João Mantuano é um músico da nova geração da MPB que faz parte do selo Porangareté, uma herança de Cássia Eller. Na última quinta-feira (30), o compositor, poeta, intérprete e violonista, apresentou pela primeira vez seu show “Por Onde Anda o Tempo”, no Centro Música Carioca Artur da Távola, na Tijuca (RJ). João, inclusive, já deu entrevista exclusiva para o Vivente Andante. Ouça acima.
Porém, vamos falar dessa noite especial. Na chegada, um pouco antes das 20h, o tempo fechou, o céu começou a piscar, e as trovoadas estrondavam. Em mais um dia de calor carioca, chegava a hora do tradicional temporal. Aliás, ainda pude ver Daíra, em seu vestido brilhante, correndo para se proteger enquanto os grossos pingos iniciavam sua incessante queda. Devido ao clima parte do público se atrasou, mas João postergou o início visando aguardar aqueles que enfrentavam a tempestade.
Dentro do Centro da Música Carioca Artur da Távola, no teatro onde ficava o palco, parecia outra dimensão. Ou seja, não se escutava a chuva, e ninguém sabia da falta de luz nos bairros, nas árvores partidas por raios, das enchentes que tomavam conta da cidade. Naquela casa cultural parecia haver um universo paralelo onde somente a música de João importava. Por onde anda o tempo? Lá fora, um temporal destrutivo; dentro ali, um pequeno sol. E lá, si, dó, ré, mi, fá. A harmonia do show contrastava com o caos que ocorria na Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Blues, folk e Sérgio Sampaio
Mantuano é jovem e bebe muito na fonte de Raul Seixas e Sérgio Sampaio, com mais foco nesse último. Realmente, em muitas de suas canções, é possível lembrar da bela obra de Sampaio. Certamente, agora é a vez de João mostrar sua arte, que tem um estilo bem blues, meio folk, às vezes jazz. Tendo conhecido esse rapaz pessoalmente, pude perceber seu amor pela música. É onde sua dispersão ganha foco e o garoto vira homem.
Inicialmente, João declamou: “Eu sou uma pessoa tão boa, boa, eu sou um cara fiel, mas isso pode ser cruel…”, seguida pelo último lançamento dele, “Televisão”, em uma iluminação verde, lilás e azul, colorindo aquele momento único. “Eu sou sentimental…”, cantava. Realmente, João tem esse ar. A canção é divertida, refletindo sobre o tempo e essa ferramenta audiovisual tão presente na sociedade. “Finalmente, finalmente mesmo, são dez anos de trabalho que estou mostrando para vocês agora”, disse o cantor, humildemente.
Bons amigos: Júlia Vargas, Daíra e Chico Chico
Logicamente, alguns de seus parceiros não poderiam ser esquecidos. Veio então Daíra para um dueto com “Tanto Tempo”. A cantora firmou sua presença, dançando e cantando com desenvoltura, claramente feliz por estar participando do show de seu amigo. “Ele está onde deve estar. Junto desses parceiros maravilhosos, no palco, nesse lançamento lindo”, disse Daíra. Sendo assim, seguindo com as participações, João convocou seu grande amigo, irmão camarada, de tantos shows e jornadas: Chico Chico. Juntos cantaram “Entre Prédios”. Inclusive, nessa hora, uma aura de amizade sincera tomou conta do palco nesse belíssimo dueto de almas musicais.
Logo após, Chico sai e entra Júlia Vargas, com sua técnica vocal apurada de sempre. Mais uma canção com sua banda e João finalizou o show. Contudo, ecoaram pedidos de bis e João cantou “Vem”. Enfim, o público aplaudiu de pé e pediu bis de novo. “Por Onde Anda o Tempo” foi a resposta e Mantuano chamou todas as participações da noite para cantarem uma do compositor Posada, na qual diz que “a musica é minha religião”. Recado entendido.
Afinal, ao sair da bela apresentação, já não chovia. Pela cidade, resquícios dos estragos. Muitas folhas e galhos, sujeira, trânsito, ruas alagadas. Inclusive, o bairro da Tijuca foi um dos mais afetados, com diversas vias bloqueadas com quedas de árvores. Segundo o Centro de Operações Rio, ao todo, 50 árvores caíram na cidade por causa da ventania. Todavia, no olho do furacão, nada disso foi visto. Nesse local a única chuva foi de aplausos: para o novo tempo de João Mantuano.
*veja outras fotos do show no instagram @viventeandante e siga 🙂