Brasileiros da Kbenhavns Universitet – Institut for Engelsk, Germansk og Romansk.


Frederico Ravioli é artista visual e professor. Formado em bacharelado e licenciatura em Artes Visuais pela UNESP, trabalha com infláveis de lona plástica, pintura, escultura e performance, muitas vezes levando suas produções para o interior de manifestações e protestos. É cooperado da Arco Escola Cooperativa, onde leciona desde 2019.

Editora

​GLAC é uma palavra aglutinante, uma palavra que entala na boca do estômago. É uma onomatopeia, é o som de uma gosma, de uma meleca em colisão com uma superfície lisa. Por isso suas letras se apresentam assim grudadas, inseparáveis. É uma palavra-tiro que emperra, que explode em si mesma. E é essa a radicalidade que queremos incrustar em quem nos lê.

​A GLAC edições surgiu de modo experimental, em 2016, por meio da publicação “Em vista de uma prática ready-made”, uma coletânea de textos da coletiva de arte francesa Claire Fontaine; e pela organização do primeiro seminário do programa de debates “Cidadãos, Voltem pra Casa!”, que teve lugar na Oficina Cultural Oswald Andrade.

Este é o primeiro livro infantil da editora, que inicia o esforço de apontar o horizonte da autodeterminação às crianças, para que elas possam se realizar como sujeitos ativos criticamente na sociedade.

FICHA TÉCNICA

Título: Eu protesto!
Autorias: Laura Erber & Frederico Ravioli
Ilustrações: Frederico Ravioli
Edição: Leonardo Araujo Beserra
Projeto gráfico: Laura Erber
Diagramação: Leonardo Araujo Beserra
Revisão: Paloma Durante
Série: Criança Autônoma

Ano: junho de 2023
Páginas: 24
Tipo: canoa/grampo
Formato: 19 X 22 cm
Peso: 200g

ISBN: 978-65-86598-21-6
SKU: 9786586598216

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