Dirigido por James Gunn, Superman é um filme que dividirá o público, se tornando um esquenta para os motores de um universo vindouro
Seth Rogen já disse que filmes da Marvel e da DC não são para ele, pois, são voltados para crianças. Apesar do comentário radical da parte do produtor executivo de séries como The Boys (2019, Eric Kripke), é inegável que sim, da mesma forma que os contos de fadas, em sua base, histórias em quadrinhos são voltadas para o público jovem, afinal a história de um homem que voa com a cueca por cima da calça, não é algo que foi imaginado para o público adulto, porém, ele venceu o teste do tempo, tornando-se muito mais relevante e profundo do que em seu inicio e subvertendo, por conta de sua potência e simbolismo, qualquer noção de idade.
Surgido em 1938, Superman se mantém relevante como um símbolo de esperança, apesar de não ser tão admirado quanto deveria, por conta de sua personalidade majoritária de “escoteiro”, na medida que o público opta por personagens mais dúbios e complexos como Batman e Homem-Aranha, porém, o modo de vida de Superman, é algo a se admirar, afinal, como dito por Lois Lane no quadrinho Superman for All Seasons (1998, Jeph Loeb): “Ele pode fazer qualquer coisa que quiser. E escolhe o quê? Ser um herói?”. Sim, mesmo com todo este poder, escolhe ser o maior dos heróis. Um fato que James Gunn demonstra com maestria em sua visão do Homem de Aço.
Confira abaixo o trailer de Superman e continue lendo a crítica
Como ponto de partida para uma nova fase da DC intitulada “Deuses e Monstros”, Superman apresenta uma grandiosidade que nenhum de seus outros filmes apresentava, afinal, na missão de introduzir o Kryptoniano em um universo já em andamento, Gunn não perde tempo em colocar o herói direto na ação, o fazendo perder uma batalha logo na primeira cena, especificando que este Superman ainda é recente, não apresentando tanto controle, e consciência e si, quanto aquele que acompanhamos nos quadrinhos ou em outras produções prévias, incluindo a versão mais estoica presente em Homem de Aço (2013, Zack Snyder).

Superman e Krypto em cena de Superman- Copyright 2025 Warner Bros. Entertainment. All Rights Reserved. TM & DC
O Superman de David Corenswet ele é o símbolo da bondade, se preocupando em plena batalha contra um Kaiju, com o bem estar de um esquilo, e dando um tempo na batalha para perguntar se os cidadãos do prédio destruído estavam bem, esta é a base do herói desde sua criação.
Apesar de taxado como uma ameaça pela mídia, Superman continua bom e otimista, sendo o mais fiel aos quadrinhos desde a versão de 1978 com Christopher Reeve, Superman – O Filme (1978, Richard Donner), sendo a produção uma inspiração clara à Gunn que, como novo chefe da DC, apresentava a difícil missão de não somente introduzir o conhecido personagem, mas, construir as pilastras para as próximas produções que ainda virão.
Ele não apresentava uma missão fácil, afinal, introduzir: Lex Luthor, Supergirl, Lois Lane, Pacificador, Guy Gardner, Mulher Gavião, Metamorfo, Senhor Incrível, Krypto, Jonathan Kent, Martha Kent, Jor-El, Lara Von-Van, os robôs de Superman All-Star (2005, Grant Morrison), Maxwell Lord, sem faltar o peso da difícil jornada de contar dentro deste mar de personagens, uma história poderosa e gratificante de Superman, que não somente satisfaça o público e crítica, mas, principalmente os executivos da Warner Bros Studios, famosos por cancelar, e interferir, em produções que não são do seu agrado.
Superman é uma produção que será divisiva para o público que pode considerar a leveza e absurdos narrativos, como o bebê de Metamorfo, Krypto como um deus ex-machina, ou o fato de Lex Luthor aprisionar as ex namoradas em uma prisão extra dimensional, como algo ridículo, porém, dentro do universo de quadrinhos em que homens podem voar, é extremamente verossímil, agora, se considerarmos a questão do humor dentro do filme, aí é outra questão.
O humor de Gunn é característico desde seus primeiros trabalhos em produções como Scooby Doo (2002, Raja Gosnell), sendo infantilizado e exagerado, com uma metralhadora de piadas que alguma deve colar, porém, apesar de receptivo em produções como Guardiões da Galáxia (2014, James Gunn), ele é destoante dentro de uma produção sobre o maior herói de todos os tempos.
O diretor não consegue desvincular de seu estilo característico nem mesmo em um filme sobre o homem de Krypton, porém, o fato de este Superman ser o mais humano do que todas as suas versões anteriores, incluindo a de Reeves, auxilia na construção deste humor. O fato dele se irritar ao ser intimidado por Lois na entrevista, e ameaçar Lex após o rapto de Krypto, são características que não são encontradas na versão dos quadrinhos em que Superman é um deus, afinal, ao se procurar fidelidade, é encontrado um Superman mais cômico, imaturo e “fraco”, porém, no contexto da produção, estes momentos são traços de sua vida como terráqueo, e o mais próximo de nós como audiência.

Cena de Superman- Copyright 2025 Warner Bros. Entertainment. All Rights Reserved. TM & DC
A narrativa da produção gira em torno do plano de Lex Luthor para destruir a fama de protetor e guardião que o Homem de Aço tanto apresenta, sem deixar de lado seu objetivo secundário que é o de se tornar rei em seu próprio país, entrando uma forte questão de geopolítica, aprofundada demasiadamente no primeiro ato da produção, a ponto de cansar o espectador que não demora muito para perceber as semelhanças entre o conflito apresentado no filme, e a guerra ocorrendo atualmente entre Rússia e Ucrânia, em que um país com uma forte força militar, subjuga aquele que é defendido com “paus e pedras”.
Em certo ponto comecei a me perguntar para que esta aula tão grande de geografia, para no terceiro ato mostrar um grupo de crianças levantando uma bandeira, esperando um Superman que estava impossibilitado de aparecer no momento, por conta de conflitos maiores, porém, presenciamos o seu impacto de esperança, mesmo à distância, incentivando até mesmo os membros da Gangue da Justiça, a se preocuparem mais com as vidas civis, algo visto no inicio que não ocorria.
Após quase 90 anos de existência, o personagem se tornou muito mais do que inicialmente imaginado por Jerry Siegel e Joe Shuster, porém, a base do personagem foi mantida: sua bondade e seu símbolo como esperança, inspirando a humanidade a ser melhor do que jamais poderia ser, se preocupando desde com um esquilo, até com seu maior inimigo, buscando a justiça e o bem, sempre, isto que o tornou tão grandioso e eterno, seja entre jovens, adultos, idosos, ou recém nascidos. Todos adoram o Homem de Aço por conta de seu espírito, sendo um exemplo de homem perfeito, de príncipe encantado que jamais existiria, mas existe, trazendo a inveja de homens como Luthor.
Ame ou deixe, o filme de Gunn transmite este sentimento de esperança, provando uma adaptação fiel de seu personagem, com certas liberdades criativas que provavelmente serão construídas ao longo do futuro do DCU, que aparenta ser bem promissor.
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