O protagonista de “Nosso Amigo Extraordinário” (Jules) permitiu que eu lembrasse de meu pai. Sempre preocupado com o coletivo e com a melhoria dos seus arredores. Um senhor independente, atento. Ver Ben Kingsley como Milton fez com que eu imaginasse meu pai naquela situação, encontrando um extraterrestre no quintal.
“Nosso Amigo Extraordinário” (Jules) é uma comédia dramática que conta com uma excelente atuação de Ben Kingsley, vencedor do Oscar em 1983 por “Gandhi”. O filme tem direção de Marc Turtletaub, o qual produziu sucessos como “Pequena Miss Sunshine” e “A Despedida”. Com essa experiência de participar de filmes cativantes, Marc conduz a história de uma maneira bem natural e entrega uma daquelas comédias leves e divertidas a partir de situações cotidianas, porém extraordinárias.
A princípio, Milton Robinson (Kingsley) é um típico senhor idoso que vive sozinho, com seus arrependimentos e dificuldades de comunicação com os filhos. Até que um OVNI cai em seu quintal. Em seguida, Sandy, numa ótima interpretação de Harriet Sansom Harris, e Joyce, muito bem representada por Jane Curtin decidem auxiliar o extraterrestre a retornar para casa. No entanto, nesse meio tempo, o trio vai se conectando mais e mais com o alienígena.
Etarismo
O relutante Milton começa a contar para outras pessoas sobre o caso, contudo, logicamente, ninguém acredita, e assim começam a duvidar de sua saúde mental. A partir disso, a obra aborda o etarismo, as dificuldades do envelhecimento, os primeiros sinais de doenças e relações familiares. Tudo sem aprofundar muito, o que é sim uma falha do roteiro de Gavin Steckler.
A naturalidade das atuações do trio principal e das situações é o que acaba tornando tudo tão engraçado. A química entre eles e a expressividade que passam do alto de seus talentos é o principal destaque do longa. Para mim foi impossível não lembrar de “Cocoon” (1985), um clássico que vi diversas vezes na televisão quando criança e que também mostra o encontro de idosos com aliens de uma forma engraçada, positiva e emocionante.
É hilário e demonstrativo como os idosos ficam realizados de alguém simplesmente escutá-los sem julgamentos, ou desacreditando e subestimando suas visões e opiniões. Sendo assim,
o filme acaba trazendo assuntos bastante contemporâneos e valorizando essa escuta atenta, tão necessária para uma harmonia palpável e para a felicidade, ou seja, uma relevante mensagem sobre respeito e gentileza.
Aliás, veja o trailer, e siga lendo:
O filme vai seguindo de uma maneira simples, mas fluida, tranquilamente, sem deixar o espectador perder o interesse e gerando pequenos desafios e aprendizados para os protagonistas, em especial, Milton.
“Nosso Amigo Extraordinário” ainda usa da metalinguagem de uma forma eficiente ao brincar com o medo dos protagonistas ao lembrar de outros filmes de extraterrestres. Além disso, como já é tradicional no cinema e outros meios, os gatos surgem como animais representantes de portais para outros mundos, nesse caso aqui de uma forma um pouco diferente.
Afinal, o filme acaba sendo extraordinário em sua simplicidade, apesar da citada falta de uma maior profundidade. Mas dentro da sua proposta de ser uma comédia leve com um recado atual e necessário funciona bem. Reitero que a atuação de Ben Kingsley é incrível, com seus pequenos trejeitos, olhares e gestos. Somente isso já valeria o ingresso. Emociona.
Não à toa, a comédia de Turtletaub recebeu elogios da crítica, com uma aprovação de 84% no Rotten Tomatoes, e 90% de aprovação do público. O alien amigável foi vivido pela dublê Jade Quon, que usou 11 próteses individuais, todas criadas por Joshua Turi, vencedor de três prêmios Emmy por seu trabalho no programa humorístico Saturday Night Live (SNL). O fato do ET não ser criado por computação gráfica ajuda na veracidade do que vemos, indubitavelmente.
“Nosso Amigo Extraordinário” tem uma trilha sonora funcional composta por Volker Bertelmann, pianista vencedor do Oscar em 2023 por seu trabalho no drama de guerra “Nada de Novo no Front”.
Nos Estados Unidos, o filme teve uma bilheteria de mais de 1,5 milhões de dólares em sua primeira semana de exibição. Afinal, nos cinemas brasileiros, chega em 7 de setembro, com distribuição da Synapse Distribution. É uma boa pedida.
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