“Vidas provisórias” é um romance ficcional de Edney Silvestre que centra sua narrativa nas histórias de dois personagens, Paulo e Barbara. Ambos vivem vidas diferentes, em países diferentes, em tempos distintos, mas carregam em comum o fato de serem brasileiros que se veem fora de rota ao terem de abandonar seu país e passar a levar seus viveres de maneira temporária, ou seja, em vidas provisórias. Porém, a situação deles se torna ainda mais crônica, ao ponto do provisório se tornar cada vez mais definitivo.
A história de Paulo começa a ser narrada no ano de 1974, em Estocolmo, durante a ditadura militar brasileira; já a narrativa de Barbara tem seu start em 1991, em Atlanta, período em que o Brasil era governado por Fernando Collor de Mello. Os fatos históricos dessas duas épocas permeiam a ficção nos apresentando a realidade de exilados e comunidades de imigrantes ilegais. Assim, as histórias se desenham através dos sentimentos de medo e angústia; o medo constante de ser descoberto, que reside em toda esquina, e a angústia das incertezas de cada dia, ambos os sentimentos transpassados por uma saudade, na maioria das vezes silenciosa, de retornar ao conforto da própria pátria.
Trabalho gráfico e documental
As histórias dos personagens se intercalam ao longo de todo livro, as duas dão saltos no tempo e, além da divisão geográfica, têm suas diferenças muito bem trabalhadas graficamente. A marcação dos capítulos é feita como se fossem dois livros, “O livro de Paulo” e “O livro de Barbara”. Todo o livro de Paulo é escrito em letra preta e com o texto recuado nas laterais – à esquerda nas páginas ímpares e à direita nas pares –, diferente do livro de Barbara, que é escrito em letra azul e, em lugar do recuo nas laterais, tem a margem inferior das folhas maior que a superior.
As narrativas de “Vidas provisórias”, apesar de ficcionais, são o resultado de muita pesquisa. Ao final da edição, nos agradecimentos, temos contato com os nomes de amigos que compartilharam, não apenas suas experiências, mas vestígios delas, como bilhetes, notas, diários, para que as histórias de Paulo e Barbara fossem construídas. Além das vivências particulares do autor, que inclusive sofreu detenção no período da ditadura, e outros livros que abordam os períodos em que as histórias da obra se passam.
Sobre o autor
Edney Silvestre é escritor e jornalista. Brasileiro nascido em Valença-RJ, é autor dos títulos “Se eu fechar os olhos agora” (2009) e “A felicidade é fácil” (2011), que, apesar de não formarem uma trilogia, se desdobram em “Vidas provisórias” (2013) – este publicado pela Editora Intrínseca –; e autor também do livro “O último dia da inocência” (2019). Foi apresentador do programa “GloboNews Literatura”.
Em suma, “Vidas provisórias” é um bom livro, que, mais que pela história, carrega o leitor pela dimensão psicológica dessas personagens curiosas, de vidas extremamente sofridas, e pela linguagem de Edney Silvestre, que brinca com essas dimensões, através de repetições, pontuação, línguas diferentes e um narrador sagaz, que intercalam os acontecimentos e fluxos de consciências.