Pacificado de Paxton Winters não é mais um “favela movie” em que o foco está na violência. O filme quer mostrar quem dão aqueles que sofrem com o abandono do Estado e precisam de união para sobreviver. Na entrevista com o diretor e os atores Bukassa Kabengele e Jefferson Brasil, eles evidenciam a importância da comunidade do Morro dos Prazeres para retratar com fidelidade suas vivências.
Winters conta que sua vontade em retratar essas histórias nasceu a partir do convívio com os moradores, já que ele morou lá por 10 anos.
“A primeira coisa que me impactou foi essa fábrica de comunidade. Onde eu morava em NY, eu não conhecia meus vizinhos, talvez só um, mas não éramos próximos. Mas lá (Morro dos Prazeres), com o tempo não conheci só meus vizinhos mas os filhos e netos deles. (…) é um organismo onde as pessoas estão sempre se ajudando, eu queria morar em um lugar com esse senso de comunidade.”
Filho do antropólogo Kabengele Munanga, o ator Bukassa Kabengele compartilha sua visão sobre a importância de um filme que coloca os holofotes nos problemas e na convivência entre moradores.
“Meu sentimento é de que se tem algo mais próximo de um quilombo são as comunidades. Em minha infância no Congo, eu já vivi várias situações, comuns em países que sofreram a violência do processo colonial, e penso como a gente sobrevive e consegue passar o dia a dia da nossa existência driblando a falta pela pobreza. Tem um espírito de comunidade, de ressignificar as nossas trocas. (…) Temos o tempo todo que negociar com esse lugar onde essas populações com suas histórias foram excluídas dos projetos sociais.”
O ator ainda reflete sobre como a violência fica em segundo plano no longa.
“(…) a violência nesse filme não está baseada no bang bang, ela está expressa na falta de dignidade que as pessoas têm para serem inseridas dentro de uma sociedade e a luta delas para ter alicerces básicos para elas se enxergarem como ser humano. É o grande trunfo que esse roteiro nos traz.”
O também ator Jefferson Brasil elogia o cuidado da equipe para manter um realismo não só na história mas também nas gírias, nos modos de agir e pensar dos personagens. E esse cuidado veio de escutar os moradores e ter uma troca, que é a essência da comunidade.
“Sobre a questão do linguajar e tudo mais, quando você está dentro da comunidade e começa a enxergar como as pessoas falam, no automático começa a entender que tem uma forma diferente ali de se comunicar. E a gente teve todo o carinho e cuidado de ver a todo momento nas gravações se estava da forma como a gente queria.”
Jefferson Brasil ainda complementa falando da importância de Pacificado ter uma protagonista negra e mostrar a vivência das mulheres.
“A Tati é uma menina negra e que com pouca idade está tendo responsabilidades de uma mulher negra. A questão da mulher negra não ter uma família estruturada, não ter apoio e a dificuldade de ser inserida nesse mundo que só massacra. Se é difícil para a mulher, imagina para a mulher negra. (…) a gente precisa de mudança, inseri-las nos locais de voz, onde elas realmente precisam estar.”
Pacificado estreia dia 11 de agosto nos cinemas.
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