A Jangada de Welles mostra imperialismo cultural estadunidense, reivindicações trabalhistas nos anos 40, populismo getuliano, racismo, orientalismo latino, propaganda política. Estes temas díspares porém correlatos são as várias linhas que o documentário retrata caoticamente. A intenção de contar a história de Orson Welles no Brasil é honesta, mas você acaba presenciando uma barafunda de cenas, cortes, entrevistas e narrações que atropelam os sentidos da audiência.
Problemas
Infelizmente essa montagem confusa atrapalha ao atravancar a narrativa. Ao contar a história de vários pescadores antes de os apresentar você fica com a sensação de que não houve organização na pós produção e acaba se cansando. Mesmo ignorando a montagem, você encontra problemas com a mixagem e trilha sonora. Fora algumas escolhas estilísticas hora retrô, hora experimentais que brigam entre si urrando por atenção.
O filme parece não se decidir se quer ser um documentário sobre o Welles aqui, ou uma crítica à ditadura do Estado Novo, ou ainda ao intervencionismo americano. Essas três histórias labirínticas não precisavam ser todas abordadas ao mesmo tempo. Ainda assim aos 45 do segundo tempo há um relato sobre despejos violentos em 2001 com conexões muito precárias ao resto do longa. No total você se perde em várias mensagens que competem por atenção enquanto tentam se provar as mais importantes de serem contadas.
A montagem da Jangada de Welles
Voltando a montagem, notamos que A Jangada de Welles lentamente se perde num mar de informações que estão relacionadas mas não se provam coerentes para o espectador. Por mais que seja necessário explicar os contextos em volta da história, você não encontra uma linearidade em no todo. Pelo contrário, a história vai e volta, mostra as mesmas imagens, explica os mesmos fatos. Além disso, logo antes dos créditos finais, vemos um prefácio que deveria estar no começo do filme, jogando uma luz na montanha de informação à ser escalada.
A viagem de Orson Welles ao Brasil teve como objetivo estreitar laços entre o império norte americano e esta ex-colônia. A rasgação de seda entre Roosevelt e Vargas ocorreu para garantir que o Brasil não continuaria a se alinhar a Alemanha Hitleriana. A venda da ideia de propaganda do nosso carnaval e força obstinada do pescador nordestino, porém nos entregaram a morte de um trabalhador e uma pedra no sapato de um dos maiores diretores do século XX.
Além disso tudo temos um tipo de desconexão entre as entrevistas e o tema. Por mais que os entrevistados estejam falando do assunto correto estejam conectados ao tema, falta um foco. Todos os relatos são quase genéricos na falta de empolgação ou emoção. As histórias batem mas é só isso o que acaba traçando uma relação entre narração e conteúdo, o sentimento ficou de fora.
Finalmentes
Concluindo, A Jangada de Welles é uma obra bruta, porém repleta de curiosidades que vão entreter (e confundir) quem for encarar esses 75 minutos de documentário. Esse recorte de um momento peculiar leva a um momento inicial na nossa dependência exterior e subordinação aos Estados Unidos. O filme trata tudo como um amontoado de fatos e causos estranhos demais para serem conectados, mas que formam uma massa amorfa de história nacional e confusão.
CineOP
Vimos o filme pela Mostra de Cinema de Ouro Preto. Ao longo de cinco dias de evento, a 15ª CineOP, que aconteceu em ambiente digital manteve o mesmo propósito conceitual e de programação intensa, diversificada e gratuita do evento presencial. E registrou alcance de mais de 100 mil acessos no site www.cineop.com.br vindos de 54 países.