Dando continuidade do trauma em WandaVision, “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, ou “Doutor Estranho 2”, é o ápice de um mental breakdown violento. Com muito tiro, porrada e bomba, esse carnaval visual de horror consegue expandir um pouco as possibilidades do MCU sem fugir da fórmula que funciona há mais de dez anos. Honestamente, é um bom fechamento para a saga da dor da Wanda e um bom capítulo intermediário para o Doutor Estranho.
A história
Com a crescente saudade dos filhos após o fim da séria WandaVision, Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) procura uma forma de acessar o Multiverso e encontrar os dois meninos em outro universo. Para resolver o seu problema, ela começa a caçar a jovem America Chavez (Xochitl Gomez), que é uma adolescente de outra Terra que pode se mover livremente através de todo o multiverso. O Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) salva a menina durante o casamento da sua ex, Christine (Rachel McAdams) e a leva para a segurança do Kamar-Taj, o santuário dos Mestres das Artes Místicas.
Assim, “Doutor Estranho 2” tem algumas reviravoltas e alguns momentos feitos para os fãs (espere até o final de todos os créditos), o que é de se esperar no MCU. Com isso, vale falar que os cameos (participações especiais) variam entre hilários e épicos, com o perdão da palavra. Essas participações não parecem forçadas e, como os personagens foram bem escritos, aumentam o impacto emocional de “Doutor Estranho 2” como um todo.
Depois disso, o plot evolui de forma bem orgânica, com explicações simples e uma progressão que não vai confundir praticamente ninguém na audiência. Mesmo com livros mágicos, saltos pelos multiversos e vários artefatos poderosos, “Doutor Estranho 2” consegue ser explicadinho sem parecer mastigado. As cenas de exposição estão bem diretas, mas não tratam quem assiste como um idiota, o que é um ponto muito positivo.
Personagens
A Wanda rouba a cena a cada segundo na tela. Tem algo palpável na sua dor, na sua raiva controlada e na sua obstinação. É quase difícil não entender o porquê ela faz o que faz. Essa vontade de reaver os filhos acaba trazendo consequências terríveis, tanto para ela quanto para o universo, mas ela segue firme, implacável. Dito isso, eu agora tenho medo do potencial de destruição em massa da minha mãe.
O Doutor Estranho é o herói principal, e mesmo em um filme tão Wanda-cêntrico, ele passa por uma evolução própria, tendo um arco emocional bem conectado com a Christine. Como persona, ele fica meio de lado, tendo apenas um fechamento emocional, o que ajuda a dar espaço para a Wanda e a America.
Falando na nova heroína, America Chavez é uma personagem interessante, mesmo que emocionalmente limitada pelo escopo da história e pela experiência de atuar um trauma da atriz. Ainda assim, os seus poderes são muito impressionantes, o que abre um espaço bem legal para a personagem crescer em outras mídias.
O Wong (Benedict Wong) ainda não parece ser um mago supremo tão poderoso como a Anciã, mas ele vai chegar lá. Em “Doutor Estranho 2” ele consegue se provar um general astuto, o que valida a sua posição e comprova as suas habilidades. Finalizando, os Illuminati estão surreais, é preciso ver para entender.
O visual
A parte que todo mundo espera, o CG em “Doutor Estranho 2” é absurdo. Mesmo que em alguns momentos os humanos pareçam bonecões de borracha de longe, isso pouco importa. A riqueza visual é tamanha que as vezes mal dá tempo de se situar antes de tudo mudar. A cena dos trailers da queda entre os multiversos é muito impressionante, sendo um dos pontos altos do filme.
No geral, a fotografia funciona muito bem, com cortes limpos e algumas transições bem criativas. Quase todos os planos estão cheios de detalhes e possíveis referências, o que é bom para quem curte destrinchar os filmes cena a cena.
O subtexto
O filme vez por outra parece usar a personagem da America como uma analogia para os Estados Unidos da América, obviamente. Por conta disso, ela acaba aparecendo como uma promessa de um futuro controlado e poderoso, só papo imperialista. Parece ser um “Make America great again” dentro MCU, o que deixa um gosto ruim na boca de qualquer um que sofreu com o poder estadunidense. É até engraçado notar como algumas falas durante o clímax de “Doutor Estranho 2” parecem mais voltadas para o país do que para a personagem em si, exalando um patriotismo infantil.
Sintetizando o filme em uma frase, parece que todos tem que provar o seu valor. Afinal, o Strange precisa se provar um bom mago em todos os multiversos que visita, a America precisa controlar o seu poder extraordinário e se tornar melhor para o amanhã, enquanto o Wong está se tornando o líder dos magos, e servindo de desculpas pelo whitewashing que foi a Tilda Swinton.
Finalmentes
Por fim, mesmo sendo uma pessoa que não leva muito à serio o MCU e super-heróis como um todo, é difícil não ficar animado com um filme projetado especificamente como um parque de diversões no cinema. “Doutor Estranho 2” voa alto e não decepciona, mesmo com um subtexto pobre e, como sempre, conservador. Depois da batalha e do ápice de dois personagens, o diretor Sam Raimi não economizou no clímax emocional, dando um fechamento muito intenso para quem mais importa. Como um todo, “Doutor Estranho 2” é, em poucas palavras, bem maneiro.
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