Despachos de Outro Mundo (Dispatches from Elsewhere) chega chegando com um título curioso. Quem for da Umbanda ou Candomblé já pode achar que vai entender do assunto. Nessa religiões, as oferendas feitas aos Orixás e entidades também são conhecidas como despachos. Aliás, tal palavra vem caindo em desuso nessa designação. Despacho é também um termo jurídico, tipo quando uma autoridade, em relação a um requerimento ou petição, torna um despacho deferido ou indeferido. Em inglês, dispatch é mais mandar algo ou alguém para algum lugar com um objetivo específico. Ok, mas e a série?
A série, criada e estrelada por Jason Segel (o Marshal de “How I Met Your Mother”), foca em quatro pessoas comuns que vivem vazios existenciais e acabam por cair um um grande jogo, uma charada – uma conspiração, talvez? Mas é algo que abre a cabeça deles para novas possibilidades. Inclusive, dentre esses quatro personagens principais temos André Benjamim, o Andre 3000 do grupo Outkast. Começou me lembrando da recente – e sensacional – Tales from The Loop, por utilizar um personagem importante da trama quebrando a quarta parede, ou seja, falando direto com o espectador e trazendo explicações. As aberturas de ambas são muito parecidas, e os caminhos são similares dentro de acontecimentos fantásticos, contudo, bem diferentes em seus focos e direcionamentos.
Tem um certo clima vintage (parece que isso está na moda). Uma boa surpresa é a presença de desenhos animados durante alguns episódios para exemplificar e contar estórias que complementam. São bonitos, estilosos e cada um segue um estilo distinto de animação.
Empatia
O pedido que Despachos de Outro Mundo faz, literalmente, é que nos coloquemos na pele daqueles personagens. Empatia. Uma palavra de extrema relevância que deveria ser ensinada a todos os seres humanos desde a mais tenra infância. Inclusive, Eve Lindley, atriz trans, vive Simone, e, indubitavelmente, se destaca pela sua atuação e carisma.
Afinal, não é fácil se colocar no lugar de outra pessoa, mas a tentativa já ajuda muito. Cada um tem suas frustrações, angústias e vivências únicas. Assisti alguns episódios e fiquei na dúvida o quanto tinha gostado ou não do festival de bizarrices e do jogo proposto. Resolvi despachar esse texto para quem pudesse interessar.
Tinha tudo para ser uma das melhores séries do gênero… Até deixar de ser. Como alguém pode ter tido uma ideia tão brilhante até o episódio 6 e depois cair em um clichê e conseguir inseri-lo em outro clichê? Para quem quiser se aventurar, sugiro assistir até o episódio 6, se impregnar com todo o mistério e empatia pelas personagens. Parar de assistir e imaginar o seu próprio final. Qualquer coisa que você inventar será melhor que o clichê do “arquiteto” inserido no clichê do “autor”.
Seu comentário fez com que eu me identificasse muito. A série deixa um gosto de desperdício. Começa bem, mas depois encontra caminhos fáceis. Concordei muito com você, Gecine! Volte sempre!
Não consigo enxergar desperdício. Acho que o final, realmente, mostra o que perdemos há muito tempo. O final, como enxergo, é que nos perdemos na forma de nos olhar e ao outro também. Precisamos de todos sem deixarmos de ser quem somos. Precisamos não ter a necessidade de nos destacar, mas mesmo se formos os protagonistas, entender que somente chegamos a algum lugar se existir o outro.
Mesmo com a ideia de que nascemos sozinhos, isso não passa de um grande equívoco. Se olhar.os em volta, em um parto existem outras pessoas que fazem o papel de apoio, contudo, a caminhada para a vida é de quem esta nascendo…
Assim percebo o último capítulo! Se não houvesse esse fim, seria mais uma série com foco apenas no jogo em si.