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Cinema

Os erros do Festival De Volta Para o Cinema | Por Felipe Novoa

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De Volta para o cinema e Érico Borgo

Vinte e seis filmes (vinte e um internacionais), mais de mil salas de exibição e provavelmente centenas de infecções e mortes por Covid-19. Estes são os números do Festival De Volta Para o Cinema, idealizado pelo influencer Érico Borgo, que vai estrear em 15 dias.

Por mais que este Festival De Volta Para o Cinema tenha como objetivo jogar uma boia para a indústria do cinema, o que acontece é que essa boia vem revestida de chumbo. A larga expansão da pandemia no Brasil não para, e não temos uma previsão de melhora. Mesmo mesmo assim a classe empresária empurra uma reabertura precoce quando deveríamos estar num momento de lockdown completo. Enfim, o descaso dos realizadores com a vida dos funcionários dos cinemas, da equipe de limpeza e dos próprios clientes é desumano. Imagem

Lucro…

Enquanto isso, as produtoras bilionárias continuam a lucrar com streaming e abandonam o trabalhador que está no front de batalha. Não apoiam os cinemas que traziam o grosso dos seus lucros, não criaram um fundo de apoio aos trabalhadores da indústria que estão sem emprego, não fizeram doações expressivas para o apoio da população em geral que está sofrendo no meio da pandemia. Entretanto, os acionistas e diretores dos estúdios deitam e rolam em montanhas de dinheiro. Esperam que o consumidor sedento por entretenimento tire dinheiro do bolso para ver filmes requentados com um verniz moral de suporte àqueles que passam por necessidades e fome. 

Ao afirmar que enfiar 200 pessoas numa sala de cinema é o mesmo que pegar um ônibus lotado para ir ao trabalho podemos ver o objetivo de todo esse auê: grana. Uma campanha arrecadando dinheiro de grandes empresas e repassando para os mais afetado não lucraria. Estender a mão em ajuda dá a impressão que ainda estamos no meio do caos e não às portas da normalidade como todos querem que estejamos. Esse campo de distorção de realidade pode ser aprovado pela publicidade, mas ele é facilmente rachado quando se encontra com leitores atentos. Isso tudo não vai ajudar ninguém, só vai expor milhares de trabalhadores a um vírus mortal e tirar as contas do vermelho.

Estafa

Além de toda a questão social e ética de abrir cinemas no meio da maior crise sanitária dos últimos 100 anos, temos que nos deparar com uma seleção de blockbusters e “clássicos” que já se repetiram à estafa. Apenas cinco filmes nacionais, nenhum documentário, nenhum filme com escopo social, nenhum filme de fora das Américas, nenhum filme diferente. Enfim, uma curadoria genérica de filmes que vão lucrar ainda mais do que já lucraram. 

Essa lista óbvia e batida do Festival De Volta Para o Cinema só mostra a (quase total) desconexão da produção do festival com a nossa realidade. Esse é o momento ideal de exibir outros filmes. Por exemplo, Uma Verdade Inconveniente (2006), 12 Anos de Escravidão (2013), Infiltrado na Klan (2018), Aquarius (2016), Terra em Transe (1967), Roma (2018), Carandiru (2003), Bacurau (2019) e tantos outros.

O que acontece é que nos vemos encalhado com esses cinco títulos:

Turma da Mônica – Laços (2019)

O Palhaço (2011)

Até que a Sorte nos Separe (2012)

Fala Sério, Mãe (2017)

Minha Mãe é uma Peça (2013)

O que eles têm em comum?

Pense nos produtores e distribuidores, temos dois colossais nomes inomináveis. Ambos com poder o suficiente para tirar esse texto acusador e jocoso do ar, ambos com dinheiro na banca para segurar cinco meses sem renda de exibições, com contatos e contratos do governo o suficiente para não precisar se coçar enquanto a pandemia se alonga. 

Três desses títulos são uma cópia perfeita da comédia familiar banalizada a décadas com a sua falta absoluta de objetivo e fórmula imbecilizante que se tornou tão lucrativa. O público em geral menospreza o cinema nacional por esse engessamento criativo. Os filmes de maior sucesso saem das mesmas formas, tratam da vida da classe média que procura ascensão social e econômica, fetichizam e fazem graça dos pobres. Além disso, apresentam uma ideia romantizada da vida suburbana, retratam as classes mais ricas bidimensionalmente. Essa ultra simplificação da vida do cidadão comum é uma anedota das nossas próprias vidas. Teimamos em nos ver nas mesmas situações e problemas, por mais ridículos e inverossímeis que sejam. Enfim, essa farsa é o que nos apresentam como a vida real, e o público engole à seco sem um gole de pensamento crítico.

Realidade

Nas raras vezes em que um filme diferente estreia temos um sucesso estrondoso. Comparável aos maiores títulos exportados de Hollywood; todos lembramos dos barulho que Tropa de Elite, Ônibus 174 e Central do Brasil fizeram. Esses outros três filmes nos levam fitar as nossas realidades. Os três mostram uma história realista e crua que poderia facilmente ocorrer em qualquer grande cidade brasileira (mesmo sabendo que foram no Rio de Janeiro, mas isso não vem ao caso). Afinal, ao mostrar a nossa realidade bruta e autêntica podemos realmente ver como é o Brasil, como a dramaturgia se encaixa muito mais com o ethos conformado, maltratado, com síndrome de vira-lata, porém perseverante do brasileiro. Filmes classe-média que mostra famílias brancas enriquecendo por mágica não mostram o Brasil, mostram uma bela ilusão, como se ela fosse acessível para todos.

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Cinema

Confira alguns destaques do Festival do Rio 2023

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Foto do ator Aílton Graça, o principal de 'Mussum, O Filmis’ que está entre os destaque do festival do rio 2023. Ele usa boné verde e camisa verde e rosa.

Um dos melhores eventos do calendário carioca, que movimenta cinéfilos de todo o Brasil, o Festival do Rio 2023 vai de 5 a 15 de outubro. Serão mais de 200 filmes, tanto nacionais quanto internacionais. Sendo assim, separamos alguns dos destaques do Festival do Rio 2023, para quem tem dificuldade em escolher entre tantos bons filmes.

A princípio, indico o documentário “Othelo, O Grande”, dirigido por Lucas H. Rossi dos Santos, o qual faz sua estreia mundial na Mostra Competitiva da Première Brasil do Festival do Rio, no dia 13 de outubro, às 17h, no Estação Net Gávea. O filme revela ao grande público e apresenta para as novas gerações as facetas do artista. Otelo trabalhou com cineastas como Orson Welles, Joaquim Pedro de Andrade, Werner Herzog, Júlio Bressane, Marcel Camus e Nelson Pereira dos Santos, entre tantos outros e usou esse espaço para moldar sua própria narrativa e discutir o racismo institucional que o assombrou por oito décadas, duas ditaduras e mais de uma centena de filmes.  

Narrado em primeira pessoa e utilizando imagens de arquivo, o filme é produzido pela Franco Filmes, em coprodução com Globo Filmes, GloboNews, Canal Brasil, RioFilme e Baraúna Filmes, e conta com distribuição da Livres Filmes. 

Sessões: 

Estação Net Gávea, dia 13/10, sexta-feira, às 17h. 

Odeon, dia 14/10, sábado, às 10h30, seguida de debate. 

Sessões com a presença do diretor Lucas H. Rossi, do produtor Ailton Franco Jr. e equipe. 

Já dentro de Clássicos & Cults, um dos melhores filmes chineses:

Adeus, Minha Concubina (Ba Wang Bie Ji), dir: Chen Kaige.
Com: CHEUNG Leslie, ZHANG Fengyi, GONG Li, GE You.
Sinopse: Cheng Dieyi e Duan Xiaolou crescem suportando o duro treinamento da escola da Ópera de Pequim. À medida que os meninos amadurecem, eles desenvolvem talentos complementares: Dieyi, com suas características delicadas, assume os papéis femininos; Xiaolou interpreta os militares viris. Suas identidades dramáticas se tornam reais para Dieyi quando ele se apaixona por Xiaolou, que não retribui seus sentimentos e se casa com uma cortesã. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e indicado ao Oscar.
China, Hong Kong. 171 min. Class: 14. Eletrônica em Português.
07/10/2023 – Estação NET Botafogo 1 – 17:40
12/10/2023 – Estação NET Gávea 5 – 13:50
18/10/2023 – Estação NET Botafogo 1 – 21:00

Na nova mostra Especial Séries Brasileiras:

Resistência Negra (Resistência Negra), dir: Mayara Aguiar.
Com: Larissa Luz, Djonga.
Sinopse: A série narra a resistência negra brasileira, desde a chegada ao Brasil dos primeiros africanos sequestrados no período das Grandes Navegações, até 2022, quando a Lei de Cotas entra em revisão após uma década de sua sanção.
BRASIL. 80 min. Class: L. Sem legenda.
13/10/2023 – Cine Odeon – CCLSR – 21:45

Por outro lado, em Itinerários Únicos:

EGILI – Rainha Retinta no Carnaval (EGILI – Rainha Retinta no Carnaval), dir: Caroline Reucker.
Com: Egili Oliveira.
Sinopse: Egili Oliveira se prepara para o Carnaval 2022 no Rio de Janeiro. Ela participa da competição da segunda divisão do Carnaval carioca (série Ouro). É um longo e árduo caminho até que a sambista se transforme em uma deslumbrante rainha: a rainha de bateria da escola de samba Acadêmicos de Vigário Geral. A história de uma mulher preta e poderosa, que, aos 42 anos, ainda luta por seu lugar na sociedade brasileira e no Carnaval.
BRASIL. 81 min. Class: L. Português.
12/10/2023 – Estação NET Rio 4 – 16:30
13/10/2023 – Estação NET Gávea 4 – 14:45
14/10/2023 – Kinoplex São Luiz 2 – 14:00

Panorama Mundial

DogMan (DogMan), dir: Luc Besson.
Sinopse: A incrível história de um menino que foi ferido pela vida e que encontra a salvação através de seu amor pelos cães. Exibido no Festival de Veneza 2023.
França, Estados Unidos. 118 min. Class: 16. Eletrônica em Português.
07/10/2023 – Kinoplex São Luiz 2 – 19:00
11/10/2023 – Estação NET Rio 4 – 21:00
14/10/2023 – Estação NET Gávea 3 – 16:00

Confira mais alguns em seguida:

PREMIÈRE BRASIL: COMPETITIVA LONGAS – FICÇÃO

“Sem Coração”

  • Direção: Nara Normande e Tião
  • Sessões: Estação Net Gávea (06/10 às 21h45) e Cine Odeon (07/10 às 16h30, seguida de debate)
  • Sinopse: “Sem Coração” se passa no litoral de Alagoas em 1996 e conta a história de Tamara, que fica intrigada com uma adolescente chamada “Sem Coração” devido a uma cicatriz em seu peito. O filme explora a atração crescente de Tamara por essa misteriosa jovem.

“O Mensageiro”

  • Direção: Lúcia Murat
  • Sessões: Estação Net Gávea (08/10 às 19h15) e Cine Odeon (09/10 às 13h30, seguida de debate)
  • Sinopse: Durante a ditadura no Brasil, em 1969, um soldado chamado Armando concorda em entregar uma mensagem de uma presa política para sua família. O filme aborda as relações afetivas em tempos turbulentos.

“A Festa de Léo”

  • Direção: Luciana Bezerra e Gustavo Melo
  • Sessões: Estação Net Gávea (09/10 às 21h45) e Cine Odeon (10/10 às 16h00, seguida de debate)
  • Sinopse: Rita planeja a festa de 12 anos de seu filho, mas descobre que o dinheiro foi roubado por seu marido. Ela precisa encontrar o dinheiro para salvar seu marido e realizar o sonho de seu filho.

PREMIÈRE BRASIL: RETRATOS

“Nelson Pereira dos Santos – Vida de Cinema”

  • Direção: Aída Marques e Ivelise Ferreira
  • Sessão: Estação Net Botafogo 1 (10/10 às 19 horas)
  • Sinopse: Este documentário apresenta a vida e obra de Nelson Pereira dos Santos, pioneiro do Cinema Novo. É uma oportunidade única de conhecer um dos maiores cineastas brasileiros.

“Peréio, Eu te Odeio”

  • Direção: Tasso Dourado e Allan Sieber
  • Sessões: Estação Net Botafogo 1 (08/10 às 16h30) e Estação Net Rio 2 (12/10 às 17h)
  • Sinopse: Este documentário aborda a vida do ator Paulo César Peréio de uma forma bem-humorada e não convencional, explorando sua carreira e personalidade controversa.

PREMIÈRE BRASIL: HORS CONCOURS

“Mussum, O Filmis”

  • Direção: Silvio Guindane
  • Sessão: Cine Odeon (12/10 às 19 horas)
  • Sinopse: “Mussum, O Filmis” conta a história de Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, indo além do humorista de “Os Trapalhões”. O filme oferece uma visão única do legado de Mussum.

“O Diabo na Rua, no Meio do Redemunho”

  • Direção: Bia Lessa
  • Sessões: Cine Odeon (08/10 às 19h30) e Estação Net Rio (09/10 às 18h30, seguida de debate)
  • Sinopse: Inspirado na obra-prima de Guimarães Rosa, o filme segue a jornada do jagunço Riobaldo em meio a guerras e dilemas morais no sertão nordestino.

COPRODUÇÕES COM O BRASIL

“Puan”

  • Direção: María Alché & Benjamín Naishtat
  • Sessões: Reserva Cultural Niterói, Estação Net Botafogo 1, Estação Net Gávea 1, Kinoplex São Luiz 1
  • Sinopse: “Puan” apresenta a história de Marcelo, um professor de filosofia que compete por uma cadeira universitária em um ambiente político instável, explorando suas lutas e desafios.

Os ingressos estarão disponíveis para compra a partir desta segunda-feira, 2 de outubro, no site da Ingresso.com. Durante o Festival, também será possível adquiri-los diretamente nas bilheterias dos cinemas.

Afinal, confira a programação completa em https://www.festivaldorio.com.br/br/o-festival/festival-do-rio

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