O ônibus é o 422.
Walmir é uma pessoa em situação de rua.
Jorge é um cidadão de bem.
Lopes é um senhor aposentado, de bem também.
Verônica é uma menina de bem e cheia de sonhos.
Jorge está em um ponto de ônibus.
WALMIR : Olá, senhor, boa tarde.
JORGE: Desculpe, querido, não tenho nada.
WALMIR: Não, doutor. Não é comida não. Queria uma cachacinha mesmo, se o senhor puder pagar pra mim.
JORGE: Infelizmente não tenho nada mesmo.
Walmir sai resmungando, Lopes se aproxima.
LOPES: Tava te pedindo dinheiro pra cachaça, né?
JORGE: Sim…a cidade tá assim agora. Só perturbação.
LOPES: Pior que isso aí é tudo vagabundo. Duvido que ia comprar cachaça. Provavelmente ia pegar seu dinheiro e gastar todo em comida. Pode apostar.
JORGE: Foi o que imaginei. É golpe pra ir e comer um pastel, tomar um suco, essas coisas…
LOPES: Sim. Outro dia vi um monte ali embaixo do viaduto. Tudo comendo salgado, coxinha, joelho… Tinha um até de prato feito.
JORGE: Noiado de marmita.
LOPES: É foda. Eu não dou mais. No máximo, vou lá no bar eu mesmo e compro a cachaça para pessoa.
Verônica se aproxima.
VERÔNICA: Vocês estão falando do morador de rua? Desculpa, acabei ouvindo.
LOPES: Sim, essa região não é mais a mesma.
VERÔNICA: Verdade. E querem o que? Depois esse pessoal da rua fica aí todo alimentado, andando pela cidade.
JORGE: Tirando nossa segurança.
LOPES: Agora eu ando tendo que atravessar a rua. Se eu vejo um vindo na minha direção, com cara de barriga cheia, vou pro outro lado.
Ônibus 422 chega em alta velocidade e dá uma freada quase mortal para os passageiros. Uma passageira bate a cabeça e desmaia, seu braço fica caído pra fora.
LOPES: Bom, meu ônibus chegou. Boa tarde, gente.
Lopes entra no ônibus.
VERÔNICA: Estranho, né? Sujeito puxando assunto assim.
422 parte, a porta fecha com a bolsa de alguém pra fora. Com o tranco brusco da arrancada, moça desmaiada acorda novamente e volta a mexer no celular.
JORGE: Sim, sempre fico atento. A pessoa vem como se fosse aplicar algum golpe, ou como se fosse furtar sua carteira. Mas no fim o que quer mesmo é fazer amizade.
VERÔNICA: Isso. Depois a gente tá cheio de amigo aí.
JORGE: Verdade. Tem que ficar de olho aberto.
Um Uber chega.
VERÔNICA: Bom, vou lá. Bom dia.
Verônica entra no carro.
JORGE: Até! Bom dia.
VERÔNICA (no carro, para o motorista): Olá, tudo bem? Sai rapidinho, por favor, acho que esse cara aí tava quase me pedindo uma informação.
Uber arranca.
FIM
Fantástico, gênio. ??
Excelente!