O Melhor Está Por Vir (The Best is Yet to Come) é uma comédia que guarda uma sutil concepção da vida, da nossa impossibilidade de mensurar o agora ou até o pra sempre. Com direção de Matthieu Delaporte e Alexandre De La Patellière, a obra traz, logo de início, uma pista simbólica do desenrolar dos acontecimentos: uma espécie de mudança. Mudança tanto em relação ao personagem César (Patrick Bruel), quanto em relação ao personagem Arthur Dreyfus, interpretado por Fabrice Luchini. César tem seus bens confiscados, o que modifica sua vida e seus hábitos, enquanto Arthur leva a filha para a casa da ex-esposa. A nova rotina de Arthur Dreyfus já está instaurada há cinco anos, mas o confisco dos bens de César é recente; no entanto, não importa o tempo, já que o Dr. Dreyfus ainda utiliza a aliança de casamento, aguardando, quem sabe?, que sua vida volte ao normal.
Carcinoma
O começo de O Melhor Está Por Vir não é dos melhores, poderia até dizer que é ruim. César ameaça se jogar da sacada do prédio onde vivia com a companheira Lúcia para que não levassem seu carro, mas acaba por realmente cair. Ferido e machucado, procura seu grande amigo, o Dr. Dreyfus, para fazer um exame de imagem do tórax – com o cartão de seguro saúde de Arthur.
No dia seguinte, o resultado sai no nome do médico, mas descobre-se que César tem um câncer de pulmão já em metástase, seu tempo estimado de vida é de seis meses. Mas, pensando ser Arthur o doente, César leva até à casa do amigo a muçulmana Randa, que mantém um grupo de apoio a pacientes com câncer, tendo ela própria vivenciado a doença. Na verdade, ele queria que o amigo desse em cima da mulher, tendo preparado um bom cardápio para ambos desfrutarem de momentos de intimidade.
O médico precisa contar a verdade ao amigo, mas não consegue se expressar de forma adequada, o que gera um grande mal-entendido, já que o exame com o diagnóstico de carcinoma pulmonar de César saiu em nome de Arthur. Até esse momento do filme, sabemos que quem sofre dessa doença é César. Na casa do médico, César fala que vai ser pai, dos planos para o futuro… Apenas planos soltos. De modo que César se convence de que Arthur está muito doente e promete a si mesmo e ao amigo, que é todo certinho, que fará de tudo para que se divirtam e aproveitem o melhor desses tempos juntos. Através de uma atitude inusitada de César, Arthur consegue uma semana de folga no trabalho. Com isso, embarcam em aventuras. Vão à antiga escola, fingem ser namorados em um restaurante chique, andam de moto, caminham, conversam, vão à uma boate.
Doença encoberta
Esses acontecimentos mudam também a relação de Arthur com a filha. César se reaproxima do pai e pede dinheiro emprestado para levar o amigo à Índia, a fim de que se tratasse com um curandeiro. E é nessa viagem que nós descobrimos que Arthur tem
câncer de pele. César acredita que foi um milagre! A sutileza que a arte demonstra. A doença de Arthur, a encoberta doença de Arthur, simbolizada por um câncer considerado superficial, mostra-nos como pode ser uma vida na rotina e na mesmice, sem amor, sem afeto, condições de ousadia em tempos difíceis. Enquanto a doença de César representa uma vida profunda em suas desmedidas, viveu até acabar, bebeu o último gole de vida
É na Índia que Arthur consegue, finalmente, contar toda a verdade ao amigo, que se afasta no silêncio da multidão. César afasta-se de Arthur, mas eles fazem as pazes enquanto há vida. No enterro de César, depois de um emocionado discurso, Arthur recebe do amigo palavras de encorajamento para que mude o rumo das situações e torne o porvir muito melhor.
O Melhor Está Por Vir, longa-metragem de Matthieu Delaporte e Alexandre De La Patellière, protagonizado por Patrick Bruel (de “Qual É o Nome do Bebê”) e Fabrice Luchini (de “O Mistério de Henri Pick”), está nos cinemas brasileiros desde 5 de março, com distribuição nacional Paris Filmes.