Tantão nos alertou, e piorou. Início do ano sempre rola uma revisão do último amontoado de meses que formam o famoso ano. Dessa forma, em janeiro, no verão infernal do Rio de Janeiro, o carioca tenta de todas as formas arrumar um jeito de ir à praia aliviar o clima de inferno, mescla de sol e caos urbano que nos é familiar.
Mas 2021 é um ano que começa já diferente, ainda com pendências do ano que passou, com uma doença matando centenas de pessoas. Infelizmente o caos urbano é o mesmo, o calor infernal também, e, apesar das recomendações de isolamento social, as aglomerações seguem firme. Como resultado, temos um início de ano catastrófico
É nesse clima tenso que aproveito pra visitar – com algum atraso – um lançamento de novembro de 2020 que não só traz muito do sentimento do ano que passou, mas também se aplica à sensação do presente e talvez futuro.
Tantão e os Fita
Carlos Antônio Mattos, o Tantão, figura presente da Lapa, junta-se à Abel Duarte e Cainã Bomilcar para o terceiro registro da parceria. Lançado pelo selo QTV, famoso por lançar projetos experimentais e alternativos, o álbum foi lançado em novembro de 2020 e sintetiza um pouco do sentimento confuso do ano, e de certa forma adiantou o mês de janeiro, com o caos advindos das aglomerações de festas de fim de ano e suas consequências.
É o terceiro álbum do grupo que une a poesia de Tantão com a música eletrônica por vezes dançante, por outras angustiante. A linha segue coerente com os outros lançamentos do grupo. Tem a cara do Rio de Janeiro sendo bem diferente do esteriótipo carioca, o que traz uma aura de renovação forte!
“High Society da música eletrônica”
O som do álbum transita entre o eletrônico, industrial, noise e traz a poesia de Tantão dando seguidos tapas na cara! A sensação é de desconforto constante, até por isso me parece ser um ótimo retrato do ano. A metralhadora de barulhos não procura confortar, mas ao mesmo tempo dialoga com a cidade, dialoga com a sensação geral de piora.
Contudo, o diálogo com o funk e com a música dançante é bem presente! O funk é constante no disco, no meio de barulhos de sintetizadores nervosos a batida surge de forma alegre e contrastante, a “grande arte”. À essa mistura juntam-se samples de alarmes de carros, de sons de celular e sons da cidade. Assim cria uma linda confusão organizada.
Fod..-se A KU-KLUX-KLAN
Em “Jogação”, Tantão canta repetidas vezes “Foda-se a Ku-Klux-Klan!”, e o clima político do álbum é esse! Em “Hora do Brasil” declara que aqui é nós! “Pessoas do mal” dá o papo de que “tá mandado!”, além disso aconselha a todos manterem uma rota de fuga, pois se pá piora ainda mais!
Para fechar, a arte da capa traz uma pintura de Tantão feita por Pedro Barassi. A imagem de capa com Tantão gargalhando é, além de bonita, bem interessante para compor o clima do álbum!
Piorou e vai piorar!
O título é breve e direto. Piorou, e como Tantão alerta, Vai piorar, qualquer hora piora.
Como diz o ditado, “Nada é tão ruim que não possa piorar”
E não é que piorou?! Tá pior! 2021 começa com UTIs lotadas, contaminação em alta, mortes em alta, alta no preço da comida, alta nas concentrações de pessoas ignorando a calamidade pública, ignorando as mortes… piorou e vai piorar antes de melhorar.
O sentimento é que vem piorando tem tempos. Com certeza muitos de nós pensamos algumas vezes que o fundo tinha chegado e que daqui pra frente o único caminho possível seria subir. “Pior que tá não fica!” Pois ficou pior…
Enfim, o álbum está disponível nas plataformas de Streaming, no Youtube e no Bandcamp, onde é possível comprá-lo.
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