Leandro Assis é o cara das séries “Confinada” e “Os Santos”, juntamente com Triscila Oliveira (@soulanja). A cada dia, esses quadrinhos alcançam mais seguidores nas redes sociais. Ele é roteirista, trabalhou na Conspiração, onde participou de séries como ‘Mulher Invisível’, ‘Surtadas na Yoga’ (“era engraçadíssima de fazer”), e ‘Magnífica 70’ na HBO. Além disso, fez o longa-metragem “Sob Pressão” que deu origem a premiada série da TV Globo. Contudo, Leandro Assis agora está focado nos quadrinhos e aumenta em números sua conta no instagram @leandro_assis_ilustra. Dentro dessa área ele começou a ganhar reconhecimento ao produzir as estórias do Molusco, personagem que surgiu nos vídeos Moluscontos e chegou a outras mídias, como a nona arte.
Leandro comentou sobre a paixão dos fãs pelo Molusco, Dentola e suas aventuras no Mundo Molusco. Molusco é um personagem ligado a causa canábica. Leandro Assis afirma que não é usuário, mas é a favor da legalização da cannabis, em especial para fins medicinais. “Sou contra proibir qualquer coisa, acho que não adianta”, disse. Ele é a favor que a planta seja estudada e seus benefícios utilizados o máximo possível.
A simpatia do artista, que hoje mora no Porto, em Portugal, é contagiante. Ele fez questão de louvar a Triscila Oliveira (@soulanja e @afemme1), cyberativista que trabalha com ele na produção dessas estórias. Durante a pandemia lançaram a série ‘Confinada’ que vem fazendo muito sucesso.
Pachaurbano
Leandro recomendou a leitura daquele que considera um dos mais geniais quadrinistas brasileiros, o Marcelo Quintanilha, autor de obras como Tungstênio, Luzes de Niterói, Talco de Vidro, além de Lourenço Mutarelli. Também indica @pachaurbano no instagram. Aliás, declarou que foi a partir deste último que passou a utilizar o sistema carrossel para colocar suas tiras na rede social, passando de imagem para imagem.
Sobre algumas de suas tiras que foram retiradas do ar, considera censura. Acredita que o instagram não consegue avaliar direito os assuntos relevantes abordados nos quadrinhos.
Alta Sociedade Baixa
Também tem colocado tirinhas com dicas de livros e sugere a série “Nada Ortodoxa” na Netflix para quem quiser ver audiovisual. Porém, o que indica mesmo é a série “Alta Sociedade Baixa” que está participando agora:
“Tem uma série do instagram que foi lançada agora que estou tendo a sorte de participar fazendo uma ilustração no final dos episódios. É uma série de comédia com humor muito bacana, muito sarcástico, irônico, com diálogos sensacionais. A série é do Roberto Pita e da Marina Jorge e tem um elenco incrível.”
A série fala sobre o momento da quarentena sendo que está sendo produzida por cada ator em suas própria casa. Ou seja, cada um filma sua parte e na edição reúnem tudo. É o exemplo que ele dá de como a arte está funcionando durante a pandemia. A hora em que Leandro se sente mais criativo é a madrugada, mas diz que, com o trabalho em produtora, existe a obrigação de ter criatividade o tempo todo. Inclusive, diz que roteiro é algo chato de fazer. “É uma coisa doída, sofrida. O desenho, o quadrinho, não”, afirma. Acaba trabalhando mais durante a noite por causa da tranquilidade que há, porém faz muito de suas artes nos cafés também. Agora está impedido de fazer isso devido a pandemia.
“Estou sentindo muita falta disso, mas sentindo falta principalmente da minha filha ir para escola. (risos)”
Pandemia
Está com menos tempo para desenvolver as tiras por causa disso, os cuidados com a casa e a família aumentaram e é impossível ficar entediado. Por isso, enquanto as tiras “Os Santos” saíam duas vezes por semana, “Confinada” só sai uma. Diretamente de Portugal, indica filmes e artes que se relacionam com suas tiras como os filmes “Que Horas Ela Volta?”, “Histórias Cruzadas” e “Terra Estrangeira”. Em seguida, falou de quadrinhos como os de Marcelo D´Salete (Angola Janga) e André Diniz (Morro da Favela). Em uma comparação feita por um internauta com Henfil, agradeceu, lisonjeado. Musicalmente, gosta do que traz uma crítica social como Emicida e Cartola, mas, às vezes, usa música para escrever. “O Criolo é um que me ajuda a entrar no clima”, diz.
“Acho que tem que usar as tiras para bater em quem está no poder.”
Laerte e ditadura
Perguntei se ele acreditava em uma volta da ditadura no Brasil. “Talvez eu seja pessimista demais, mas quando começou essa história do Bolsonaro ser candidato e quando anunciou que o vice dele seria um general lá atrás, para mim era certo que iria haver uma ditadura no Brasil… Ainda tenho medo desse cenário sim. Não tenho nada contra os militares quando eles estão na função deles, mas quando junta com política, acho tenso. Acho que não é uma coisa que devesse ser feita. Então vamos ver, tomara que seja só um temor, um pessimismo infundado meu.”, respondeu Leandro.
“Tenho um carinho especial pela Laerte. Sempre fui fã desde lá do início. A maneira de desenhar, um desenho, não sei explicar, uma maluquice que tem na minha cabeça quando vejo o desenho… Eu comprava o quadrinho e a primeira coisa que fazia era ficar vendo todos os desenhos, depois eu lia, depois eu via os desenhos de novo. O desenho sempre foi uma coisa importante para mim. E Laerte antigamente, e ainda hoje, é uma coisa do traço ágil, silencioso. Eu pensava assim, sei lá porque. E os temas, os assuntos delas, dos quadrinhos, sempre presente a transformação do ser humano. Sou apaixonado pelo trabalho dela.”, declarou Leandro.
Muita gente elogia a coragem de Leandro Assis em fazer esses quadrinhos, contudo, ele disse que nunca sentiu dessa forma, nunca sentiu que deveria temer algo além de xingamentos. “Para mim o mais difícil de fazer esses quadrinhos é expor pessoas que conheço. Pessoas da minha família, ou amigos. Porque eu uso alguns diálogos de pessoas que eu ouvi. Isso acho mais complicado.”, afirmou.
Confinada e Gabriela Pugliesi
Leandro tinha medo de ser chamado de machista devido ao trabalho em “Confinada” inspirado em algumas blogueiras brasileiras, mas Triscila Oliveira afirmou que não. Muitos acham que Gabriela Pugliesi é a inspiração. Leandro confirma que ela é uma delas e vem “lutando para ser a maior”, mas que eles leram livros sobre blogueiras e pesquisaram bastante sobre o assunto antes de começarem a série que critica, entre outras coisas, a romantização da quarentena. “A pessoa está tão desconectada da realidade que não percebe o quão tóxico seu discurso é e o quanto outras pessoas não tem a mesma possibilidade dela, né? Acho é por aí”, falou Leandro.
Questionei sobre a arte dele como ferramenta de transformação e ele respondeu: “Muitas pessoas já deram relato que passaram a ver as coisas de uma forma um pouco diferente, policiar a maneira de tratar os outros e que reconheceram, viram nas tiras que alguns comportamentos que tinham não eram legais.”
“No Brasil temos a tendência de esperar um salvador. Lula, Bolsonaro, Vargas. É uma característica não só do brasileiro, da América Latina em geral. Isso atrapalha, eu acho.”
Sobre como se sente ao fazer sua arte: “O principal sentimento que sinto é ódio, indignação. Indignação e ódio da situação de viver em um país (Brasil) que ainda é desse jeito”. A conversa com Leandro Assis durou duas horas em duas lives seguidas no instagram @viventeandante. Foram muitas risadas a partir dos comentários e elogios dos internautas e várias reflexões sobre o poder da arte e o trabalho contundente que ele vem fazendo junto com Triscila Oliveira. Não é por acaso que eles vem tendo tanta repercussão. Os projetos futuros de termos tudo em formato físico existe. Aguardamos ansiosos!