A escritora moçambicana Paulina Chiziane foi a primeira mulher de seu país e dos países lusófonos de África a ganhar o Prêmio Camões. A vencedora da edição de 2021 foi também a primeira de seu país, rico em prosa e poesia, a publicar um romance. Entenda o significado dessa premiação e conheça Chiziane.
Por que não conheço Paulina Chiziane?
Quando se fala em língua portuguesa, é muito comum que venha a nossa mente a dualidade Brasil e Portugal. Porém, o que poucos sabem é que a nossa língua é muito mais ampla e rica, pois ela é também o idioma oficial de alguns países do Continente Africano. Presente em Moçambique, Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, a língua portuguesa não é só falada, mas é também transformada em Literatura por sua gente.
Infelizmente, por diversos preconceitos existentes em nossa sociedade, o mercado editorial é muito fechado aos autores desses países africanos. Se alguns nomes como Mia Couto, Pepetela, Agualusa, Ondjaki conseguem quebrar barreiras e serem reconhecidos em nosso continente, muitos outros acabam tendo de enfrentar dificuldades ainda maiores e, pois isso, não conseguem chegar ou se estabelecer aqui da mesma maneira. Muito provavelmente por esse motivo você não conhecia Paulina Chiziane e não conheça muitos outros nomes de qualidade como o dela.
De fato, a realidade desse mercado já foi muito pior, mas é preciso que sempre nos lembremos dela, pois a nossa cultura perde muito com essas restrições aos autores africanos de expressão portuguesa.
Prêmio Camões de Literatura
O Prêmio Camões surgiu em 1988 e é o maior prêmio de Literatura de Língua Portuguesa. Ele tem como propósito consagrar autores lusófonos que, com base no conjunto de sua obra, tenham contribuído para o patrimônio cultural e literário da língua portuguesa.
Este ano com Chiziane, o prêmio já foi dedicado a 32 autores; em sua maioria portugueses e brasileiros – pois, ainda que muita coisa tenha mudado, o problema não é só o mercado. E é claro que seria leviano da nossa parte dizer que eles foram os únicos autores a enriquecerem nosso patrimônio, mas o fato de receberem essa premiação demonstra o poder expressivo de sua escrita.
Paulina Chiziane
A vencedora desse ano, Paulina Chiziane, é moçambicana nascida na vila Manjacaze em 1955. Cresceu pelos mais simples bairros de Maputo, capital de seu país. Ao longo dos seus 66 anos, lutou e ainda luta por seu povo e pelas mulheres de Moçambique, tanto na escrita, como na vida prática.
Chiziane publicou seu primeiro livro em 1990, “Balada de amor ao vento”. Assim seguiu na vida literária, publicando também os títulos “Ventos do apocalipse”, “O sétimo juramento”, “As andorinhas”, “Eu, mulher: por uma nova visão do mundo”, “Ngoma Yethu: o curandeiro e o Novo Testamento”. No Brasil, conseguimos encontrar seu livro de maior sucesso, “Niketche: uma história de poligamia”, pela Companhia das Letras, e “O alegre canto da aprendiz”, pela Dublinense.
Em síntese, leia Paulina Chiziane e lute pelo espeço dos autores africanos lusófonos em nosso país.
Fala de Paulina Chiziane sobre o prêmio, transmitida pela Euronews:
Créditos de imagem: divulgação