I may destroy you é a nova série (que nem é tão nova assim, já que estreou em junho) de Michaela Coel, autora de Chewing Gum, que criou, roteirizou e protagonizou a série original HBO. Baseia-se livremente em fato que aconteceu com a autora/atriz. Conta a história de Arabella Essiedu, escritora que sai para beber com os amigos é drogada e sofre estupro. Acorda no dia seguinte com flashes do ocorrido e precisa, a partir de então, lidar com o fato, além de descobrir quem a abusou.
I may destroy you é uma série para quebrar a cabeça. Destruir paradigmas. Refletir. Afinal, uma série que tem como foco principal um abuso sexual e que te faz, em certos episódios, ficar com raiva da vítima e fazer você se sentir culpado por causa disso – e tudo intencionalmente – não é uma série qualquer. Contudo, esse é só o começo.
Além do que se vê
A série te faz questionar tudo, do que realmente configura um abuso sexual (vai bem além do que a gente imagina que é) a descobrir os limites do uso das redes sociais. De descobrir que uma pessoa que você taxava como errada quando mais jovem pode se tornar uma aliada a ter que refazer a imagem que você teve a vida inteira de seus pais. E, como dito anteriormente, também fala sobre como é perigoso seguir uma pessoa cegamente, mesmo que essa pessoa seja a heroína da história. Porque todos erram, e tudo bem errar. Além disso, tem toda a discussão sobre machismo na nossa sociedade, que acaba por gerar a cultura do estupro, e de vários pormenores sobre assédio e abuso sexual que são informações muito válidas para qualquer ser humano vivo.
Ou seja, é uma série sobre tudo. Não pense, porém, que por ser uma série que fala sobre muitos assuntos, não se aprofunda em nenhum. Muito pelo contrário. Todos os temas acabam tendo ligação. Aliás, vão costurando a trama e contando a história dos personagens, com seus defeitos e qualidades, erros e acertos, todas as suas complexidades e não obviedades.
Personagens reais e identificáveis
Em I may destroy you, apesar de o foco estar em Arabella, a protagonista, todos os outros personagens têm tanta profundidade quanto a principal. Suas histórias têm tanta importância quanto a de Arabella, afinal, ajudam a perceber várias questões da sociedade e suscitam debates necessários. Como, por exemplo, quando um amigo da protagonista também sofre abuso, mas, ao contrário da amiga, não encontra receptividade na polícia ao reportar o crime. Ou quando outra personagem descobre que seu date é um homem trans e não sabe o que fazer com a informação. Assim, precisa lidar com sua própria transfobia. E até o roommate de Arabella, que não aparece tanto durante a série, mas podemos perceber que lida com seus próprios problemas de insegurança social e, provavelmente, falta de autoestima.
Sem dúvida, Michaela aborda com maestria esse imenso leque de questões problemáticas na sociedade, e de forma natural. Consegue mostrar, inclusive, qual o melhor jeito de ajudar uma pessoa que sofreu um abuso e está sofrendo, já que ninguém aprende esse tipo de coisa na escola. São 12 episódios que o espectador mal vê passar e que, apesar do tema pesado, são facílimos de maratonar. Porque o texto flui, as atuações são incríveis e realistas. O figurino é lindíssimo, além de várias outras qualidades. O último episódio, inclusive, é uma obra-prima que, se até então o espectador não tinha se dado conta desse fato, desmonta totalmente a dicotomia bem versus mal. Ou seja, dá para entender facilmente porque I may destroy you está sendo considerada a melhor série de 2020.
Por fim, assista ao trailer da série:
I may destroy you é coprodução britânica entre BBC e HBO e está disponível para streaming na plataforma HBO GO.