A comédia brasileira é, muitas vezes, malvista pelo público. Na verdade, infelizmente, o cinema brasileiro é muito malvisto pelo brasileiro. Literalmente. As salas de cinema lotam mais com filmes de heróis do que com nossos filmes, que, além de serem produzidos por nós, gerarem empregos, etc., mostram o dia a dia do brasileiro, a nossa realidade. Isso se dá pela quantidade absurda de marketing que os filmes estrangeiros, principalmente os de Hollywood, fazem. Não dá pra competir. Pois eu gostaria que desse pra competir quando se trata de O porteiro. Gostaria que o público brasileiro saísse de suas casas e lotasse as salas de cinema pra assistir esse filme. Porque ele é uma delícia. E é um sopro de luz nessa vida conturbada que nós temos.
Adaptado de peça
Aviso: não serei imparcial nessa crítica. Não tem como. Eu me emocionei de verdade com O porteiro. Me emocionei mais ainda quando participei da coletiva de imprensa e pude conhecer um pouquinho mais de cada um que fez o longa acontecer. Atores, diretor, produtores, mas, principalmente, Alexandre Lino. Era nítido em cada palavra como esse projeto é querido a ele, que dá corpo ao protagonista do filme, o porteiro Waldisney (lê-se “váldisnêi”). Desde a sua criação, como peça de teatro.
Para compor o personagem, Lino e o diretor, Paulo Fontenelle, conversaram com porteiros reais. Segundo eles, não queriam fazer um personagem estereotipado. Como tantos que vemos por aí. Principalmente por Lino ser nordestino, de Pernambuco, não queria reforçar os preconceitos e estereótipos já tão vistos em obras audiovisuais (e também na sociedade), tanto com porteiro como com nordestinos. Portanto, para criar esse porteiro, conversou com muitos trabalhadores. Alguns nordestinos, outros não. Muitos vindos de outros lugares do Brasil para a cidade onde trabalham, outros nascidos na própria cidade. E conseguiu criar esse personagem doce e engraçado. Bondoso, mas esperto. Que ajuda a todo mundo e tem amor pela profissão, por seu estado natal e, principalmente, por sua família.
Dificuldades da adaptação
O porteiro – a peça ficou em cartaz por seis anos. Ainda está, em São Paulo. É sucesso nacional. Passou por sete estados e pelo Distrito Federal, teve mais de 110 mil espectadores. Sucesso de crítica e de público. Porém, a peça é um monólogo. Em tese. Waldisney precisa assumir a frente de uma reunião de condomínio em que o síndico não comparece. A partir de então, o público vira parte do espetáculo, sendo os moradores daquele condomínio. Como, então, transformá-la em longa-metragem, em que há mais personagens?
Paulo Fontenelle disse, em coletiva de imprensa realizada no dia 24 de agosto, que precisou criar de fato os moradores do condomínio. Escreveu novos personagens e deu histórias para eles. Manteve a personalidade de Waldisney, que é o foco do longa, e criou um enredo. O ápice do filme é a peça: a reunião de condomínio sem síndico.

Novidades
Os personagens criados seguem a linha de raciocínio do protagonista: personagens totalmente verossímeis. Ainda mais se passando em um condomínio da zona sul do Rio de Janeiro. Com um elenco de estrelas como o que o diretor conseguiu juntar, não tinha como dar errado. Aliás, é um elenco feito de amigos. Tanto Alexandre Lino quanto Paulo Fontenelle convidaram amigos seus ou atores com quem já haviam trabalhado. Isso porque era um projeto muito importante para ambos e queriam pessoas que entenderiam sua importância. De fato, segundo todos os presentes na coletiva (Aline, Alana, Daniela, Maurício e o próprio Lino), o processo de gravação foi muito gostoso exatamente por ser repleto de pessoas que entendiam o propósito do filme. E se gostavam. E é perceptível na tela que os atores se divertiram fazendo a comédia.
Mas sobre o que é, de fato, O porteiro?
O porteiro conta a história de Waldisney, porteiro de longa data de um prédio. Lá, ele é querido por todos. Além disso, sempre que precisam resolver algo, Waldisney é requisitado. Por conta disso, acaba chamando a atenção – negativamente – do novo síndico do prédio. Ele é contratado, não é morador, como o último síndico. E, por conta disso, não tem um laço de afetividade com Waldisney, e implica que ele nunca está na portaria quando é necessário.
No mais, o espectador também conhece a família do porteiro. Ou parte dela, já que duas filhas nunca aparecem porque estão na faculdade. A mais nova, porém, que ainda está no colégio, mora com os pais. Interpretada por Alana Cabral, ela tem muito orgulho de Waldisney. É claramente mais próxima do pai, mas ele faz questão de frisar que sua mãe, interpretada por Daniela Fontan, também trabalha muito. Daniela, inclusive, é um dos pontos fortes do filme e que mais fará o público rir. Ela interpreta uma mulher forte, irritadiça e que não tem papas na língua. Outro fator de muitas risadas serão as participações de Cacau Protásio e Suely Franco. Cacau na pele de Rosivalda, a faxineira do prédio que tem uma queda por tudo quanto é homem. E Suely como uma das moradoras. E mais não digo senão perde a graça.
Atores conhecidos do público
Por falar em Suely Franco, o rol de moradores desse prédio é uma chiqueza só! Além de Suely Franco, também habitam os andares (oi o oitavo andar) Rosane Gofman, Aline Campos, Heitor Martinez, Juliana Martins, Andréa Veiga e José Aldo, como ele mesmo. Uma curiosidade sobre os condôminos é que um deles foi interpretado pelo porteiro do prédio onde o diretor vive. Ele comentou que era importante levar um porteiro de verdade para as telas, como forma de homenagem a essa profissão tão importante, mas tão desvalorizada. Além dos condôminos, também estão no filme Maurício Manfrini, Bruno Ferrari, Raíssa Chaddad, Cristiano Garcia e Renato Rabelo.
Para dar um gostinho na boca, fique com o trailer:
Para toda a família
O porteiro é uma comédia superleve. Não se utiliza de artifícios fáceis, como palavrões e piadas prontas, para fazer rir. Ele é até um pouco palhacesco de vez em quando. Alexandre Lino disse que sempre se espelha em Charles Chaplin para fazer seus personagens. E ele entrega um personagem na medida. Nem bobo demais, nem espertinho demais. Waldisney é cativante. Assim como todo o filme. Os personagens são redondinhos. As histórias são redondinhas, nenhuma ponta fica solta. E os enredos criados são muito divertidos. Ajuda, também, ter cachorros no elenco, que fazem a gente soltar uns suspiros de “que fofura!”. Ajuda ter um elenco comprometido a divertir o seu público. A fazer o brasileiro voltar a ir ao cinema e se divertir em comunhão.
Coletivo
Segundo Daniela Fontan, “O cinema é uma arte que você absorve por inteiro. É coletivo, você sente no corpo inteiro, com todos os sentidos. E areja, coloca ar nas relações.” O porteiro vai, com certeza, colocar ar nas relações. Nas famílias, tão valorizadas no filme (deixando claro que as famílias formadas, sejam de sangue ou não, e que fazem bem). E na relação com os que moram perto de você e com quem trabalha onde você mora.
Esse filme, ao meu ver, valoriza pessoas. Como disse Paulo Fontenelle, mostra o porteiro com respeito e cuidado. Como eles, e como todos deveriam ser tratados. Ensina a valorizar e a respeitar a todos, não importa o status de sua profissão. Faz olhar pra dentro e faz rir por fora. É um filme que todo mundo deveria assistir. É uma verdadeira delícia.
Estreia
O porteiro entra nas salas de cinema do Brasil no dia 31 de agosto. Lembrando que a primeira semana é muito importante. Mostra que o brasileiro quer assistir a ele mesmo nas telas. Se as salas encherem na primeira semana, os donos das salas percebem a ânsia por filmes nacionais e além de manter por mais tempo aquele filme lá, vai querer colocar mais e mais cinema nacional em sua sala. Então vamos encher as salas de cinema quando sair um filme brasileiro, gente!
Por fim, o diretor disse que fizeram uma sessão especial do filme só para porteiros e suas famílias. E muitos deles disseram que eram exatamente como Waldisney e sua esposa. E ficaram felizes por, finalmente, serem retratados com respeito nas telas. Porque é só isso que todo mundo quer, conseguir se enxergar.
Dados técnicos
O PORTEIRO
Brasil | 2023 | Comédia
Direção e roteiro: Paulo Fontenelle
Produção: Bronze Filmes
Coprodução: Kimonos e Cine Teatro
Distribuição: Imagem Filmes
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