Regras do Amor na Cidade Grande vale a pena? Em 1997, Julia Roberts estrelou O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997, P.J.Hogan), uma produção na qual a protagonista stalkeia, mente e ilude, tudo com o intuito de tentar estragar o casamento do melhor amigo com uma jovem e inocente Cameron Diaz. No final original da produção, Julianne Porter encontrava um outro homem na cerimônia de casamento, e tudo indicava que ele seria o novo amor de sua vida, porém, após recepções mistas em sessões testes, foi gravado um novo e grandioso final com a presença de um personagem favorito pelo público: George, o “amigo gay”.
Presente ao longo da produção como conselheiro e apoio emocional, George mais uma vez salvou Julianne de sua tristeza, como dito em sua fala final: “pode não haver casamento, pode não haver sexo, mas haverá dança”. Ao terminar de ver o agradável Regras de Amor na Cidade Grande, não consegui deixar de lembrar deste filme e principalmente desta fala, uma que sintetiza tão bem um verdadeiro amor de amizade.
Baseado no livro homônimo de Sany Young Park, Regras do Amor na Cidade Grande conta a amizade de Jae-Hee, uma jovem livre e ousada, e de Heung-Soo, um homem atraente e homossexual. Ambos constroem uma forte amizade e decidem viverem juntos, vivendo desavenças e passando uma lição importante para o espectador, uma que falta em muitos filmes da contemporaneidade: o verdadeiro amor e cuidado pode vir de muitos outros lugares além do romântico.
O cinema coreano supreende cada vez mais, ganhando destaque por conta de grandes diretores como Bong Joon Ho, produções de peso como Round 6 (2021, Hwang Dong-hyuk), e obviamente uma quantidade enorme de K-dramas, doramas coreanos, um mercado que encontrou um público enorme por conta da Netflix.

Kim Go-eun e Steve Sanghyun Noh em cena de Regras do Amor na Cidade Grande- Divulgação A2 Filmes
Com tudo isto, percebemos quão amplo a cultura cinematográfica sul coreana consegue ser, talvez por isto que Regras do Amor na Cidade Grande tenha me surpreendido tanto, apresentando pouco contato com o cinema coreano como um todo, ter a experiência de presenciar um filme com um protagonista abertamente gay e uma mulher livre e confiante, algo sempre muito gostoso de se ver no cinema, foi uma experiência única, principalmente com o plano de fundo sendo a vida social e boêmia dos jovens millenials da Coreia do Sul, algo que não temos tanto contato em grandes produções cinematográficas do país.
Apresentando um co-protagonismo, Jae-Hee e Heung-Soo se conhecem na universidade e decidem morar juntos. Este clima doce, auxiliado por uma cinematografia que permite interações técnicas e artísticas como o uso de câmera lenta, foco doce para enfatizar a beleza de Jae-Hee, ou o olhar apaixonado de alguém, permite muito conforto auxiliado por um roteiro que é sua maior força e uma de suas maiores defasagens.
Confira o trailer de Regras do Amor na Cidade Grande:
A premissa do filme é simples e agradável, a interação leve entre ambos os protagonistas carrega a produção, porém, Regras do Amor na Cidade Grande se segura tanto neste conforto, que mesmo quando ocorrem momentos de tensão, como o momento que Jae-Hee é violentada por seu namorado, ou as reflexões internas sobre aceitação e auto imagem, por conta do clima agradável criado no filme, o drama e a força da cena se perde, em nenhum momento sentimos uma grande tensão, exceto em uma cena no terceiro ato que aparentava alterar o filme todo, porém, era somente a produção subvertendo nossas expectativas com o intuito humorístico.
O humor da produção é mesclado harmoniosamente com os momentos de drama presentes em Regras do Amor na Cidade Grande, surpreendendo no fato como até mesmo o filme Me Chame Pelo Seu Nome (2017, Luca Guadagnino), apresenta uma função narrativa ao longo da produção, agindo como uma alegoria para a discussão da sexualidade de Huang-So.

Kim Go-eun e Steve Sanghyun Noh em cena de Regras do Amor na Cidade Grande- Divulgação A2 Filmes
Diferente de George em O Casamento do Meu Melhor Amigo, a homossexualidade de Huang-So é explicita, auxiliando ainda mais o contexto temático da produção: a amizade entre dois solitários millenials, dentro de uma das maiores cidades do mundo. Uma rebelde que não é aceita em nenhum lugar, sendo sempre taxada como delinquente, e um gay que não consegue se abrir nem mesmo para a própria mãe. Os dois não se uniram somente por afinidade, mas, porque nesta amizade encontraram algo que ninguém mais havia os dado até o momento: empatia e compreensão.
Ao final de uma comédia romântica, ou um dorama romântico, o sentimento que deve perseverar é o agradável, aquele conforto que o espectador sente, que nos faz sentir que no fim as coisas podem dar certo, mesmo quando tudo aparenta tão negativo. Regras do Amor na Cidade Grande nos passa este sentimento, principalmente em sua cena final em que do mesmo modo que em O Casamento do Meu Melhor Amigo, ocorre uma dança. Apesar de não apresentar tanta profundidade ou tensão dramática, Regras do Amor Na Cidade Grande é um adorável filme que nos faz refletir sobre escolha e diferentes amores que encontramos ao longo de nossas vidas.
Regras do Amor na Cidade Grande estreia nos cinemas no dia 10 de Abril de 2025.
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