Cinema
Os erros do Festival De Volta Para o Cinema | Por Felipe Novoa
Publicado
3 anos atrásem
Por
Felipe Novoa
Vinte e seis filmes (vinte e um internacionais), mais de mil salas de exibição e provavelmente centenas de infecções e mortes por Covid-19. Estes são os números do Festival De Volta Para o Cinema, idealizado pelo influencer Érico Borgo, que vai estrear em 15 dias.
Por mais que este Festival De Volta Para o Cinema tenha como objetivo jogar uma boia para a indústria do cinema, o que acontece é que essa boia vem revestida de chumbo. A larga expansão da pandemia no Brasil não para, e não temos uma previsão de melhora. Mesmo mesmo assim a classe empresária empurra uma reabertura precoce quando deveríamos estar num momento de lockdown completo. Enfim, o descaso dos realizadores com a vida dos funcionários dos cinemas, da equipe de limpeza e dos próprios clientes é desumano.
Lucro…
Enquanto isso, as produtoras bilionárias continuam a lucrar com streaming e abandonam o trabalhador que está no front de batalha. Não apoiam os cinemas que traziam o grosso dos seus lucros, não criaram um fundo de apoio aos trabalhadores da indústria que estão sem emprego, não fizeram doações expressivas para o apoio da população em geral que está sofrendo no meio da pandemia. Entretanto, os acionistas e diretores dos estúdios deitam e rolam em montanhas de dinheiro. Esperam que o consumidor sedento por entretenimento tire dinheiro do bolso para ver filmes requentados com um verniz moral de suporte àqueles que passam por necessidades e fome.
Érico Borgo feelings! pic.twitter.com/OQZb0v4dsD
— Jackson Leocádio (@jackdoorspider) August 18, 2020
Ao afirmar que enfiar 200 pessoas numa sala de cinema é o mesmo que pegar um ônibus lotado para ir ao trabalho podemos ver o objetivo de todo esse auê: grana. Uma campanha arrecadando dinheiro de grandes empresas e repassando para os mais afetado não lucraria. Estender a mão em ajuda dá a impressão que ainda estamos no meio do caos e não às portas da normalidade como todos querem que estejamos. Esse campo de distorção de realidade pode ser aprovado pela publicidade, mas ele é facilmente rachado quando se encontra com leitores atentos. Isso tudo não vai ajudar ninguém, só vai expor milhares de trabalhadores a um vírus mortal e tirar as contas do vermelho.
Estafa
Além de toda a questão social e ética de abrir cinemas no meio da maior crise sanitária dos últimos 100 anos, temos que nos deparar com uma seleção de blockbusters e “clássicos” que já se repetiram à estafa. Apenas cinco filmes nacionais, nenhum documentário, nenhum filme com escopo social, nenhum filme de fora das Américas, nenhum filme diferente. Enfim, uma curadoria genérica de filmes que vão lucrar ainda mais do que já lucraram.
Essa lista óbvia e batida do Festival De Volta Para o Cinema só mostra a (quase total) desconexão da produção do festival com a nossa realidade. Esse é o momento ideal de exibir outros filmes. Por exemplo, Uma Verdade Inconveniente (2006), 12 Anos de Escravidão (2013), Infiltrado na Klan (2018), Aquarius (2016), Terra em Transe (1967), Roma (2018), Carandiru (2003), Bacurau (2019) e tantos outros.
O que acontece é que nos vemos encalhado com esses cinco títulos:
Turma da Mônica – Laços (2019)
O Palhaço (2011)
Até que a Sorte nos Separe (2012)
Fala Sério, Mãe (2017)
Minha Mãe é uma Peça (2013)
O que eles têm em comum?
Pense nos produtores e distribuidores, temos dois colossais nomes inomináveis. Ambos com poder o suficiente para tirar esse texto acusador e jocoso do ar, ambos com dinheiro na banca para segurar cinco meses sem renda de exibições, com contatos e contratos do governo o suficiente para não precisar se coçar enquanto a pandemia se alonga.
Três desses títulos são uma cópia perfeita da comédia familiar banalizada a décadas com a sua falta absoluta de objetivo e fórmula imbecilizante que se tornou tão lucrativa. O público em geral menospreza o cinema nacional por esse engessamento criativo. Os filmes de maior sucesso saem das mesmas formas, tratam da vida da classe média que procura ascensão social e econômica, fetichizam e fazem graça dos pobres. Além disso, apresentam uma ideia romantizada da vida suburbana, retratam as classes mais ricas bidimensionalmente. Essa ultra simplificação da vida do cidadão comum é uma anedota das nossas próprias vidas. Teimamos em nos ver nas mesmas situações e problemas, por mais ridículos e inverossímeis que sejam. Enfim, essa farsa é o que nos apresentam como a vida real, e o público engole à seco sem um gole de pensamento crítico.
Realidade
Nas raras vezes em que um filme diferente estreia temos um sucesso estrondoso. Comparável aos maiores títulos exportados de Hollywood; todos lembramos dos barulho que Tropa de Elite, Ônibus 174 e Central do Brasil fizeram. Esses outros três filmes nos levam fitar as nossas realidades. Os três mostram uma história realista e crua que poderia facilmente ocorrer em qualquer grande cidade brasileira (mesmo sabendo que foram no Rio de Janeiro, mas isso não vem ao caso). Afinal, ao mostrar a nossa realidade bruta e autêntica podemos realmente ver como é o Brasil, como a dramaturgia se encaixa muito mais com o ethos conformado, maltratado, com síndrome de vira-lata, porém perseverante do brasileiro. Filmes classe-média que mostra famílias brancas enriquecendo por mágica não mostram o Brasil, mostram uma bela ilusão, como se ela fosse acessível para todos.
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Crítico/fotógrafo. Atualmente focando na graduação em jornalismo e escrevendo muito.

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Cinema
Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas, com Cida Bento e Daniel Munduruku | Assista aqui
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Publicado
8 horas atrásem
24 de março de 2023
Na última quinta-feira (23), fomos convidados para o evento de lançamento do curta-metragem Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku. Aconteceu no Museu da República, no Rio de Janeiro.
Após a exibição um relevante debate ocorreu. Com mediação de Thales Vieira, estiveram presentes Raika Moisés, gestora de divulgação científica do Instituto Serrapilheira; Luiz Augusto Campos, professor de Sociologia da UERJ e Carol Canegal, coordenadora de pesquisas no Observatório da Branquitude. Ynaê Lopes dos Santos e outros que estavam na plateia também acrescentaram reflexões sobre epistemicídio.
Futura série?
O filme é belo e necessário e mereceria virar uma série. A direção de Fábio Gregório é sensível, cria uma aura de terror, utilizando o cenário, e ao mesmo tempo de força, pelos personagens que se encontram e são iluminados como verdadeiros baluartes de um saber ancestral. Além disso, a direção de fotografia de Yago Nauan favorece a imponência daqueles sábios.
O roteiro de Aline Vieira, com argumento de Thales Vieira, é o fio condutor para os protagonistas brilharem. Cida Bento e Daniel Munduruku, uma mulher negra e um homem indígena, dialogam sobre o não-pertencimento naquele lugar, o prédio da São Francisco, Faculdade de Direito da USP. Um lugar opressor para negros, pobres e indígenas.
Jacinta
As falas de ambos são cheias de sabedoria e realidade, e é tudo verdade. Jacinta Maria de Santana, mulher negra que teve seu corpo embalsamado, exposto como curiosidade científica e usado em trotes estudantis no Largo São Francisco, é um dos exemplos citados. Obra de Amâncio de Carvalho, responsável por colocar o corpo ali e que é nome de rua e de uma sala na USP.
Aliás, esse filme vem de uma nova geração de conteúdo audiovisual voltado para um combate antirracista. É o tipo de trabalho para ser mostrado em escolas, como, por exemplo, o filme Rio, Negro.
Por fim, a parceria entre Alma Preta e o Observatório da Branquitude resultaram em uma obra pontual para o entendimento e a mudança da cultura brasileira.
Em seguida, assista Nenhum saber para trás:
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